Resenha: Detetive Pikachu [COM SPOILERS]

Clara Dantas
4 min readJul 16, 2019

Assisti Detetive Pikachu e me surpreendi. Confesso que estava com o pé atrás, principalmente porque tinha minhas dúvidas quanto a escolha de Ryan Reynolds como dublador do Pikachu.

Bem, eu simplesmente AMEI o filme e decidi listar aqui os motivos. São eles:

1. Relação entre humanos e Pokémon

Apesar de ser uma grande fã de Pokémon, eu reconheço que a ideia de aprisionar esses seres, colecionando-os e usando-os em batalhas que envolvem interesses pessoais, não soa nada bem. Por isso, a primeira coisa que me encantou foi a apresentação de um novo conceito: o da parceria, livre e espontânea.

No vídeo que o protagonista Tim Goodman assiste durante a viagem rumo à Cidade de Ryme, é dito que “humanos primitivos costumavam capturar e treinar Pokémon”; ou seja, o filme dá a entender que esta é uma noção antiga e ultrapassada (mesmo que depois vejamos que ainda são feitas batalhas clandestinas).

Também nessa cena, Ryme é definida como “um lugar onde humanos e Pokémon podem viver em união”, isto é, os Pokémon são independentes, podem trabalhar e fazer suas próprias escolhas, sem a interferência de um treinador.

Se pararmos pra pensar, o próprio anime já dava sinais de que essa relação de amizade e cooperação é muito mais saudável do que a de posse. Prova disso é a ligação entre Ash e Pikachu.

Pikachu, que nunca aceitou entrar numa PokéBall, é justamente o Pokémon mais íntimo de Ash.

Curiosidade: além de não entrar na PokéBall, Pikachu, em determinado episódio, se recusa a usar a Thunder Stone para evoluir, simplesmente porque não tem vontade. Ele quer provar que é capaz de vencer um Raichu (sua forma evoluída) sem precisar do auxílio da pedra.

O fato de o filme evidenciar a importância dessa colaboração mútua, mostrando os personagens humanos sempre com um Pokémon ao lado, como AMIGO, me ganhou logo de cara.

2. Narrativa bem construída

Apesar de se passar no universo de Pokémon, as criaturinhas não são o foco do filme, mas sim a história de Tim. Ele recebe a notícia de que seu pai, Harry, um dedicado detetive, morreu em um acidente. Sua única pista é o Pikachu, que acordou na cena do crime, sozinho e sem lembrar de nada.

A investigação é realmente instigante. De um lado, temos um Pokémon com amnésia; do outro, um filho que não sabe nada sobre a vida do pai desaparecido. Vários suspeitos surgem ao longo do enredo — até o próprio Pikachu se torna um deles — e, por trás disso tudo, há uma subtrama envolvendo Mewtwo.

Em outras palavras, o roteiro é redondo.

3. Nostalgia e humor

Os Pokémon retratados são bastante fiéis aos jogos e anime. Suas especificidades são exploradas de uma forma bem divertida: como o Mr. Mime, que é um informante que só pode se comunicar através de mímica; ou o Psyduck, que deve se manter sempre calmo, para evitar um colapso nervoso e uma explosão súbita de seus poderes psíquicos; ou ainda quando Pikachu está arrasado, por achar que traiu o parceiro Harry, e canta a música tema de Pokémon aos prantos.

Dessa forma, o filme consegue equilibrar o mistério da trama com a leveza e a graça das referências.

Esse Snorlax bloqueando o trânsito foi hilário! Só uma Pokéflute poderia acordá-lo.

4. Representatividade

Tim Goodman também é um personagem do jogo Detetive Pikachu, cuja história é parecida com a do filme. Originalmente, um rapaz branco de olhos e cabelos castanhos.

Já no longa, Tim é negro. Essa mudança não foi à toa; precisamos reconhecer a relevância da escalação de Justice Smith para o papel. Afinal de contas, quantos negros têm tamanho destaque em filmes de aventura?

Comparação entre as aparências de Tim, no jogo e no filme.

5. Final

O grande spoiler é que Harry, o pai que Tim tanto procurava, estava o tempo todo ao lado dele, dentro do corpo do Pikachu desmemoriado.

O roteiro dá algumas pistas, como quando Pikachu faz piadas autodepreciativas sobre afastar as pessoas que mais ama (provavelmente se referindo ao filho, que naquele momento ele nem sequer lembrava).

Apesar de esperada, essa ainda é uma revelação emocionante. Admito que chorei, principalmente por lembrar dessa sequência em que Pikachu, ainda com amnésia (e, portanto, sem saber que ele mesmo é Harry) está consolando Tim, que acha que o pai está morto:

Na moral, tem como não se emocionar? Olha essa carinha!

Conclusão

Detetive Pikachu, definitivamente, vale muito a pena — tanto para quem cresceu nos anos 2000 e vivenciou toda a febre, desde o início; quanto para quem mergulhou nesse universo há pouco tempo, com a difusão do Pokémon GO.

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