Por que o Terry Richardson é importante?

Costa Lara
19 min readAug 2, 2015

Todo mundo odeia ele. Normal, todo mundo é burro e geralmente ninguém entende nada mesmo. É por isso que eu estou aqui explicando.

O negócio é o seguinte: esse negócio de fotografia comercial só é legal pra quem tá olhando de longe. Mas pra quem é a parada mesmo, é uma merda. Porque no final das contas são tantos medos de tanta gente, o medo do cliente, o medo do diretor de arte, o medo do produtor, o medo da modelo… é medo desaguando de tudo que é lado na sua cabeça. E é por isso que fotografia publicitária tem aqueles estúdios enormes, 12 assistentes, Hasselblad, luz pra cacete, pra depois photoshopar tudo emborrachado e imprimir do tamanho de uma revista naquele papel de merda sem resolução nenhuma ou até pra jogar na net com 600px de largura. Ninguém tá preocupado com qualidade, tá todo mundo é com medo, um com medo do outro, e aí vira um rolê que por conta do medo as pessoas acabam caindo nessa mentalidade de viver pra tirar o cu da reta e aí com o tempo as pessoas vão juntando mágoa e passam a uns querer foder os outros e ninguém quer ser o “outros”, daí o fotógrafo é obrigado a montar um circo do caralho pras pessoas se sentirem seguras, ancoradas.

Só que aí ancora o fotógrafo tb, e ancorar Artista é burrice né?

E DAÍ, COSTINHA?

Calma porra eu vou chegar lá… Vamos então na História da Arte, porque recordar é viver!

Teve um cara que sujou a mão numa lama vermelha e deu uma mãozada na parede da caverna. E deu outra, e outra, e deu várias mãozadas na parede, igual a um retardado, e a galera quando viu começou a imitar, porque eles eram o bonde dos retardados. Foi aí que começou a História, não só da Arte, mas toda ela.

O Ser Humano sem Cultura é um macaco bêbado:

E com Cultura é o Pollock, que tb é bêbado:

Fast forward, mil coisas que vc não está interessado em saber porque se estivesse interessado já saberia, aconteceram, até que alguém inventou a fotografia. A idéia de uma caixa com um buraquinho já existia antes da fotografia inclusive, o pessoal usava pra pintar e tal.

Ahhhh alá! Nêgo é malandro, né?! :D

O lance é que não tinha ainda um material foto sensível. Então os cara olhavam lá dentro e desenhavam ou pintavam o que tavam olhando. Daí alguém arrumou um material foto sensível, e depois outro cara deu um jeito de fixar a imagem, pra ela não continuar foto sensível e ficar preta quando vc tirar da câmera. Não entendeu? Foda-se, o ponto não é esse. Eu só estou fazendo um resumo porco pra poder chegar no meu ponto. História da Arte é um negócio fartamente documentado e cujo campo de debate é interessantíssimo, fértil, cheio de correntes que convergem e divergem sem nunca chegar em conclusão nenhuma, é um jogo de poker onde vc pode desenhar as cartas que quiser e colocar no jogo, é uma coisa de maluco, é o jogo dos jogos, é o testemunho civilizacional, é o jogo da Vida. Se vc não conhece e não está jogando, é problema seu. Vc tem internet então vc não tem desculpa.

Pois bem, com a invenção da fotografia todos ficaram maravilhados e “fudeu pra pintura”, certo? Errado! A Fotografia é bem pior do que a Pintura, apesar da Pintura estar com a validade vencida pra gente aqui agora. A Pintura escolhe como quer ser, a Fotografia só escolhe o que quer ver, e mesmo assim, escolhe mais ou menos:

Vc se sente triste por ter decepcionado seus pais e ter virado fotógrafo, mas a Fotografia já está aí decepcionando as pessoas desde sempre. Não se castigue, é assim mesmo. :)

Então vc entendeu a diferença intransponível entre a Fotografia e a Pintura? A Pintura é uma ADIÇÃO de coisas que vc constrói com uma matéria sem qualquer pré concepção, tinta vem num tubo de pasta de dente, e daí vc vai colocando tinta lá, adicionando, adição essa que vai dar em UM objeto. Já a fotografia RETIRA do ambiente as coisas, de maneira meio voluntária, meio involuntária, e as coisas vem com os seus pré significados porque elas já estão no mundo antes de vc e tb vem com o ruído do que está em volta delas, e o que a Fotografia escolhe retirar mais o que vem junto sem querer dão origem a um objeto MÚLTIPLO.

