Resumo e Resenha crítica do documentário O Mundo Global Visto do Lado de Cá.

Iago Becker
7 min readSep 22, 2017

Resumo do documentário

A globalização em que vivemos, segundo o documentário, é a segunda. A primeira globalização, na visão do documentário, foi na época colonialista. Época em que os produtos e culturas europeias expandiam-se pelo mundo por meio das caravanas. Nesse período, as culturas dos povos latinos foram substituídas pela cultura europeia cristã sem muita resistência por parte dos povos nativos. Ela se desenvolveu além das catequeses, por meio do câmbio. Por exemplo, o Pau-brasil não tinha tanta utilidade para os índios quanto para os europeus. Dessa maneira, os europeus trocavam objetos que em sua concepção eram banais, como espelhos, pela árvore que os índios pensavam ser banal.

A segunda globalização se mantém através dos meios de comunicação e se caracteriza pela internacionalização dos países no meio cultural, econômico e político, de forma que as trocas voluntárias sejam mais facilitadas ainda do que as da primeira globalização. A globalização, apesar de ter influência dos Estados, é algo que beneficia as grandes corporações já que ela permite atingir mercados do mundo inteiro. Sabe-se que o capitalista sempre está à procura de novos mercados, o que aumenta a expansão do mercado para várias regiões do mundo.

Segundo Milton Santos, a tecnologia que alcançamos hoje é capaz de dar vida digna a todos, porém, também diz que o Estado tem seu papel nessa tarefa de dar dignidade através de vias democráticas. Essas críticas feitas no documentário apontam para um sistema econômico mais estatista e intervencionista, onde trechos do documentário mostram manifestantes que protestavam contra privatizações em geral, inclusive da distribuição de água.

Por fim, o documentário ainda cita o Consenso de Washington e o classifica como neoliberal. Apesar disso, o erro está em classificar o Consenso de Washington como neoliberal ao mesmo tempo em que ele aponta um gasto melhor pelo Estado. Isso de forma alguma diminui a intervenção do Estado na economia, muito pelo contrário

Resenha crítica

De acordo com Milton Friedman, economista renomado da Universidade de Chicago, existem quatro formas de gastar dinheiro. A primeira é você gastar o seu dinheiro para comprar algo para você mesmo, por consequência você visará um preço justo e uma boa qualidade. A segunda é gastar o seu dinheiro com uma outra pessoa, você ainda visará um preço justo, mas não se importará com a qualidade. A terceira é gastar o dinheiro dos outros consigo mesmo, imagine que um amigo lhe convide para ir num restaurante por conta dele, você irá escolher o melhor, por consequência o mais caro, sem ligar para a conta. O quarto e último, é gastar o dinheiro dos outros, com os outros. Isso resultará numa completa desfeita com a qualidade e o preço justo. E é dessa forma que o Estado, coercitivamente, gasta o seu dinheiro obtido através de impostos. Por essa razão que, por maiores que sejam os investimentos em prol de uma boa causa, isso pode resultar numa resposta de longo prazo ruim. John F. Kennedy disse em um discurso que não existia problema em Nova Iorque que não pudesse ser resolvido com mais dinheiro. Desde a época do discurso pra cá, os investimentos triplicaram e os problemas com a criminalidade e desemprego pioraram ainda mais.

Sobre a privatização da distribuição de água, assunto que causou protestos em países latinos, é uma atitude que só pode ser resolvida com a privatização. Existem duas alternativas de privatização: a concessão pública (que seria o modelo a ser adotado) e a desestatização completa. A concessão pública consegue ser tão ruim quanto uma administração estatal. A única diferença entre a estatização e a concessão pública é que nenhum político vai poder distribuir cargos em troca de favores, o que acontece demasiadamente nas empresas estatais brasileiras, que visam os cargos como cabide de emprego, deixando de lado a competência do agente. A privatização de fato, que é a desestatização de um serviço, não cria motivos para as pessoas se revoltarem. Veja: os protestantes reivindicavam água gratuita, mas todo o processo de tratamento e distribuição arca com custos de procedimento. Mesmo que o serviço ainda que fosse estatal, quem bancaria os custos seriam os pagadores de impostos. Isso só alimentaria um monopólio estatal desse serviço e sabe-se que qualquer monopólio prejudica o consumidor beneficiando exponencialmente o prestador do serviço. Então o que seria mais benéfico à população pobre? A livre concorrência.

Empresas iriam para esse setor e disputariam a clientela, disputa essa que acarretaria em preços cada vez mais baixos porque é isso que a concorrência faz. Um questionamento que algumas pessoas fariam seria: “Se teriam várias empresas disputando a clientela, os sistemas de encanamento não ficariam congestionados?” A resposta é: não necessariamente. O mercado se regula e em busca de amenizar um gasto alto as empresas achariam soluções para esse problema, tudo pelo lucro.

