Empathycam: as histórias por detrás do instagram colaborativo da comOn

COMON
5 min readOct 31, 2019

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Era a minha primeira semana de trabalho na comOn. A Márcia Galrão, especialista em UI UX, iria começar um período sabático naquela mesma semana. Viajaria para a Asia, ficaria 3 meses e depois voltaria. Havia muita história para conhecer ali. Eu, ainda tímida, com o olhar na pontinha dos pés, fui até à mesa dela. Com um caderno novo numa mão e a caneta favorita na outra, sentei-me ao seu lado e perguntei o que me veio à cabeça. Era a minha primeira entrevista para a Empathycam, o instagram da comOn. Percebi naquele momento que de nada adiantava criar um roteiro grande, com perguntas pré-estabelecidas. A parte mais bonita das histórias normalmente mora no que escapa. Liberta-se na fluidez de uma conversa genuína, na troca de uma empatia sincera. Conversei, aprendi, escrevi o texto, li-o em voz alta no open space do HOOD e percebi que aquilo era-me natural. Minha equipa também achou isso e deixou-me seguir, com poesia e escuta.

Calma, calma, se calhar é melhor eu dar mais contexto. Pronto, eu sou a Julia Santalucia, e empresto palavras à comOn. Em termos mais corporativos, sou content writer. A entrevista sobre a qual falei no parágrafo acima acontece pela Empathycam, o instagram colaborativo da comOn. A ideia é simples: cada semana um colaborador faz a gestão desta rede social. Para isto, entrevistamos a pessoa, escrevemos um textinho sobre ela e publicamos as histórias em conjunto com uma foto.

Quem faz parte deste processo são os colaboradores da comOn. Uma empresa é feita de vários olhares e mostrar isto, nem que seja por uma semana, já é algo que precisa de ser valorizado. A nossa escolha ao ter um instagram especialmente para este efeito não foi fácil. É um canal estratégico, onde muitas agências publicam trabalhos, prémios, contratações. Mas a empatia é o nosso mote, e não podíamos olhar apenas para dentro. E mais do que isto: não podíamos ter apenas um olhar. Por isso, acabamos por reunir vários, e tentámos representar sobretudo o que não é trabalho.

Todas as entrevistas são um pouco de quem perguntou e de quem respondeu. É uma mistura. Acho que os textos deste canal representam muito bem a empatia. A história podia ter tido muitos rumos diferentes, mas porque coloquei aquela interrogação ali, a conversa foi para um lado e não para outro. É claro que eu tento ser o mais imparcial possível, porque afinal, a história não é minha. Mas depois de algum tempo percebi que, de uma maneira ou de outra, também é.

Com a Márcia Galrão lembrei-me da beleza do ir. A Beatriz Reis mostrou-me a importância de planear. Com a Joana Manaças aprendi sobre o deixar fluir. O André Cabral falou-me sobre a escrita como forma de identidade e a Márcia Carabinero sobre a escrita como maneira de processar as emoções. Por falar nisso, a Márcia Pedroso disse sobre os ganhos de sentir em demasia — chorar, sim, e muito! Nuno Ponceano falou sobre a beleza de ser paradoxal e a Meg sobre as belezas subestimadas no lugar chamado “hoje”. Com a Katherine Lahude percebi que o ativismo é um caminho só de ida e com a Gabriela Astride que é preciso ser flexível para seguir o sopro da vida. A Rita Machado declarou seu amor por motas e a Isabel da Fonte o seu amor pelos seus amigos. Já o André Martins defendeu que criatividade é experimentação, enquanto Francisco Botelho disse que descobriu o seu caminho por acidente.

Com a Ceci de Lucca eu repensei a minha relação com o consumo, e com a Jaque Arashida a minha relação com o silêncio. A Beatriz Gonçalves falou sobre uma nova forma de olhar para as fronteiras e o João Guerreiro fez-me olhar de forma diferente para os números. Com o Wil Carvalho conversei sobre representatividade e com a Inês Bastos sobre a importância de ser mais do que aquilo que já é. A Leonor Sousa falou sobre ser várias e a Rita Rodrigues sobre seus safe spots. O Luis Serra falou sobre a sua aprendizagem com os bonsais e os Bootcampers sobre a aprendizagem cá na comOn. A Neuza Armez defendeu que a melhor forma de viver é gozar consigo mesma, e o João Pereira me mostrou que não dá pra esconder as raizes capricornianas, mesmo que não acreditemos nelas. A Inês Carvalho fez-me pensar que temos sorte por não sermos uma pedra — é tudo feito de moléculas, afinal. O David Pires fez-me perceber que o amor pode ser mais simples do que a gente pensa. O Miguel Sabino falou sobre criar uma casa e o João Morais sobre quem o recebe no seu lar depois de um dia de trabalho. A Beatriz Botão, com a sua sede por descortinar as cenas, acabou me descortinando também. Com a Susana Torroais eu reapaixonei-me pelos pugs e com a Susana Quintãs quis me apaixonar pela dança.

Ufa, quantas histórias. Só agora percebi que estou a trabalhar na comOn há 30 Empathycams. É assim que conto o tempo, talvez porque mude o meu relógio cada vez que entro na história de alguém. Saio do meu calendário, coloco de lado o meu óculos transparente, e vejo o que cada um ali vê. Tem sido bonito.

Temos planos para a Empathycam, quem sabe fazê-la viver também em outros canais, escapar as paredes do instagram, ganhar voz, e encontrar mais pessoas dentro e fora do HOOD. São planos que precisamos refletir, mas uma coisa é certa: muitas histórias boas vivem aqui.

Obrigada a todas e todos que me emprestaram suas histórias, alinharam em passar uma hora a falar sobre a infância, as crenças, os planos, o que está escondido na última gaveta e o que nos faz relembrar quem somos.

Texto escrito com o coração nos dedos por Julia Santalucia

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