A horta da emergência

Claudia Visoni
3 min readMay 29, 2018
Inhame e taioba crescendo juntas num canto sombreado do quintal. As duas sozinhas viram uma sopa que vale uma refeição.

O abastecimento de combustível e o transporte de cargas no país deve voltar ao normal nos próximos dias. Mas os pequenos colapsos tendem a se tornar mais frequentes porque o mundo está caótico, nossa sociedade se tornou complexa demais e a produção de tudo o que a gente precisa para viver, além de supercentralizada, é dependente de grandes corporações e de infraestrutura robusta porém pouco resiliente.

Mudanças climáticas (que trazem secas, enchentes, furacões, ondas de calor e de frio), crises financeiras, conflitos políticos e todo tipo de instabilidade estão no radar. E ninguém vai se salvar sozinho. Estamos todos no mesmo barco e acredito que, para fazer parte da solução, o caminho é ir tecendo a cada dia a rede de segurança comunitária que ajuda a segurar as pontas quando a escassez bate à porta. Sabe aquele ditado de que é no dia de sol que a gente conserta o telhado? Pois então, precisamos pensar em Planos B coletivos para o abastecimento de comida, de água, o saneamento, a produção de energia. Isso inclui cisternas, banheiros secos, biodigestores, minigeradores eólicos, placas fotovoltaicas e… hortas urbanas.

Citei essas outras tecnologias só para trazer à tona essa conversa e lembrar que os 4 pilares da permacultura (plantio, água, energia e bioconstrução) são a base da subsistência humana. Por mim, os currículos escolares deveriam ser organizados em torno desses eixos. Mas a intenção aqui é apenas listar espécies que deveriam estar em todas as hortas domésticas e comunitárias pois, na hora de uma crise, colocam comida nutritiva na mesa. E são plantas fáceis de cuidar. A lista abaixo eu fiz com a ajuda do pessoal da União de Hortas Comunitárias de São Paulo:

* Mandioca — Ainda sou pouco experiente nesse cultivo. Mas já sei que não precisa de solo muito fértil e vai bem com pouca água. Você põe a estaca (maniva) na terra e esquece. Depois de uns seis meses pode colher.
* Inhame — Gosta de umidade, mas aguenta períodos secos, suporta meia sombra e propaga facinho. Quando você colher a batata maior, vai enterrando as bolinhas que nascem do lado que dali nascem novas plantas.
* Batata-doce — As folhas também são comestíveis e muito nutritivas. Se alastram loucamente. Para dar batata a terra precisa estar fofa.
* Feijão andu (ou guandu) — Bom para melhorar o solo e não requer cuidado algum. Cresce sozinho e os feijões podem ser comidos verdes (parecem ervilha nessa fase) ou maduros, quando a vagem seca.
* Milho — Está valendo, mas requer mais espaço.
*Abóbora — A vantagem é que dura bastante depois de colhida. Pode ficar meses na despensa.
*Taioba — Muito nutritiva e dá melhor na época chuvosa, mas produz folhas o ano todo e não precisa adubar (só juntar terra no pé da planta de vez em quando).
*Ora-pro-nobis — Uma arbusto cactáceo que aguenta qualquer clima, não pede adubo, não precisa regar e tem muuuita proteína. Antigamente era conhecido como “carne dos pobres”.
* Chuchu — Um pé pode produzir dezenas de quilos de chuchu. Mas precisa de espaço para se alastrar.
*Banana — Além dos frutos, a bananeira gera biomassa úmida e nutritiva para o solo. Em períodos de seca, ter bananeira para cortar é ser milionárix.
*Matos que nascem sozinhos: aprenda a identificar os que são comestíveis, como caruru (ou bredo), crepe japônica, celosia (dá flor e é conhecida como rabo de galo), beldroega, língua de vaca e buva. Pesquisa isso tudo lá no blog do querido Gui Reis: http://www.matosdecomer.com.br/.

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Claudia Visoni

Paulistana, jornalista, ambientalista, agricultora urbana e permacultora.