PORRA COSTINHA ENTÃO UMA COISA É O CONTRÁRIO DA OUTRA?

Porra que pergunta idiota… é por aí, mas calma que depois junta de novo.

Daí as pessoas foram entendendo isso com o tempo e com a popularização da prática: que a Fotografia é uma parada vulgar, vagabunda, de última ordem, que qualquer macaco da NASA consegue fazer.

Saudades do Virgílio…

E então a fotografia ficou cagada pra Arte e as pessoas começaram a usar fotografia só pra registrar as coisas mesmo:

E daí as pessoas passaram a acreditar que a fotografia era verdade sempre.

Vc não sabe se essa porra é verdade mesmo, vc só viu uma foto. Dá pra saber que é verdade olhando o Sol a partir de diferentes lugares e fazendo conta, mas não vem me dizer que vc fez as contas, vc nem sabia que essa conta existia, vc viu a foto e acreditou.

E foi aí que os mentirosos pularam em cima da fotografia e a festa começou! \o/

E foi um pulo grande assim e rápido por isso que vc não entendeu. Mas tem eu aqui. E eu te explico tudo, porque eu sei tudo.

eu acordando

Primeiro um aviso importante: Tem vários caras que falam várias coisas sobre a História da Arte e vc pode concordar e discordar do que vc quiser, porque não vai ter nenhuma prova no final do semestre. Se vc quiser acreditar que foi o ET, tá valendo, não tem problema. Então isso que eu vou falar é o que eu acreditei e que achei que faz sentido, das coisas que eu li e ouvi. Outras pessoas vão dizer outras coisas, principalmente se elas estudaram Arte formalmente, o que é sempre uma pena. Mas se vc quisesse opinião de papagaio vc não tava aqui, né? :)

Tá, vamo aí: Lá nos anos 70 rolou uma parada no MoMA que nêgo percebeu que as fotografias nos livros, aquelas mesmas que tavam sendo tratadas como mera merda fotocopiada da vida, tinham de certa maneira uma concepção de estilo que se referia sim a coisa fotografada mas SOB O PONTO DE VISTA DE UM AUTOR. Que haviam, mesmo nos trabalhos de intenção puramente documental, um sujeito a ser desvendado não no objeto representado na foto, mas um personagem muito mais complexo, misterioso e interessante: O cara por trás da foto, que teria que ser desvendado então a partir da interpretação de um CORPO de trabalho, a partir das escolhas desse cara que se repetem, e tb das coisas que esse cara repetidamente deixa entrar junto com as coisas que ele escolhe. Como um cara aí disse num livro que vc não vai ler: “Tais elementos serão, assim, reclassificados de acordo com o novo valor que adquiriram, o qual decorre agora dos “artistas” que fizeram as fotografias. Portanto, o que antes se encontrava localizado na Seção Judaica sob a classificação “Jerusalém” passará a ser encontrado em Arte, Material Impresso e Fotografias sob a classificação “Auguste Salzmann”. O que era Egito virará Beato, Du Camp ou Frith; a América Central Pré-Colombiana será Désiré Charnay; A Guerra Civil Americana, Alexander Gardner e Timothy O’Sullivan; … um cavalo em movimento agora é Muybridge; o voô dos pássaros, Marey…“ E aí desmontaram os livros de foto todos e penduraram tudo na parede como se fosse quadro, chamaram o Ansel Adams pra benzer e ficou essa indefinição de não caga nem sai da moita: Fotografia é o quê?

O Ansel Adams perguntou pra Imogen Cunninghan se ela sabia qual o animal que deixa pôr a mão no ombro. Daí ela respondeu que no ombro ela não sabia, mas na cabeça é o Cervo Chupador do Canavial. À direita Jerry Uelsmann.

É o que vc quiser: Pode ser uma foto de uma paisagem, que pode até ser uma macaqueação do que as pessoas esperam de uma pintura de uma paisagem, por exemplo. Mas se vc falar que aquela macaqueação é na verdade um olhar pro Yosemite, que precisa ser preservado, que é um tesouro nacional, que a natureza, que a ecologia, que a humanidade blablabla blablabla, vc vira o Ansel Adams.

