Design para experiências formidáveis

Leo Queiroz
4 min readJun 7, 2017

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*Não se trata de ser ou parecer bonzinho: o design deve proporcionar experiências significativas

Nos dias 19 e 20 de maio estive presente na UXConfBR 2017, evento no qual a comunidade discute os mais variados tópicos sobre Design de Experiência e que tem atraído designers de todas as partes do Brasil e também da América Latina.

Na edição de 2017 muito se falou sobre diversidade, acessibilidade, inclusão e responsabilidade. Dimensões que representam grande risco à sustentabilidade dos negócios (e também do planeta!) caso não sejam abordadas com o devido cuidado durante um projeto. Tudo o que foi dito e ouvido, reforçaram uma convicção que já carregava comigo: o design tem que ser para todos.

Aplicando o design como conjunto de práticas e conhecimentos responsável por adaptar o entorno projetual às necessidades humanas (Lobach, 1976), é possível desenvolver UX de modo a proporcionar experiências memoráveis e promover o acesso das pessoas a soluções que respeitem diversidade física, biológica, cognitiva e cultural, sem deixar de lado o viés econômico.

De forma magistral, Beatriz Lonkis exemplificou isso quando “repreendeu” a comunidade por uma preocupação crescente e constante com as interfaces sem que, necessariamente, se leve em consideração situações contextuais, como uma limitação física temporária, ou um público que possa estar mais fora dos arquétipos que elaboramos para representar os usuários dos produtos e suas jornadas.

Sofia Férres, com a sua defesa da pesquisa etnográfica, e Thomas Castro, que sugeriu boas práticas em formulários de cadastro, também ajudaram a reforçar a ideia de que as pessoas não são binárias e que corre-se graves riscos ao tentar limitar seu público a estereótipos e opiniões enviesadas.

A vida também não não é 0 ou 1. Alessandra Nahra não usou essas palavras, mas deixou o convite para uma reflexão profunda quando nos indagou sobre que projeto de mundo ajudamos a construir com nosso trabalho. É comum ouvir que trabalhamos em UX para mudar o mundo e tornar a vida das pessoas melhor, mas há um sério risco de esse mantra se tornar uma falácia quando usado para disfarçar um único e claro propósito: trabalhamos pra ganhar dinheiro e pagar contas. De forma convergente, Natália Arsand, afirma que, enquanto somos consumidores e designers, somos guardiões dos portões para um futuro mais sustentável e saudável para nós como humanidade e para o planeta em que vivemos.

Trocadilho infame e divertido para um café formidável

Devemos nos atentar a esses vieses o quanto antes, caso ainda não o façamos. Alvaro Garrido, que tem atuado em industrias agrícolas defende que, a despeito dos títulos, as principais ferramentas para projetar uma boa experiência devem ser a capacidade de observação, associada a um sentido, uma proposição de valor carregada de empatia. Foi isso que (o cara que fez todo mundo chorar) Franz Figueroa deixou claro quando demonstrou que, enriquecendo UX é possível salvar vidas e ajudar crianças órfãs e abandonadas a conseguirem novos lares.

Esses foram apenas alguns exemplos sobre o que falei a princípio. E o que todas essas pessoas estão falando e fazendo, aplicando conhecimentos e práticas em UX e design, não é tão recente. Todas essas histórias me fizeram lembrar, por exemplo, do trabalho de Victor Papanek com a Unesco, nos anos 70.

Posicionar-se no mercado lançando soluções com as tecnologias mais modernas e ideias mais inovadoras e rentáveis não é suficiente. Promover acessibilidade não é suficiente. É necessário associar criatividade e sensibilidade com humanidade para compreender a realidade que cerca a cadeia e o ciclo de vida do seu produto. Essa é uma das partes mais críticas do nosso negócio, pois pode estragar uma boa ideia ou mudar a história inspirando as pessoas, o que irá fortalecer sua marca e gerar valor e resultado.

Esse trabalho não se encerra quando você lança seu produto. Aliás, como o Robson Santos, ao nos apresentar a expressão “design karma”, explicou, seu produto nunca está finalizado. Nosso karma é reavaliá-lo com uma certa frequência (como se faz no Plan-Do-Check-Act — PDCA), de modo a revitalizá-lo, ou, até mesmo, descontinuá-lo. Nesse chegamos a uma decisão muito difícil a ser tomada, que pode ser direcionada, entre outras coisas, pelo feeling e por métricas adequadas (aquelas defendidas e divulgadas por William Sertório).

Abordar tudo o que foi discutido na UXCONF 2017 não foi a pretensão deste texto, até porque outras pessoas já o fizeram muito bem!. A pretensão foi transmitir uma grande lição extraída do evento: o design deve expressar não só a experiência e as referências determinadas pela sociedade durante a sua época. Ele pode indicar novos e melhores rumos para proporcionar experiências mais significativas, valorizando as diferenças humanas e gerando bons negócios por meio disso.

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Leo Queiroz

Design, Belém/Brasília, açaí, Paysandu e trollagens diversas