Olist: Osvaldo Santana

Cléber Zavadniak
clebertech
Published in
7 min readJan 21, 2017

Pois é. Lá vem outra postagem a respeito do Osvaldo. Mas, pensando em falar sobre como foi o dia-a-dia na Olist percebi que é difícil sem começar a falar sobre minha relação com ele.

Eu aprendi a programar em Python antes de Python ter esse hype todo que tem hoje. Na época, as pessoas olhavam com certa estranheza para o que chamavam de “linguagem de script”. E, nessa época, pesquisar por Python em sites do Brasil acabava levando, invariavelmente, a algum material desse tal de “Osvaldo Santana”.

Cheguei a mandar currículo para a Triveos, a empresa dele em que eu acreditava que conseguiria trabalhar — em uma job description imaginária muito vaga na qual que eu poderia ganhar o pão de cada dia programando em Python. É, eu sei. Eu era jovem. Na época, devia ser um currículo com mais paixão do que competência e muito provavelmente um excesso de ênfase no fato de eu estar cursando Ciência da Computação na UFPR (coisa que, atualmente, tanto eu quanto ele concordamos que não quer dizer muita coisa e passa longe de ganhar qualquer adjetivo como “essencial”).

Nunca recebi qualquer resposta, o tempo passou e eu simplesmente deixei pra lá. Continuei lidando com Python, mesmo quando meu emprego não dava oportunidade de uso e eu ganhava meu salário com C, Linux ou PHP. Minha primeira experiência profissional com Python acabou sendo em 2014 no Grupo Inlog, onde eu introduzi a linguagem lá na Engenharia (a parte que desenvolvia hardware) para criar alguns sistemas internos que eles precisavam. Vendi meu peixe mostrando que em Python eu conseguiria desenvolver tudo muito mais rápido do que se fosse aprender C#, que era a “linguagem padrão” da empresa. E deu certo. Mas havia duas coisas bem ruins por lá: a primeira é que fiquei muito tempo trabalhando sozinho, então não havia com quem conversar a respeito do código que eu fazia e a segunda é que, estando sozinho, eu tive que me virar com o que eu sabia e não posso dizer que aprendi tanto quanto teria aprendido trabalhando em uma equipe que lidasse na mesma pilha de tecnologia que eu, com code review, cobranças, troca de material de estudo, etc.

Em algum momento de 2015 adicionei o Osvaldo no Linkedin e ele aceitou. Ou foi o contrário. Não lembro, mas acho que é mesmo o primeiro caso. E ficou por isso mesmo por um tempo. Até que um amigo meu, o André Gustavo, foi fazer uma entrevista para trabalhar nessa tal de “Olist”. Depois que ele contou que não ia rolar, enviei meu currículo para a empresa (não lembro se na época eu estava trabalhando, mas desconfio que eu já havia sido mandado embora do Grupo Inlog) e aguardei.

Nesse meio tempo eu estava trabalhando em um projeto meu para começar, talvez, uma empresa própria (veja só). Afinal, eu estava desempregado. Fiz um modelo de produto e enviei para o máximo de contatos meus, buscando validar e melhorar a minha ideia. E enviei o link também para o Osvaldo, dia 22 de dezembro de 2015. Assim:

Oi, Osvaldo. Tudo bem? Amigo meu, o André Gustavo, contou que recebeu uma proposta sua para trabalhar com ele. Legal. O André é bom.

Gostaria que você visse, se possível, esta apresentação de slides que fala sobre um produto no qual estou trabalhando, o XXXXX: LINK PARA SLIDES DO GOOGLE.

Depois disso, poderia responder essa pesquisa com 7 perguntas simples? Estou vendo se a ideia é razoável ou se vai acabar só sugando meu esforço (e por esforço eu quero dizer dinheiro).
LINK PARA UM GOOGLE FORM

E, dia 24, recebi a resposta:

Oi Cleber,
Sim… até já vi seu CV no XXXXXXX. Só não tive tempo pra entrar em contato contigo ainda.

Pretendo fazer isso no início de Janeiro e já marcamos um bate-papo lá no escritório.

Obrigado,

Osvaldo

De fato, em janeiro eu fui lá no escritório da Olist e batemos um papo e acabei conseguindo o emprego.

Minha primeira impressão do Osvaldo foi ao estilo “eu imaginava você mais alto”, hehe! Mas, na verdade, de um jeito bem positivo. Eu não sabia o que esperar. Ele poderia muito bem ser um “engravatado” que se achava a última bolacha do pacote. Ou poderia ser do tipo que domina tão bem uma área de conhecimento que acaba tornando-se um esnobe, com dificuldade de comunicar-se com quem considera-se “inferior”. Ele poderia ser de muitas maneiras diferentes. Eu nunca havia visto nenhum vídeo dele ou algo assim — eu havia lido vários artigos dele, mas resumia-se a isso, basicamente, meu conhecimento da figura.

