10 designs de Beth Levine e seus impactos na moda
Texto desenvolvido para a matéria de projeto em calçados da FAAP ministrada pela professora Camila Fanchini Rossi
Histórico do Designer
Beth Levine (1914–2006) foi uma designer de calçados americana conhecida como “A primeira dama dos calçados”. Desenhou calçados dos anos 1940 a 1970, ganhando inúmeros prêmios e aclamações.
Elizabeth Katz nasceu em 1914, em Patchogue, Nova York. Ela era filha de imigrantes lituanos, donos de uma fazenda de gado leiteiro. Em 1930, muda-se para Manhattan e inicia sua carreira como modelo de pés, logo depois como stylist e por fim, chega ao cargo de designer chefe para I. Miller. Em 1944, Levine é contratada como designer de sapatos para outro fabricante e conhece seu futuro marido: Herbert Levine, que na época dirigia a empresa. Beth decide levar o nome do marido profissionalmente devido a indústria de design de sapatos ser majoritariamente masculina na época.
No ano de 1948, ela e seu marido decidem fundar o Herbet Levine Inc. Beth continuou fazendo o design dos sapatos enquanto Herbet cuidava da gestão da fábrica, vendas e marketing. Apesar de o nome de seu marido estar estampado na caixa de sapato, Beth era a verdadeira força criativa por trás da equipe, sendo a responsável pelos designs enquanto seu marido gerenciava os negócios e o marketing da empresa. Os sapatos Herbert Levine foram distribuídos em várias botiques e lojas de departamento sofisticas nos Estados Unidos e no Canadá. Os sapatos também se tornaram os primeiros americanos a serem vendidos fora da América e comercializados na Harrods em Londres e na Galeria Lafayette em Paris.
Beth Levine ficou conhecida como ‘A Primeira Dama do Design de Calçados Americanos’ por conta da sua proeminência na moda do século 20, e porque seus desenhos foram usados por 3 primeiras-damas americanas, Jackie Kennedy, Lady Bird Johnson e Pat Nixon. Além disso, sua clientela ainda incluía estrelas de cinema como Bette Davis, Marilyn Monroe, Ava Gardner, Lauren Bacall e cantoras como Liza Minelli, Barbra Streisand e Cher.
Marilyn Monroe usava os sapatos de Levine tanto na sua vida privada como pública. Em 1955, visitando Bement, Marilyn usou um par de Herbert Levine’s Spring-o-Lators, imortalizado por diversas fotos, tiradas pela fotojornalista Eve Arnold.
Em 1960, Nancy Sinatra usou botas de Levine para fotos publicitárias da sua famosa música ‘These Boots are Made for Walkin’ (1966). A demanda por botas saltou tanto depois das fotos, que a Saks Fifth Avenue abriu uma seção especial em seu departamento de calçados chamada ‘Beth’s Bootery’. Um dos grandes feitos do casal Levine, foi ter conseguido reintroduzir as botas no vestuário feminino.
Como uma verdadeira visionária, em 1954 é premiada pelo Neiman Marcus Fashion Award, em seguida, recebe o prêmio Coty American Fashion Critics’ Award duas vezes, a primeira em 1967 pelo design do salto sem parte de cima e a segunda vez em 1973.
Beth Levine colaborou com diversos designers como Halston, Geoffrey Beene e Bill Blass, criando sapatos para seus desfiles. Além disso, ainda fez o design de todos os sapatos das aeromoças da Braniff Airline’s, em 1965. Levine juntou-se ao estilista Emilio Pucci e ao designer têxtil Alexander Girard para ajudar a reformular um novo visual e estilo para a companhia aérea. A campanha apelidada de ‘The End of the Plain Plane’ revolucionaria as roupas da tripulação de companhias aéreas, com os uniformes projetados por Pucci que seriam combinados com as botas e sapatos de Levine.
Beth foi responsável por inúmeros designs inovadores como sapatos sem a parte de cima, botas de malha sem zíper, e introduziu o stiletto nos Estados Unidos. Sua maior influência é considerada a re-introdução das botas na moda feminina nos anos 60 e a popularização dos mules na América do Norte. O sapato Springolator, foi criado em 1965 e consiste em ser um mule em forma de stiletto. O sapato possui uma palmilha elástica projetada para criar tensão entre o sapato e a sola do pé, sendo possível andar sem o sapato escorregar e diminuindo o barulho ao andar característico do mule. Beth também foi uma grande experimentadora de materiais, alguns usados em seus designs foram: vinil, acrílico, plástico, penas, camurça, tecido, lycra, spandex, couro, entre outros.
Em 1975, o casal Levine fecha as portas de seu negócio devido à pressão da redução da qualidade e dos preços. Depois de fechar seu negócio, Beth continuou participando de desfiles de moda e dando conselhos aos designers sobre suas coleções. Em 2006, Beth Levine faleceu aos 91 anos devido ao câncer de pulmão.
