A Realidade do Idoso Institucionalizado

Amábile Lúcia Corrêa
3 min readNov 24, 2015

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O envelhecimento da população e o aumento da longevidade de pessoas com capacidades física, cognitiva e mente reduzida, requerem cuidados especiais, nisto entra o papel dos asilos e casas de repousos, que acabam funcionando como assistentes sociais.

O crescente aumento número de idosos nos asilos é uma consequência da sociedade contemporânea, onde a beleza e a juventude são super valorizadas, já a velhice é associada ás doenças. Devido à falta de programas destinados à velhice e a precariedade da rede de Assistência Social, todos os problemas que a comunidade não consegue resolver são encaminhados aos asilos. Os asilos recebem principalmente pessoas com distúrbios psíquicos ou deficiência mental, já que não existe nenhum outro serviço de saúde ou de assistência social para essas pessoas, que precisam de cuidados mais delicados e especiais. Outro fator que leva os idosos aos asilos é relacionado ao aumento na expectativa de vida. Segundo dados do censo 2015, realizado pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) a expectativa de vida da população brasileira subiu para 75 anos, 2 meses e 1 dia, na comparação com 1980, o brasileiro ganhou mais 10 anos, 7 meses e 6 dias.

O abandono

Os velhinhos da Casa de Repouso da Imaculada Conceição quase não recebem visitas. A instituição é aberta diariamente para visitação, porém, poucos familiares aparecerem. Alguns abandonam os pais ou parentes e nunca mais volta, e sempre dão a desculpa de que nunca tem tempo. Eles disfarçam e tentam demonstrar que não se importam, ou se distraem com outras coisas, mas são perceptíveis a tristeza e o vazio no olhar perdido, descrentes da vida e do futuro que lhes aguarda.

Durante a semana os idosos recebem visitas de grupo de oração, algumas escolas, grupos do Serviço Social, professores e assistentes sociais, entre outros que também ajudam com doações e interações de atividades.

A demência

Algumas pessoas que residem na Casa de Repouso têm algum distúrbio psíquico ou deficiência mental e são dependentes, pois já não conseguem realizar atividades básicas sozinhos, como tomar banho e alimentar-se. Esse também é um fator que leva as famílias a deixá-los entregues aos cuidados de pessoas mais especializadas, por não saberem lidar com essa situação.

A funcionária Andrielly trabalha há dois anos no asilo, muito dedicada e carinhosa com os velhinhos, sabe contar a história de cada um deles. Conforme Andrielly, o dia a dia na casa é tranquilo. Pela manhã, eles se reúnem para tomar café no refeitório, exceto aqueles doentes que precisam de cuidados especiais. Muitos vivem em cadeira de rodas, e alguns já não conseguem sair da cama.

A ilusão

Alguns deles foram levados até o asilo pelos familiares, inclusive pelos próprios filhos. Há casos em que eles são enganados pela família, que diz que os mesmos vão fazer um tratamento por um determinado período de tempo e que assim que ficarem reestabelecidos voltarão para a casa. Entretanto, o tempo passa e eles vão ficando, cinco, dez, quinze anos, ou até mesmo até o fim de suas vidas.

Conforme Elza Maria Rodrigues, enfermeira, funcionária do Asilo, são diversos motivos que levam os idosos até ali. Alguns chegam ali doentes, com problemas mentais, ‘’eles trabalharam uma vida inteira, e quando ficam mais velhos, doentes, usando fraldas, e já não conseguem mais desenvolver as atividades diárias, como se alimentar e tomar banho sozinhos, a família procura uma forma de interná-los, até pela falta de tempo e de tato para lidar com essa situação’’. Afirma Elza. Muitos chegam no asilo com sequelas de AVC, diabetes, hipertensão, entre outros. Na casa eles têm cuidados médicos que funciona diariamente.

A tranquilidade

Alguns souberam enfrentar a realidade e ver nela um aspecto positivo. É o caso do seu Elísio 74 anos, natural de Imbituba, que vive no asilo há 3 anos. O motivo que a levou ele a chegar até o asilo é bastante triste, ele conta que tinha um filho que sofria de depressão e acabou se suicidando. Mesmo com todo esse acontecimento trágico, seu Elísio continua vivendo com um sorriso no rosto e brincando com as enfermeiras e funcionárias da casa.

Elísio fez questão de mostrar a cozinha, a sala, os quartos de seus companheiros amigos, a escrivaninha com ursos de pelúcias e algumas até com bonecas, a cama com colchas, porta — retratos e a plantação de alimentos que eles mesmo plantam e colhem. Na casa de repouso, ele encontrou um segundo lar. “Muito sinto muito bem e tenho uma vida calma e sossegada”, afirma.

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