Pois recebe-me um cara praticamente da minha altura (e eu sou bem baixo), com cabelo despenteado (ele ia trabalhar de moto), barba por fazer e “camisetão mei véi”, praticamente igual eu quando fico o fim-de-semana todo em casa! (O que eu achei legal, porque é o tipo de “desprendimento social” que eu curto. Eu sou do tipo que usa “chinelão” no escritório, por exemplo.) Conversou comigo com simpatia e sem nenhuma “frescura”. Contei da minha experiência profissional e ele contou um pouco sobre a situação da Olist na época e o que ele pretendia implementar. Trocamos ideias e logo encontramos várias em comum. Foi uma conversa legal e tive uma boa impressão dele.

E eu entrei na Olist em janeiro de 2016 e começamos a por a mão na massa.

Lembro-me bem do dia em que fomos em uma das paredes de vidro do “aquário” para desenhar umas ideias de arquitetura que o Osvaldo tinha. Era basicamente a mesma coisa que eu tentava implantar no Grupo Inlog, onde trabalhei no ano anterior, mas sem sucesso. Havia um ou outro detalhe diferente, mas o conceito geral era muito semelhante. Comentei da escolha que havíamos feito, na época, de ter uma aplicação dentro da arquitetura (de microsserviços) que faria o armazenamento “central” dos dados. Conversamos um pouco sobre essa possibilidade e acabamos achando melhor distribuir também o armazenamento de dados (ou “os bancos de dados dos serviços”). Desenhamos algumas outras “pecinhas de Lego” (que foi como acabamos considerando os componentes devidamente padronizados da arquitetura) e vimos que aquele era um bom caminho a ser seguido.

Compartilhamos o gosto pela beleza da simplicidade e pela busca de bons padrões. Compartilhamos várias ideias a respeito de software e até hardware. E sobre carros. E temos ideias sobre política, economia e religião absolutamente opostas. No começo, essas diferenças pareciam uma bomba prestes a explodir. Mas todos os envolvidos (a Olist tem gente com ideias bem diferentes umas das outras, não apenas nós dois) foram aprendendo os limites e formas certas de abordarem certos assuntos. E isso, eu admito, me fez crescer muito como pessoa. Eu nunca havia sido exposto a um ambiente tão diverso, com gente de opinião tão distante da minha. E, no entanto, sempre me dei muito bem com todos. Houve “momentos tensos”? Houve. Mas foram poucos e, de fato, aprender a ter “jogo de cintura” para conversar ou não sobre determinados assuntos “polêmicos” e, ao mesmo tempo, manter o foco no ambiente profissional e nos resultados almejados, mantendo a cordialidade e respeito mútuos, foi uma grande conquista pessoal para mim.

Boa parte da minha experiência dentro da Olist tem a ver com a atitude do Osvaldo, como CTO, com relação às sugestões vindas da equipe e, especialmente, pela possibilidade de haver um debate saudável de ideias, sem “carteiradas” da parte dele ou de qualquer outra pessoa. E essas discussões e debates que tivemos geralmente levaram a soluções muito boas. Inclusive, minha impressão sobre a maioria das nossas conversas sobre arquitetura ou outro assunto que impactasse a plataforma tecnológica da Olist resume-se bem no diagrama abaixo (que deve ser lido de baixo para cima):

Às vezes era eu quem jogava a ideia inicial, mas na maioria dos casos, independente do autor, dificilmente a ideia permanecia a mesma. E, mudando, ela sempre melhorava — ou era descartada, é claro, se fosse o caso.

Para mim, isso serviu como uma espécie de “confirmação de competência”. Afinal, pense na diferença de experiência entre Cléber (menos de 12 anos trabalhando com programação) e Osvaldo (que lida com programação desde os MSX ou até antes)! Toda vez que eu colaborava assim para que uma solução boa se tornasse ainda melhor eu me sentia feliz, não somente pelo resultado, mas também porque, pessoalmente, era uma prova de que eu havia conseguido usar a minha “bagagem”, por menor que fosse, em habilidades úteis e construtivas. Eu consegui me tornar, sim, um bom profissional.

É claro que essa “pirâmide de melhoria de ideias” se aplica aos outros membros do time da Olist, tanto com o Osvaldo quanto entre eles mesmos. Mas minha ênfase, agora, é na minha percepção pessoal com relação a mim mesmo. E isso tem um significado bem legal. :)

No próximo artigo falarei sobre as coisas mais “técnicas” que aprendi na Olist. Até lá!

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