Jenessequá

clara averbuck
2 min readAug 8, 2016

--

Quando eu era jovem, bem jovem, quando larguei a escola pela primeira vez, lá pelos pós-15, eu era uma notívaga. Não era notívaga de vagar na rua apenas, mas de ficar em casa escrevendo feito demente e ir dormir depois do sol raiar. É, na adolescência eu já fazia isso. Tinha o IRC também, era isso e escrever e sim, sair na rua pra fazer merda pois adolescente eu era, beber e lokiar eu queria. Inclusive posso afirmar que meu primeiro texto que “viralizou”, antes mesmo dessa palavra existir, foi via IRC e era ensinando moleque a não ser otário ao falar com mulher. Não que eu soubesse muita coisa na vida, ora, eu tinha 16 anos, como é que, né, eu ia saber? Mas eu achava que sabia e aquilo me bastava.

Quando falo que sempre escrevi não é exagero, mas é engraçado pensar como minha pretensão nunca foi ser escritora, ver livros nas estantes, nas vitrines, minha ânsia era mesmo de comunicação.

Segue sendo. Mesmo com os livros na prateleira, isso significa pouco perto da vontade de ser lida.

Mas como eu mudei. E ainda bem, sempre me causa estranheza gente que se orgulha de ser exatamente a mesma coisa a vida inteira. A essência segue, mas a gente muda e vai aprendendo a dominar e moldar nossa essência, nossa índole, nosso jenessequá que vive aqui dentro e nos leva a fazer o que fazemos. Em suma, eu gosto de quem melhora, de quem busca melhorar, de quem busca evoluir e não se orgulha de estacionar em uma rua sem saída com os pneus murchos batendo no peito e dizendo “é assim que eu sou”.
Mas cadum cadum, né?

Hoje eu gosto de acordar cedo. Abrir a janela e ver o sol, que hoje não veio, mas veio o dia e já é bom o suficiente. Gosto de ir na academia e suar e levantar pesos e me sentir forte. Força não necessariamente precisa passar por isso, mas demorei anos pra entender que meu corpo não era meu inimigo, e agora que somos amigos, quero força, quero saúde, quero vitalidade. Quero diversão também, mas não quero desrespeitar os limites dele como fiz a vida toda com loucura, com droga e remédio pra emagrecer, com desprezo, descaso e violência comigo mesma.

Quero sentar e escrever na minha casinha em paz. Eu quero paz. A vida inteira quis mergulhar o caos, agora eu acho que enfiar os pezinhos feito quando testamos se a água do mar está gelada já me basta.

Limite, enfim. Os limites se impuseram sobre mim pra que eu não me afundasse durante toda essa vida. Agora eu é que me imponho. E sem querer mandar uma autoajuda, mas repetindo um clichê: se a gente segue fazendo as mesmas coisas, vai ter sempre os mesmos resultados.

Estou falando isso pra mim também. Às vezes eu esqueço.

Boa semana a todo mundo.

--

--