Versalhes: O dilema dos vencedores

Uma lição histórica sobre tomada de decisões no campo político e econômico

Contemporaneum
4 min readJan 4, 2015

Por Roberto Carnier

O tratado de Versalhes pode ser explicado em uma única palavra: ingenuidade. O Idealismo pronunciado por Wilson através de seus 14 pontos fora um choque contra a Realpolitik europeia, propondo aos países do velho mundo princípios tais como diplomacia aberta, desarmamento geral, a remoção de barreiras de comércio e o princípio da legitimidade das nações. O intuito de um mundo sem guerras, uma utopia de boa fé, infelizmente provou ser falsa, levando a consequências estarrecedoras aos países perdedores, sendo usurpada por uma diplomacia sem inteligência e do medo.

Uma das primeiras falhas do Idealismo de Wilson, assim como aponta Kissinger em Diplomacy, fora aplicar o conceito de Segurança Coletiva ante alianças militares. O Mundo precisava se livrar o quanto antes da velha ordem mundial, do equilibro europeu do século XIX, e portanto a solução do presidente norte americano era unir diversos países em prol de uma causa única, através de leis internacionais e de um órgão internacional representados por países, dentro de uma Segurança Coletiva de países.

O problema desse conceito era bastante simples: O princípio de segurança coletiva não define uma ameaça enquanto as alianças já são realizadas baseadas em uma ameaça definida. O casus belli da segurança coletiva é a violação da paz entre nações que possuem o interesse comum. O conceito de união só funciona quanto todos os países estão de acordo com uma causa única. A estratégia de coletividade infelizmente provou ser inadequada diante de um cenário delicado como a Europa pós 1GM.

O cerne do problema era que a diplomacia europeia acreditava que os interesses das nações eram primordiais, únicos e sempre suscetíveis a conflitos. A aplicação das teorias de Wilson foram executadas as avessas pelos europeus como uma ferramenta para destruir os perdedores. Aqui falamos de França-Inglaterra VS Alemanha.

Para os aliados: A Culpa de uma intriga de alianças militares formadas no século XIX, a corrida armamentista entre 6 nações e o assassinato de um herdeiro teve como culpa unicamente de um país: Alemanha.

Para evitar que a Alemanha ressurgisse como uma principal potência, assim como fora após a sua unificação em 1870, com um setor secundário forte e superando a produção interna bruta da França e Inglaterra juntas, as imposições colocadas a Alemanha foram: o desmantelamento de seu exército, uma dívida gigantesca por “terem ocasionado a guerra” e, utilizando-se do princípio da legitimidade das nações, bloqueio da Prússia oriental através da criação do Estado Polonês. Tudo isso com o objetivo de manter o país fora do cenário político-econômico .

Utilizando do conceito proposto por Joseph Nye Jr, o Smart Power, veremos que o que os vencedores da 1GM fizeram contra a Alemanha foi extremamente errado, senão extremamente individualista.

Ao definir Poder, Nye cita que ele pode ser dividido em Poder Duro e Brando ( Hard e Soft). Poder duro é pressão; poder brando é influência. Plenamente definido, o poder brando é a capacidade de afetar outros utilizando meios cooptativos de ajuste da agenda, persuasão e produção de atração positiva para a obtenção dos resultados preferidos.(Nye).

O Conceito de Smart Power, ou poder inteligente é a utilização das duas situações em um determinado contexto. Em Versalhes, o individualismo dos estados, a ganância, e a falha estrutural da Liga das Nações, fizeram com que, ao invés da cooperação dos Estados, ao tentarem reconstruir a Alemanha, possibilitou a ascensão de partidos extremistas e um sentimento de revolta do povo Alemão — senão vingança. Aqui, a coerção poderia ser dada com exemplo caso o tratado de agressão fosse quebrado e a cooperação entre estados deveria ser estabelecida com o intuito de que todos se unissem de uma forma econômica plena. Além disso, a reestruturação de economias como a Alemanha poderia ser frutífera em termos econômicos. Os EUA aprenderam muito bem essa lição no pós 2GM, através do Plano Marshall.

Keynes cita em seu livro, The Economic Consequences of Peace, escrito em 1919, que as principais falhas de Versalhes foram que a Europa jamais poderia ser próspera sem um sistema econômico igualitário e integrado, além de que as compensações territoriais e as reparações econômicas era não condizentes com o que fora proposto inicialmente.

O autor britânico fora um profeta e esteve certo. A Alemanha não conseguira se recuperar economicamente, ocorrera um racha político gigantesco em unidade territorial e a moeda alemã sofreu uma hiperinflação onde 1 dólar comprava 4.3 trilhões de Marcos. No final, um partido de extrema direita chegou ao poder, colocando a nação em uma nova guerra mundial, como resultado posterior a desconfiguração da ordem internacional para sempre.

Versalhes é um fato a não ser repetido e uma mensagem a atual ONU. A Reestruturação urgente de seus mecanismos devem ser colocados em pauta. O Mundo vive em uma crise econômica e os países pensam mais em si do que na cooperação, já que a desconfiança aumenta nas relações exteriores. A Invasão do Iraque em 2003 é a prova da que a credibilidade da ONU esteve em cheque.

Utilizar da cooperação e da coerção devem ser analisados com muito cuidado de acordo com o contexto, principalmente quando falamos em conflitos. Utilizar a inteligência é fator primordial ante a ganância e individualismo cegos.

Bibliografia

Henry Kissinger — Diplomacy — 1994 — Ed Simon & Schuster Paperbacks

Joseph Nye Jr. — O Futuro do Poder -2012- Ed. Benvirá

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Um Blog sobre História e Geopolítica — A blog about History and Geopolitcs — Editor Roberto Carnier