Sim, Ansel Adams, a musa dos fetichistas da fotografia objetificada foi o cara que abriu a cisão com o que é conhecido por “Fotografia de Fotógrafos” pro caminho que hj a gente chama de “Atividade Fotográfica no Pós Modernismo”. Ou vc tava mesmo achando que o mérito do cara foi passar metade da vida carregando equipamento pesado no meio do mato e a outra metade enfiado num laboratório sozinho masturbando negativo? Ninguém vira a História de nada por sair por aí como um maníaco com um fotômetro num bolso e um densitômetro no outro. Então vc que vive aí vociferando contra o pós moderno que é uma enganação e não sei o quê mais, e chupando o ovo de velha dizendo que “bom mesmo era o Ansel Adams”, fique sabendo que quem meteu a Fotografia nessa palhaçada de pós modernismo foi ele.

Eu estou repetindo algumas fotos pra enfatizar o caráter múltiplo da fotografia, e como ele se reflete até mesmo no modelo de argumentação no pós-moderno, que é sempre autoreferente, circular, como uma espiral. :)

Daí aqui é onde vc desce das minhas costas e começa a caminhar com as suas próprias pernas. Porque é essa Fotografia, a tal da Pós Moderna, que é dos 70 pra cá, a que interessa. Por causa dela veio essa primavera civilizacional que é a Arte Pós Moderna toda, que pode ser um caracol de pedra ou um monte de espelho enfiado lá na puta que pariu da selva:

Ou pode ser uma mulher histérica:

Ou pode ser o filho mais bonito da civilização ocidental:

Ou pode ser só mentira mesmo:

Mas o importante é o seguinte: Mesmo quando é mentira, existe. Não me xinguem, xinguem o Wittingestein e aquele bando de filha da puta da Escola de Frankfurt. Xinguem o Schopenhauer, xinguem o Hinduísmo, xinguem o “Matrix” do Keanu Reeves, xinguem quem vcs quiserem mas não me xinguem, porque não fui eu que inventei essa merda.

E existe mesmo quando vc não vai lá pessoalmente ver, porque alguém sempre tira uma foto, e outro alguém escreve alguma coisa sobre aquilo e coloca a foto junto do que escreveu, e a foto vai parar onde?

Mistééério…

NUM LIVRO, DE NOVO, AQUELES QUE ELES TINHAM DESMONTADO E CHAMADO O ANSEL ADAMS PRA PENDURAR NA PAREDE!

Então meu filho, o lugar da Fotografia não é na parede. Quanto mais nêgo faz força pra colocar na parede, mais ela volta pro livro. Porque o que interessa são as pessoas, tanto as que fizeram as fotografias, quanto as que acham alguma coisa interessante o suficiente sobre aquelas fotografias. Não são os objetos, É A REDE! \o/

São as relações o que importa: Vc tem esse cara, o Artista/Fotógrafo/Anti-Fotógrafo, e ele é o enigma. Porque ele não está mais a serviço de um ofício, como um egípcio que desenha em pirâmide ou um calígrafo japonês, mas é o ofício que está a serviço dele como uma interface pra propôr uma maneira de viver que requer um entendimento das coisas que é mais amplo, complexo e aprofundado do que a linguagem verbal seria capaz de dar conta de transmitir.

As pessoas fazem performances que acabam, e mesmo que essas performances sejam repetíveis, as pessoas morrem um dia. Elas tb fazem coisas com materiais perecíveis, com outros seres vivos sejam humanos ou não, fazem coisas que são grandes ou pequenas demais pra serem vistas pessoalmente ou visitadas, e algumas até pegam coisas que estão ali acontecendo na vida, tiram uma foto, e contextualizam. Na verdade todas fazem a última coisa.

https://www.facebook.com/bonecosdenevebrasileiros?ref=br_tf

Então a Arte virou a Vida e a Vida virou a Arte. Vc só precisa tirar uma foto, imprimir, parar do lado dela e contar a sua história.

Pô eu até chorei aqui agora escrevendo isso, gente. Pqp, se vcs soubessem do que essa maluquice toda aí me salvou…

É claro que as outras categorias não acabaram, mas se transformaram: A Escultura só voltou a fazer sentindo quando o Richard Serra derreteu chumbo e jogou tudo de qualquer jeito num canto de uma galeria, e foi tão de qualquer jeito que ele jogou o chumbo lá, que se vc tentasse tirar a “obra” de lá, vc destruia ela, ia acabar só com um monte de chumbo na mão. Ele adereçou o que os péla saco da Arte chamam de “Especificidade Material e de Localização”, eu vou falar mais sobre ele e sobre isso no futuro aqui. Da mesma maneira, o Vik Muniz ressuscitou a Pintura tb adereçando as mesmas questões. Porque é a Natureza e o Contexto das coisas o que importa, foda-se o objeto. E é por isso que as coisas do Vik Muniz, por serem naturalmente perecíveis, e as coisas do Richard Serra, por serem socialmente perecíveis, são no final das contas, fotos.

