Deguy - not a gringo
7 min readApr 25, 2020

Então, eu fui fazer essa pesquisa

Eu tava afim, tava na quarentena, sem nada para fazer; saca aí:

o rascunho em papel e moedas

Metodologia:

Eu sai perguntando para as pessoas com quem eu conversava algo como isso:

“Eu to fazendo um projeto, ai queria saber das pessoas com quantas pessoas elas estão falando, tipo, com frequência na quarentena.

Tipo, por mensagem e tal, ou ligação, o que for.

E as quais delas você achar que eu conheço.

Para depois eu ir perguntar a elas com quantas e quais elas estão fazendo.

E fazer uns gráficos lokos.

Ai se você topar me ajudar basta dizer 1) com quantas pessoas você acha que esta falando nessa quarentena e 2) se você acha que eu conheço alguma, qual.

Dai eu faço as magias e acho uns coeficientes de conectividade e tal”

Ai daí, a partir das respostas dos meus amigos, eu fui atrás do resto das pessoas que eles falaram e mandei alguma pergunta parecida com essa para os citados;

  • Eu não fui falar com pessoas que eu não conheço

Motivo:

  • Eu tava afim de aprender a usar esse programa, ‘Gephi’, que trabalha com “grafos”, ou em termos menos matemáticos, redes, networks
  • Nossas cabeças estão acostumadas a pensar meio que linearmente, mas nada no mundo aponta para uma necessidade de pensar assim (ao menos assim eu acredito); é bom portanto lembrar de examinar nosso mundo numa perspectiva menos linear, menos sequencial, contínuo

Resultados:

Legal né? Vale a pena examinar

As cores dizem respeito a que grupo (cluster) está cada individuo;

O tamanho das bolhinhas (nós) diz respeito a com quantas pessoas esse individuo fala (muitas pessoas falam com muitas pessoas que eu não conheço, portanto tem um nó grande mesmo tendo poucas relações delineadas no grafo

Ele ainda está com alguns bugs, mas foi a melhor versão dessa imagem que consegui

Depois posso ir dar umas palavras sobre o gráfico como um todo, mas antes:

Os “caveats”

Ou seja, quais são as coisas para se manter atenção?

Esse é um grafo das pessoas que não responderam:

Além disso, algumas coisas mais gerais:

  • Como dito antes, eu não fui atrás de pessoas que eu não conhecia, então é bem possível que esse gráfico diga mais sobre mim do que sobre a dinâmica social, a ecologia social, desse grupo específico. Eu tentei balancear isso usando dos tamanhos (que indicam o número de conexões). Como tal é claro que quanto maior o nó (e menos links dentro do gráfico ele tem) menos seguro é a confiança que se deve ter nele.
  • Esse gráfico não é de forma alguma científica; a própria pergunta não é muito certa nem quantificável, e muitas vezes eu não fui atrás de algumas pessoas (em especial no final, tava com preguiça e o grafo já tava grande — algumas outras pessoas eu não fui atrás porque estava com vergonha) eu também não fui atrás de pais nem em geral adultos, aí só tem jovens que são de uma forma ou de outra da mesma geração.
  • Apesar do que se poderia pensar, muitas pessoas deram respostas que não batiam quanto a com quem elas conversam; A disse que fala B mas B não citou A; Isso pode se dar porque eles entenderam de formas diferentes o que significa falar “com frequência”, pode ser porque não sabiam que eu conhecia a outra parte ou mesmo porque esqueceram, sei lá.

Acho que era mais isso.

Sobre o grafo:

Como eu conheço, o grupo 1 é aquele que eu faco parte, o 2 tem muitas pessoas da minha turma de ensino médio (e sua maioria nerds, como eu), o 3 pessoas que eu vim conhecer por via de Carlos, o 4 em sua maioria eram amigos do ensino médio que não eram da minha sala, 5 e 6 um grupo que conheci pelas pessoas um ano mais novas na escola, 7 eu conheço da faculdade, 8 eram um ano mais velhos na minha escola do ensino fundamental e o 9 eram da minha escola no ensino fundamental (em geral, há muitas pessoas que não se encaixam perfeitamente).

O grau médio (número de conexões) do grafo é 3,107.

A densidade do grafo é 2% (o número de ligações dividido pelo número possível de ligações).

