Um pouco sobre a série de pinturas Clubes de Bairro

Cidade Instante
2 min readFeb 3, 2023

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Série iniciada em 2022 propõe a criação de um imaginário de clubes a partir da reflexão sobre a presença desses espaços nas cidades

Clube Social e Biblioteca Brejo Fundo. Raphael Morone. 2022.

Tenho me dedicado, desde junho de 22, a uma série de pinturas sobre um imaginário de clubes de bairro. O desenvolvimento, inicialmente, partiu de um interesse na cultura dos clubes de bairro brasileiros, uruguaios e argentinos: suas relações com a coletividade, o sentimento de pertencimento e cidadania que emanam desses lugares construídos como espaços de lazer. Esses clubes, muitos deles surgidos no início do século XX, possuem sedes em espaços centenários nas cidades, gerando tensionamentos com o urbanismo, a especulação imobiliária e a cultura em constante mutação das cidades sul-americanas. Durante o processo de pesquisa, fui atrás de histórias dos clubes, assim como as pinturas nas sedes e dos muros nos bairros onde estão. No decorrer da pesquisa, ainda me deparei com a pintura vernacular e na heráldica, que também norteiam a produção.

Busco, na série, dar continuidade a experimentação com o volume da tinta em contato com a superfície da tela através da pasta de modelagem, que proporciona mais possibilidades no manejo desse volume. Há, também, o uso da caiação, técnica de pintura com cal largamente utilizada na construção civil desde o século XVIII, enriquecendo a poética da pesquisa ao utilizar materiais presentes nas paredes e muros dos clubes, gerando um diálogo com os fazeres e saberes populares. Dessa forma, vou de encontro a materialidade e a temporalidade dos clubes de bairro, isto é, olhando para as camadas de tinta e as sobreposições arquitetônicas recebidas ao longo do tempo. A partir da superfície de irregularidades que se apresenta, vem a geometria com menos rigidez, mais espontânea, influindo na criação dos escudos dos clubes. Posteriormente, os escudos ganham nomes, propiciando jogar com a ficção e a realidade e, por vezes, com o absurdo, criando um universo onde clubes são sediados em charcos ou em ilhas que ficam em lagos, e a tinta, o cal e a pasta de modelagem são testemunhas da passagem de um outro tempo.

Conheça mais dessa série de pinturas em desenvolvimento: https://www.instagram.com/raphaelmorone

Texto que escrevi para a Revista Úrsula em um especial durante a Copa de 22: Clubes de Bairro: uma Microhistória inscrita na Paisagem das Cidades

Raphael Morone é artista visual e trabalha com pintura, desenho e escrita. Vive entre Belo Horizonte e Santos. Pode ser encontrado no Instagram.

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