Seleção de 10 modelos:
- Topless Shoes — 1958
Introduzido em 1957, o sapato ‘No-Shoe’ era um conceito único que reduzia o calçado ao seu elemento mais essencial — a sola. Levine utilizou de almofadas adesivas e um design mais teórico e abstrato para exercitar seu lado experimental ao retirar a funcionalidade do calçado e reduzindo-o à sua função primária.
- Peacock Feather Shoe — 1958
O Peacock Feather Shoe, sapato decorado com penas de pavão, foi exposto em uma vitrine da Tiffany’s em Nova York, ao lado de uma bolsa clutch de Jean Schlumberger. O sapato criado para a ocasião fez o triunfo das vendas no mercado, chamando a atenção do público por sua estética não convencional.
- Kabuki — 1959
Beth Levine projetou o sapato Kabuki em 1959, alguns anos depois que os Levine viajaram para a Ásia e o Oriente Médio. A sola incomum pretendia evocar o geta, os sapatos de madeira usados pelos artistas de kabuki japoneses. A inclinação para frente do sapato, juntamente com o salto flutuante, transmitem uma impressão de leveza, como se o sapato flutuasse. Levine criou muitas variações do Kabuki, muitas vezes em combinações de cores preto/branco ou preto/ouro.
- Cindarella — 1961
Explorando outros materiais sintéticos popularizados na década de 60, Beth passa a experimentar materiais como vinil, acrílico, laminado e plástico em seus sapatos. Seu sapato “Cindarella” de 1961 foi fabricado inteiramente de plástico transparente. Marcado como um dos primeiros sapatos transparentes que não tinham pregos à mostra em sua estrutura.
- Paper Twist — 1961
No mesmo ano, Beth também lança o Paper Twist, sapato com
um design apresentando tiras de papel laminado de cores vivas e dupla faces torcidas em redemoinhos requintados.
- On A Roll — 1964
“On A Roll”, foi um dos muitos designs inteligentes inventados por Beth Levine. O calcanhar é feito de pelica enrolada em uma espiral apertada, enquanto o gáspea estava disponível em couro ou tecidos de veludo.
- Spring-o-lators — 1965
As mules “Ballin’ The Jack”, também apelidadas de ‘Spring-o-Lator’, incorporavam uma faixa elástica interna que permitia ao usuário manter os sapatos firmemente calçados enquanto usavam meias, mesmo apesar da falta de tiras na lateral ou na parte de trás da calça. Para isso, o sapato possui uma palmilha elástica projetada para criar tensão entre o sapato e a sola do pé, sendo possível andar sem escorregar e reduzindo o barulho ao andar, característico dos mules.
- Barefoot in the Grass — 1966
O Barefoot in the Grass também foi lançado na década de 60, usando materiais inusitados e criativos. Uma palmilha de AstroTurf, utilizada para gramados, uma gáspea de vinil e um salto de criança verde foram utilizados para criar um dos modelos mais interessantes de Levine.
- Stocking Boots — 1967
Uma das maiores influências de Beth Levine no mundo do calçado foi a reintrodução das botas na moda feminina na década de 1960. Beth Levine redefiniu a bota como uma acessório de moda, passando a ser usada não apenas como proteção para o clima e como item funcional em ambientes de trabalho. Com isso, produziu uma coleção oferecendo designs em uma variedade de alturas, cores e materiais. Tendo como destaque as ‘Stocking Boots’, meias-calças com saltos anexados (também reproduzidas com outros tipos de tecido).
- Race Car Shoe — 1967
Na década de 60, nasce um dos sapatos mais divertidos da carreira de Levine: o Race Car Shoe. Projetado pela primeira vez para a esposa de um piloto nas 500 milhas de Indianápolis de 1967, o Race Car Shoe incluiu uma fachada colorida, pneus falsos, pára-brisa e faróis; o sapato fez tanto sucesso que a marca lançou muitas variações do design original ao longo dos anos.
Conclusão
Concluímos, após diversas pesquisas, que Beth Levine foi realmente um dos maiores nomes do design do século XX. Sempre criando designs excêntricos e utilizando-se de materiais inusitados, Levine fez história no mundo do design e da moda.
Seus designs eram, além de inovadores, extremamente criativos. Sapatos com formato de carro, com solado de grama, com saltos extravagantes, e até mesmo “não-sapatos”, Levine sempre criou um certo choque com seus designs. Ela não se prendia a um formato base, muito menos a uma única ideia.
Devido à grande variedade de materiais usados pela designer, como vinil, madeira, até mesmo grama sintética, não se vê uma predominância de cores ou alguma cartela de cores que se sobreponha.
Beth Levine e suas criações pavimentaram o caminho para a liberdade criativa que hoje vemos no mundo da moda, e certamente serviu de inspiração para os designers contemporâneos.