Nem sempre eu quero ser a “bicha closeira” que você aplaude

Rexistência Não Binária
2 min readOct 19, 2017

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Foto por Julieta Benoit

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Autoria: Mosir Barbosa

Relato quase-pessoal, mas nem tanto…

É uma realidade para muitas pessoas trans, tanto binárias quanto não-binárias (principalmente aquelas designadas homem ao nascer) que as pessoas esperem que sempre estejam bem produzides, bem vestides, com uma maquiagem super bem feita, as unhas perfeitas, o cabelo chamativo, sempre alegres.

A verdade é que algumas pessoas de fato gostam de ser o que algumas pessoas chamam carinhosamente de “bicha closeira”, mas, será que essa visão que as pessoas têm (que muitas vezes também atinge homens gays cisgêneros) não causa um certo grau de desumanização que passa despercebido?

Muitas pessoas quando pensam em uma travesti, mulher trans ou até mesmo em um gay afeminado, logo associam a essa pessoa uma construção quase irreal de alguém que está sempre muito bem arrumade, como se estivesse sempre indo para uma festa ou algo do tipo. Nos últimos anos vem surgindo um movimento de pessoas que aplaudem tudo que as “bichas closeiras” fazem, tudo que dizem, mas em algum momento essas mesmas pessoas esquecem que aquelas que essas “bichas” também sentem, também choram, também amam… e apesar de receber tanta atenção, dificilmente conseguem encontrar alguém que as enxerguem com interesses românticos, alguém que queira conversar e desenvolver um relacionamento.
Muitas vezes, por não se encaixarem em padrões cissexistas e binários de gênero essas pessoas não conseguem sequer despertar interesse sexual em outras pessoas que não seja de uma forma fetichizada ou hipersexualizada (muitas vezes tratasse dos famosos “travequeiros”).

O engraçado é que, apesar de tanta gente que tem essa postura de venerar as bichas, dentro da sigla, pessoas trans, travestis e homens gays afeminados são muitas vezes os alvos preferenciais de violência.

Então, é agora que a parte do “quase-pessoal” mencionada no início do texto entra: pessoas que aplaudem as “bichas closeiras”, lembre-se que nós (sim, nós, porque aquelu que vos escreve se encaixa nessa terminologia) também somos pessoas e nem sempre nós queremos ver você nos venerando ou gritando “ARRASA”. Nós queremos que você nos respeite, e aprenda a nos amar, aprenda a ter afeto conosco, criar laços, amizades, e se libertar de uma visão sexual cissexista e binarista que muitas nos coloca como máquinas inconscientes de sexo fácil.

Aprenda que por trás da bicha que você tanto “venera” existe um ser humano.

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