Um bom exemplo a se citar foram os caminhões pipas que distribuíram água privada em São Paulo, enquanto o Estado não soube administrar os recursos hídricos e causaram uma das maiores crises hídricas de estado.

Outro exemplo, dessa vez na questão da segurança das mulheres, provando mais uma vez como o mercado se aloca mais eficientemente do que intervenções estatais, é o aplicativo Lady Driver. O aplicativo oferece uma gama de motoristas mulheres do Uber para um maior conforto das clientes mulheres, que muitas vezes deixam de utilizar o táxi ou até mesmo o Uber por conta do assédio sofrido por motoristas homens. É importante ressaltar que essas soluções vieram do mercado não regulamentado. Não é possível encontrar livre concorrência onde uma empresa em conjunto com o Estado pode aniquilar a concorrência por meio de lei e não pela qualidade do serviço. Essas leis são as regulamentações, que por sua vez não beneficiam o consumidor como os burocratas costumam dizer, elas beneficiam ninguém além das grandes corporações.

Serviços de comunicações não-regulamentados são inúmeras vezes melhores que os regulamentados. O Whatsapp ou Telegram, serviços nascidos no livre mercado, oferecem sem custo algum ótimos serviços quando comparados aos serviços das empresas de telefonia brasileiras regulamentadas pela ANATEL.

Para um Estado de Bem-Estar Social intervir em prol de dar vida digna a todos, como afirma Milton Santos, ele o faria através de medidas assistencialistas. Toda medida assistencialista necessita que seja financiada por taxações de pessoas físicas e jurídicas. Se o Estado resolve criar cargos públicos, por exemplo, na área da construção civil com programas como o “Minha Casa, Minha Vida” ele deverá aumentar a arrecadação do Estado para financiar os gastos dessa política pública. Para isso, ou ele aumentará as despesas dos cidadãos por meio de taxações ou ele inflacionará a moeda. Todavia, se esse roubo institucionalizado não acontecesse, os cidadãos que antes eram taxados poderiam direcionar o seu próprio dinheiro para seus próprios bens e serviços, produzindo riqueza de fato.

“Quando se trata de pobreza, nunca houve na história uma máquina mais efetiva para eliminar a pobreza do que o sistema de livre iniciativa e o livre mercado. O período em que se observou a maior melhora da vida do homem comum, foi o período entre o fim do século XIX e o começo do século XX. (…) Além disso, se você olhar para os reais problemas da pobreza e da privação da liberdade das pessoas nesse país, quase todos eles são devidos à ações do governo e seriam eliminados se você erradicasse as terríveis falhas do governo. Deixe-me ser mais preciso e específico. Por que temos uma taxa desemprego tão alta do desemprego entre jovens negros? Primeiro, porque nós damos a eles uma educação ruim através das escolas estatais. O que os desqualifica a encontrar empregos decentes. E segundo: nós os obrigamos os empregadores a descriminá-los não os contratando a menos que sua produtividade seja suficiente a justificar um salário-mínimo. O salário-mínimo é uma das leis mais anti-negro que existem porque, precisamente, tendo primeiro inabilitado os jovens negros a ter uma boa educação para terem produtividade, depois nós os negamos o treinamento do trabalho, que eles poderiam ter se nós pudéssemos induzir os empregadores a contratá-los por salários relativamente baixos para que tenham experiência de trabalho que os qualificaria para melhores salários e maior produtividade” — Milton Friedman.

Evidências mostram que países que seguiram um modelo econômico menos intervencionista, ou seja, mais liberal, tiveram um crescimento econômico astronômico. Países como Suécia, Noruega e Dinamarca viveram o ápice da criação da riqueza por volta dos séculos XIX e XX. A China se mantém como um caso controverso pois ao mesmo tempo que adotou medidas liberais com um livre mercado que impulsionou a economia chinesa, ainda assim tem um forte intervencionismo. Esse intervencionismo chinês é caracterizado por ser muito desenvolvimentista, ou seja, abusar de subsídios e da expansão de crédito para aquecer a economia. Algo não muito diferente do que aconteceu em 1929, antes da quebra da bolsa. Isso faz com que muitos economistas concluírem que existe uma bolha na economia chinesa que está prestes a estourar.

Ainda que seja intervencionista, ao abrir o mercado, a China teve um aumento considerável na qualidade de vida, mas isso se deve ao livre mercado. O livre mercado faz isso, a livre concorrência faz isso. Do contrário que se pensa, o livre mercado é o que evita a aliança de burocratas com empresários afim de dominar o mercado e eliminar a concorrência através de leis.

Então, me oponho ao que Milton Santos diz sobre a intervenção do Estado e a vida digna. A história da humanidade só dará grandes saltos na qualidade de vida e na dignidade, com menor intervenção do Estado, e não mais.

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