“A vida é breve,

a arte é longa,

a oportunidade passageira,

a experiência enganosa,

e o julgamento difícil.”

HÁ! Pegadinha do Hipócrates, cara! IÉ-IÉ!

AÍ TÁ… MAS E O TERRY RICHARDSON, O QUE TEM A VER COM ISSO?

Calma porra, a vida é complicada. Se tá muito simples é porque vc não entendeu, entender as coisas dá trabalho, é assim mesmo. Eu vou chegar lá, não esqueci dele não.

Mas daí então essa é a nossa situação agora: Acabou o fetiche do objeto: o catálago é a exposição. Acabou o Museu e a Arte virou uma Biblioteca. E acabou tb esse negócio de vender e comprar objetos, galeria, marchand… se o objeto não vale mais nada, então tudo isso virou mentira.

E é por isso que vc não sabe nada disso: Porque os Artistas não contam pra ninguém porque tão sempre com medo de virar mendigo, e as “pessoas da Arte” não contam pra ninguém porque elas não tem nenhum talento e não sabem fazer nada além de ficar ali em volta de Artista e arrancando dinheiro de trouxa. Aí vc fica lá na vernissage na Vila Madalena, todo mundo com aquela cara de que tá cheirando peido mas ninguém tem coragem de perguntar quem peidou.

Aí teve um cara que escreveu sobre isso, e sobre muitas outras coisas, e um dos motivos que eu sou um cara esperto assim é porque eu dei a sorte de conhecer ele logo no início da minha trajetória intelectual, e antes de ler quase tudo que eu li eu já tinha lido TUDO dele, e o nome dele é Hakim Bey. Vc pode ler tudo que ele escreveu, de graça, aqui: http://hermetic.com/bey/

Mas não leia se não quiser transformar a sua vida completamente, porque ele vai te fazer ter nojo do que vc é, então depois de ler ou vc vai tirar energia do fígado pra mudar sua vida TODA, ou vai se jogar pela janela de desgosto com vc mesmo.

Mas o texto a que me refiro é esse aqui: http://hakimbey.blogspot.com.br/2006/12/vernissage-bem-arte-morreu-e-agora.html

Onde eu quero destacar essa parte:

“1. Não há questões. Não existe esse negócio de sexismo, fascismo, especismo, visualismo, ou nenhum outra “franquia de questão” que possa ser separada do complexo social e tratada com um “discurso” como um “problema”. Há apenas a totalidade que divide todas estas “questões” ilusórias na completa falsidade de seu discurso, fazendo de todas as opiniões, prós e contras, em apenas bens-de-pensamento para serem compradas e vendidas. E esta totalidade é ela própria uma ilusão, um pesadelo maligno do qual estamos tentando (através da arte, do humor, ou de qualquer outro meio) despertar.

2. Tanto quanto possível, qualquer coisa que façamos deve ser feita fora da estrutura psíquica/econômica gerada pela totalidade como o espaço permissível para o jogo da arte. Como, você pergunta, nós ganharemos a vida sem galerias, agentes, museus, publicação comercial, a NEA* e outras agências em benefício das artes? Bem, ninguém precisa pedir pelo improvável. Mas ainda devemos exigir o “impossível” — ou então, por que catzo uma pessoa é artista?! Não é o suficiente ocupar um pedestal sagrado e especial chamado Arte de cima do qual se zomba da estupidez e injustiça do mundo “quadrado”. A arte é parte do problema. O Mundo da Arte enfiou sua cabeça na própria bunda, e se faz necessário sair disto — ou então viver em uma paisagem cheia de merda.

3. Claro que se deve “ganhar a vida” de alguma maneira — mas o essencial aqui é viver. Seja o que for que fizermos, qualquer que seja a opção que escolhamos (talvez todas elas), o o quanto nos comprometamos, devemos orar para nunca confundir arte com vida: a Arte é breve, a Vida é longa. Devemos estar preparados para navegar, nomadizar, escorregar de todas as redes, nunca estabilizar, viver através de várias artes, fazer nossas vidas melhores que nossa arte, fazer da arte nosso grito no lugar de nossa desculpa.

4. O riso que cura (em oposição à gargalhada corrosiva e venenosa) pode apenas surgir de uma arte que é séria — séria, mas não sóbria. Morbidez sem sentido, niilismo cínico, tendências de frivolidade pós-moderna, resmungar/praguejar/reclamar/ (o culto liberal da “vítima”), exaustão, hiperconformidade irônica Baudrillardiana — nenhuma destas opções é séria o suficiente, e ao mesmo tempo nenhuma é intoxicada o bastante para servir aos nossos propósitos, muito menos para merecer o nosso riso.“

Bom, se vc veio até aqui, vc é capaz de entender o que ele está falando aí.