O comprimento médio do caminho, das ligações entre pontos aleatórios, é 5,44 e o máximo caminho é 13.

Em media, essas ligações são bem menos do que seriam as ligações de simples ‘conhecidos’, amizades de Facebook ou follows no twitter, mas em minha cabeça eles demonstram uma realidade mais precisa das ligações entre pessoas; quem você busca durante a quarentena (para aqueles de fato não estão mais tendo aula) me diz mais sobre você do que simplesmente você conhece.

Esse é um caso de ‘small-world network’ — redes de pequeno mundo.

Resultados mais específicos:

Pessoas que estudaram no meu colégio fundamental:

e no meu colégio de ensino médio

Tem muita gente então se pá eu esqueci de alguém (me avisa aí se eu esqueci)

Olha ai mais algumas coisas:

Partindo de chico, colore-se mais as pessoas mais “próximas” considerando o número de pulos, de links, que precisa se dar.

Eu tive o que se chama“betweenness centrality” (em português intermediação):

Isso, em geral, significa que, selecionado dois pontos aleatórios é possível calcular um (ou mais de um) “menor caminho” entre esses pontos. A partir dai, pode-se calcular todas as rotas de menor caminho, e então examinar quantos desses caminhos passam por cada ponto, a daí se atribui um valor.

Esse é o valor que eu tenho mais do qual qualquer outro individuo nessa rede (ou seja, o maior número de conexões passa por mim, então eu sou meio que um grande “intermediário”) o que faz muito sentido, visto que o gráfico tem somente pessoas que eu conheço.

Outro gráfico:

Partindo de João Pedro, colore-se mais as pessoas mais “próximas” considerando o número de pulos, de links, que precisa se dar.

João Pedro é a pessoa com mais conexões no geral; O “grau” dele é 20 (de somando as pessoas que ele disse que fala com as que falaram que falam com ele, vide o “grau de saída” e o “grau de entrada”); Os segundos lugares tinha 16; ele é então, numa forma de analisar, a pessoa com mais relações com pessoas que eu conheço

Note que isso não leva em consideração a “importância” (centralidade) dessas pessoas, mas somente o número de fato;

partindo de Carlos, colore-se mais as pessoas mais “próximas” considerando o número de pulos (links) que precisa se dar.

Carlos é a pessoa que, depois de mim, tem um maior índice de “betweenness centrality” ( intermediação), quase no mesmo nível que eu, é um dos terceiros lugares em grau, o primeiro em grau de entrada (aquele que mais pessoas disseram que falam);

Ele é o cara que se pá mais compartilha grupos em comum comigo (em parte porque eu me infiltrei em alguns grupos de amigos dele, ele me apresentou muita gente nos últimos anos )

Como ele é meu amigão eu fiz um mapa extra para ele:

Carlos é daltônico, e adora brincar sobre isso, então eu resolvi fazer esse mapa, vermelho e verde.

Sobre gênero:

Grupo 1

Esse é um recorte do que o computador resolveu denominar cluster 1 (os números apenas denotam, como nomes, não tem sentido matemático nesse caso); Achei importante apontar isso para deixar claro visualmente e por meio de dados algo que me deixou um tanto preocupado:

Usei o verde para denotar masculino e o vermelho feminino.

Notem como as redes de relações de formam basicamente com base em relações homem-homem.

Eu achei preocupante porque esse fato reforça alguns esteriótipos: pela minha experiência esse é um grupo bem mais nerd, e é também um dos poucos lugares que abriga algumas pessoas (notadamente a minoria) de direita.

É certo que parte disso pode ser minhas faltas de conhecimento maior das pessoas, pode ser só má sorte, mas não me deixa de preocupar a criação de bolhas só de homens como uma bolinha de um pensamento meio estranho, onde é mais fácil um anti-feminista ter a voz mais forte e ser mais ouvido.

Em contraste, o grupo que me aparenta ser mais “alterninho”: os grupos 5 e 6.

Era isso que eu queria dizer, valeu.

Falow ;)

Deguy - not a gringo

Já fui gordinho e gostinho, nerd, atleta, CDF, alterno, maconheiro, otaku e produtivo. Atualmente passo a maior parte do tempo no Youtube vendo video essays.