QUEM É OLAVO DE CARVALHO?

Raul Martins
4 min readMar 23, 2017

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O Lobo Solitário da Virgínia? O Filósofo do Zodíaco? O Exterminador de Filodoxos? O Pai das Puta? Aristóteles no programa do Alborghetti? The Bear Hunter? Piadista contumaz? Treteiro profissional? Escritor inigualável?

Já foi acusado de ser tudo o que é desgrama que há entre o céu e a terra: é um sub-reptício líder de uma seita gnóstica; é um agente undercover da CIA; é infiltrado do Islão no cristianíssimo Brasil; é desaforado tariqueiro; é velho doido que faz uns cursos online sobre conservadorismo (sic). É o guru da direita. Revista VEJA com pernas. Quer cristianizar os ateus e ateizar os cristãos; recebe tanto da KGB quanto do FBI; não sabe de nada — a não ser de lavagem cerebral. Disso aí sabe tudo. Fala palavrão, é feio, bobo e mostra a língua.

As críticas se vão amontoando e anulando umas às outras; os elogios são disparados a características que à força de tão diversas parecem estar em pessoas diferentes. Ele é engraçado ou fala mortalmente sério? É escritor de verdade ou cronista de Facebook? Num minuto está falando, grave e preciso como um bisturi, da eternidade, e, no seguinte, postando um meme sobre peido seguido de um despudorado KKKKKKK. Escreve, no parágrafo de um artigo jornalístico, a “quintessência da boiolice” para logo depois, antes mesmo de você rir da tragicômica definição, entrar a descrevê-la com assombroso domínio literário: é “um desfibramento da alma, uma pusilanimidade visceral”.

E a gente, mais perdido que cego em pleno tiroteio carioca, às apalpadelas vai tentando resumir a imensa figura a fim de acomodá-la em nossas classificações pré-fabricadas. Vamos tentando dar sentido e coerência às caras, bocas e filosofias de uma personalidade irresistível de tão genuína.

Mas a verdade é simples.

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho é — rufem os tambores; segurem as tripas — um FILÓSOFO.

“Olha aqui, meu filho, não seja burrrro, cacete”

Sim, meu povo. Antes de qualquer outra coisa o professor Olavo de Carvalho é um filósofo. O todo de sua personalidade vertiginosamente multifacetada está subordinado e inseparavelmente ligado, misturado e integrado ao seu ofício filosófico, e este por sua vez a desemaranhar um troço chamado realidade. Quando faz piadas, é filósofo. Sabe aquela análise política mara? Pois é, veio de um filósofo. Ao contar anedotas de putaria é tão filósofo quanto ao fazer crítica literária e tirar sarro da Dilma. É um filósofo que se insurge incansavelmente contra o FORO de São Paulo e o projeto de poder totalitário da esquerda, assim como é um filósofo que não para nunca de desmontar o projeto de burrice que a direita tanto se esforça para aplicar em si mesma. É um filósofo que posta fotos de seus gordos netinhos. É um filósofo que ora manda tomar no cu, ora reduz a pouco mais do que um cu, Reinaldos Azevedos, Constantinos e similares.

Se assim repiso e repito o termo “filósofo” não é para incorrer em transgressão deliberada às boas normas da redação e, pois, criar uma nova tendência literária. É que o filósofo calhou de nascer no Brasil, país em que o óbvio é esotérico e o auto-evidente bastante inevidente. Daí que, de quando em quando, tenha de emergir um profeta e dizer a todos o óbvio ululante, não raro com desenhos ilustrativos para acompanhar.

Filósofo, sim senhor, e só não o enxerga quem é idiota no sentido estrito do termo: o idiotes grego que é a raiz filológica de nosso idiota. O “sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez”.

Há um Olavo para o True Outspeak.

Há um Olavo para o Diário do Comércio.

Há um Olavo para o Jardim das Aflições e o Imbecil Coletivo.

Há um Olavo para o Facebook.

Há um Olavo para os hangouts.

Há um Olavo para as polêmicas jornalísticas; um Olavo para as polêmicas acadêmicas (Alaor Caffé que o diga).

Há um Olavo para os seus netos; um Olavo para os seus amigos íntimos; um Olavo para os seus seguidores mas não alunos.

E, finalmente, há um Olavo para os seus alunos. Um Olavo para o COF (ou, para os menos íntimos, o Curso Online de Filosofia).

E é aqui, no COF, que o tal velho esfíngico mudou a minha vida. Em menos de dois anos e mais ou menos 60 aulas a que assisti (de 320 e tantas que há, and counting), minha burrice, a pobre-diaba, anda cada dia mais mirrada: enxotada progressivamente para as periferias da minha personalidade, já não lhe é dado sambar na minha cabeça num eterno carnaval de idiotice — seus berros vão paulatinamente sumindo, abafados pelo altissonante filosofar do velho da Virgínia, e hoje já parecem aquela voz, como dizia Nelson Rodrigues, de criancinha que baixa em centro espírita. Se não calada, ao menos intimidada.

Assim, se o estado natural das coisas é que o maior abranja o menor enquanto este vive achando que ele não passa de um velho excêntrico que faz vídeos xingando o Edir Macedo no Youtube — algo como um PC Siqueira mais velho e mais engraçado, além de homem –, é a tarefa do profeta (eu, no caso, muito prazer) chocar todas as gentes ao mostrar-lhes o que é óbvio e enorme demais para que possam ver de uma vez: o elefante branco na sala do Brasil (fumando e a tomar café) é a síntese orgânica, classificada e hierarquizada do saber; é o vaivém ordenado do conhecer e da consciência… é um filósofo, ora porra.

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