See It Be It: como foi participar do programa de Cannes para lideranças criativas do futuro

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4 min readNov 28, 2019

Por Gabriela Guerra - Creative Group Head at Saatchi & Saatchi| Cannes Lions See it Be it 2019 Delegate

As participantes na varandinha do Palais com Madonna Badger, Simon Cook e Louise Benson
Gabriela Guerra, participante do See It Be It em 2019
Hira, Nimo, Manoti, Gabriela, Rachel, Cécile, Jess, Josie e Liz / Foto: Ale Oliveira (@aleoliveira)
Na praia do Spotify, depois de uma sessão com a VP da companhia, Danielle Lee
Almoço feliz: pegando o barco para ir à ilha do Google

Um dia antes de o Festival de Cannes começar, eu estava sentada em uma varandinha do Palais com outras catorze criativas, apertando minha nova ecobag amarela contra as pernas, esperando. Aí entrou uma mulher alta de cabelos cinzas, com roupas de linho muito chiques e esvoaçantes e falou: “nada disso aqui vai mudar a vida de vocês”. Era Madonna Badger e essa foi a sessão inicial do See It Be It de 2019.

O SIBI foi criado como uma resposta à evasão feminina na criação das agências. Quando completamos 8, 10 anos de profissão, entendemos que aquela promoção não vem, que as oportunidades só aparecem para os bróders e que se os filhos chegam, chega também a cartinha de demissão. Então colocamos toda a nossa experiência e todo o nosso talento numa caixa de papelão e vamos procurar outra coisa para fazer. Por isso, desde 2014, o Festival seleciona quinze mulheres em momentos decisivos na profissão para um programa de suporte e aceleração de carreira.

Além de passagem, hotel e passe, as participantes ganham acesso VIP para festas, almoços e sessões de networking. Entrei em casas que só vi em reality shows (tirei foto do banheiro e mandei no grupo da família, sim, senhora), visitei uma ilha particular e já posso dizer que enjoei em um iate. Acho que a ideia dos organizadores é dar um gostinho das vivências das lideranças, do que podemos alcançar um dia, tipo ‘fica, vai ter bolo’. Para mim, o mais legal foi ver e tirar conclusões sobre esses acontecimentos por conta própria. Afinal, as histórias e aventuras que ouvimos sobre Cannes são sempre contadas por e pela perspectiva de homens.

Mas o programa é muito mais que isso. Durante quatro dias, também participamos de sessões de mentoria, workshops e conversas honestas com pessoas inspiradoras, gente que está mudando o jeito como as coisas são pensadas e feitas na propaganda. Peguei dicas para lidar com minha síndrome de impostora com a CEO da Publicis, Annette King. Ouvi Richard Ting, EVP e Chief Experience Officer da R/GA, dizer que anos atrás não teria coragem de falar sobre ele mesmo em uma rodinha com quinze mulheres. Também entendi, só de o ver ali, falando com os olhos baixos, que não preciso continuar brigando comigo mesma por ser introvertida em uma profissão tão escandalosa. Deixei todos os meus preconceitos de lado em uma sessão de coaching sobre resiliência com Tanya Livesey e voltei para casa com boas estratégias para lidar com meu pânico de reuniões. Conheci Cindy Gallop e, bom, ainda estou processando. Contei com a ajuda e os insights de Laura Visco e Maddy Krammer para esclarecer e elaborar o que quero do meu trabalho.

E o mais importante: convivi com criativas incríveis de todo o mundo, mulheres da Turquia, Romênia, Paquistão, Mexico, Gana, Austrália, Canadá. Dividimos nossos medos e angústias, corremos descabeladas e atrasadas pelos corredores do hotel em busca de um absorvente, um croissant sem presunto, um passaporte. O See It Be It é uma experiência maravilhosa em tudo que oferece: a ostentação cafona e irreal, o aprendizado imenso em um tempo tão curto, o privilégio de ver pessoas em cargos altíssimos tremendo de nervoso, a chance de reconhecer nosso próprio sofrimento e nossa força em outras mulheres.

Lá naquele domingo de junho, na varandinha do Palais, Madonna Badger fez uma pausa depois de dizer que o programa não iria mudar nossas vidas. Depois, completou: “mas vai ser incrível”. Foi mesmo incrível e, de fato, não mudou a minha vida. Mas transformou um monte de outras coisas.

As inscrições para o See It Be It 2020 estão abertas. Não deixe de se inscrever pensando que não é boa o suficiente. Todas têm chance — juro que não é conversinha motivacional, viu? Conte sua história, fale sobre seus medos e dificuldades, valorize o que você já fez. O SIBI não é para quem tem mais prêmios e conquistas, mas sobre o que você pode alcançar com a ajuda do programa.

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