Almas Mortas: Pós Punk Nacional Que Não Fica Devendo Para Inglês Nenhum.

EsquizoFren
5 min readNov 17, 2019

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Robson Sinistro

Almas Mortas, o primeiro romance russo que conta a história de Tchítchicov um homem que deseja comprar funcionários mortos de proprietários de terras para hipotecar suas almas com o objetivo de tornar-se um proprietário de terras. Como assim?

Reza a lenda que Pedro, o Grande, Czar da Rússia, resolveu que todo mundo que possuía alma deveria pagar um imposto por ela. Os proprietários de terras eram tributados em sua folha de pagamento de servos, que incluía aqueles que já tinham morrido.

É nesse tom de ironia que Nikolai Gogól influenciaria 149 anos depois em 2001 um bando de jovens góticos da Bahia Que adotou o nome Almas Mortas para sua banda, o que já rendeu problemas judiciais, mas já está tudo certo isso. Com Robson Sinistro nos Vocais, Robson Aguiar com o Baixo, Jose Luiz na Bateria e Leandro Morais na Guitarra

Apresentado então a banda vamos a obra.

Canções de Ódio, Amor e Morte (2003)

Em 2001 a banda é formada mas só em 2003 sai a primeira bolachinha da banda Canções de Ódio, Amor e Morte com 11 faixas.

A primeira canção é na verdade uma Intro Carta ao Senhor, uma oração um tanto quanto herege onde o eu lírico se desbunda em reflexões religiosas, seguida pela canção Sob Pressão uma musica existencialista - basicamente todas são — que tem como simbologia o suicídio.

O instrumental todo do álbum tem uma atmosfera de A Forest dos The Cure ou as mais atmosféricas de Joy Division. Porém o experimentalismo com a guitarra de Videira da Morte expõe também suas influencias de Bauhaus. Mais uma vez uma musica com o suicídio em seu tema. Aqui temos uma poesia sobre o suicídio de um deus que toma da videira da morte, este, o deus dos homens ou seja, o próprio homem.

Em O Observador, o mesmo tom mesmo tema porem mais experimental.

Uma das minha preferidas é O Rei Dos Condenados que já começa a musica fazendo uma citação de Lestat no filme Rainha dos Condenados.

Chega um momento para todo vampiro quando a concepção de eternidade se torna temporariamente insuportável
Viver nas sombras, sugando sangue nas trevas, tendo a si próprio como companhia, se torna uma existência solitária e vazia
A imortalidade parece algo bom, até você perceber que irá passá-la sozinho.

A musica conta a vida melancólica de um vampiro e se analisar a letra, percebemos que talvez tenhamos muito em comum com tais criaturas fantasiosas (ou não).Temos também uma passagem da musica Unloveable do The Smiths. — Ou Negro Drama…

Preto eu me visto por fora
Pois preto eu me sinto por dentro.

Almas Mortas e Nômade são as faixas que menos gosto, são mais do mesmo e muito longas.

Frias Mãos Pálidas também é mais do mesmo, mas eu gosto da letra.

Amor de Outono é a segunda mais longa do álbum 8 minutos e pouco e é a minha preferida talvez a melhor música nacional pra dar uma chorada ela é toda atmosférica e foi composta em 80 bpm então é uma ótima música Dirge (Musica boa pra um velório) com harmonias incríveis, poderia facilmente ser uma faixa de Closer do Joy Division se não fosse o violino e o efeito sonoro de chuva que nunca vi sendo usado tão bem em uma musica antes, parece até um verdadeiro instrumento

Ponto de vista é uma das musicas que mais carrega o nome do álbum no quesito ódio, nada humanista e super misantrópica, a letra afirma que é tudo uma questão de ponto de vista.

Medo é uma musica que parece ter saído de outro álbum pois diferente de todas que são Pós Punk essa é Deathrock, muito punk para ser gótico e muito gótico para ser punk.

E o álbum se fecha com Conceição um poema interpretado pelo vocalista.

Eu enxergo morte onde há concepção
Espinho onde só há flores
Crepúsculo no alvorecer
Desertos onde existem mares
Desolação onde há jardins
Velório onde confirmam o campeão[…]

Em 2008 5 anos depois do primeiro álbum, lançam o segundo um álbum homônimo.

Almas Mortas (2008)

Esse álbum traz uma coletânea de demos de 2001 até 2008 com 4 músicas do álbum anterior e 4 “novas”, essas “novas” são fortemente influenciadas pelo latroModeM, banda secundaria do vocalista que de trás para frente traz seu verdadeiro significado. Banda essa que mistura o Pós Punk com o Dream Pop trazendo um ambiente mais lo-fi o que eu não curto muito não. As faixas inéditas são: Sinfonia para um Morto, Amanhecer, Redenção e Clemencia. As que voltaram foram: Nômade, Videira Da Morte, Almas Mortas e Sob Pressão. A melhor aqui é Videira da Morte.

A banda fica inativa por um tempo — eu pensei que ela morreu — mais em 2016 ela celebra seus 16 anos com o álbum VIX.

XIV (2016)

Eu juro que quando vi essa capa,essa fonte, eu pensei que era uma imagem padrão que o Spotify coloca quando não tem imagem do álbum. Só esse ano quando a banda fez seu Soundcloud oficial eu vi que esse álbum é cânon eu.. sei lá o que pensei o que importa é que temos 4 novas boas musicas de cara nova e mudaram a capa graças a Deus.

Virtuais é uma ótima musica da banda, aqui eles mostram sua cara nova, até que emfim estabilizaram-se entre o Indie e o Pós Punk, perderam o lo-fi dos

Nova Capa

EPs anteriores e aqui a mixagem está melhor. Depois de escutar Rosas Negras a segunda faixa percebi que perdeu-se um pouco da poesia e está mais para prosa. Pelo menos o instrumental está tão Bauhaus quanto o primeiro o que é bom.

Não sei como explicar, mas Lagrimas e Vinho e Lembranças me remeteram muito para o Pós Punk Revival, o que é perfeito pois tirando Fragor, não temos outra banda do gênero por aqui.

A Musica da vez é…

Espero que tenham gostado e que escutem pois essa é a melhor banda do Pós Punk Nacional na minha opinião e sabe lá de qual grande eles não passam por cima ein.

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