Mas o Hakim Bey nesse texto foi filho da puta. Porque em vários textos dele, ele começa com um questionamento, faz uma crítica, e depois faz uma proposta. Nesse ele não fez proposta, ficou no “se fode aí fio, cabou a Arte desse jeito aí, tem que arrumar outro”, mas não disse qual era o outro.

E aí? Cabou a Arte?

Cabou.

Até o Terry Richardson. Aí começou de novo.

Eu na rua Augusta, num dia que eu falei isso que o Terry Richardson salvou o pós modernismo na frente de um monte de gente que estudou Arte em escolas tradicionais, dessas que trabalham dentro do padrão formal de repetição que as pessoas que frequentam escola gostam.

Aê, cheguei no Terry Richardson! Ufa! \o/

“PORRA NENHUMA, EU QUERO É PUTARIAAAAAAAA!”

E as pessoas que são sinceras a gente pode não gostar, mas a sinceridade é sempre uma coisa que de um jeito ou de outro merece o nosso respeito.

Então vamos lá, sobre o Terry Richardson: Vc conhece o pai dele?

Esse é o pai dele, o Bob Richardson:

own…

E esse é o trampo do pai dele:

Que como vc vê aí, era um cara super em dia com a técnica, e com o contexto clássico, enfim, não é falar mal do cara que ele é excelente, nota 10, mas a despeito de ter uma novidade aqui e ali como todo trabalho bom tem que ter, não tem nada assim realmente revolucionário, o pai é uma cara que se referiu ao clássico com reverência.

E aí vc tem duas opções na vida. Ser aquele bundão do filho do Patrick Demarchelier, ou jogar tudo pro alto, começar do zero, nadar contra a corrente e dar pro seu pai o maior dos orgulhos que um pai que é fodão na vida pode ter: SER MELHOR QUE ELE!

E daí vc já entendeu, né? O único jeito de ser igual ao seu pai sem ser um macaco de imitação é ser um ESPELHO dele, é ser ele ao contrário. E o pai do Terry Richardson que era da luz, do contraste, da composição, do perfeitinho, não deixou outra opção pro filho senão virar o rei da fotografia esculhambada.

E por que então essa fotografia esculhambada interessa?

Em primeiro lugar vc precisa entender que a fotografia que o cara faz é esculhambada de propósito. E a mensagem a ser decodificada é que “fotografia de fotógrafo não interessa”. O que ele está propondo é uma maneira de viver, que vai fazer vc refletir, e mesmo que vc discorde de tudo, vai servir pelo menos pra vc ter um pouquinho mais de certeza sobre o que vc está fazendo com a sua vida nem que seja por oposição ao que ele está fazendo com a dele.

E isso daí que é Arte. Não é uma porra escrota, colorida e cara que ninguém entende pendurada na parede. É a vida das pessoas.

TÁ COSTINHA MAS A NAN GOLDIN JÁ TAVA FAZENDO ISSO ANTES!

Mais ou menos. Eu até concordo em parte, porque aquela vida que ela tava vivendo, ela estava PROCURANDO merda pra viver e ter assunto. Mas ainda assim ela vendia aquilo como se fosse a vida dela, que estava acontecendo naturalmente.

Já no Terry Richardson o que vc tem é uma escolha deliberada por um happening, que tem tempo e espaço limitados, mas onde as regras vigentes são acordadas tão somente e apenas entre os participantes do happening. E aí ele tira fotos dos happenings e as pessoas normais na Matrix vêem as fotos. E ele fica sendo louco em volta das fotos e falando o que ele acha da vida.

O happening Richardsoniano pode ser referênciado em outro texto do Hakim Bey, T.A.Z., ou em português “Zona Autônoma Temporária”, que vc pode ler aqui: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/arq_interface/4a_aula/Hakim_Bey_TAZ.pdf

Mas enfim, o lance é esse aí: Quando as pessoas vão lá no Terry Richardson fotografar, elas não vão lá pra serem fotografadas. Elas vão lá pra reagir ao Terry Richardson e serem fotografadas enquanto isso.

E é porque ele sempre faz a mesma coisa que vc consegue, através das diferenças entre as reações, perceber diferenças entre as pessoas que ele fotografa e outras pessoas normais que antes vc não conseguiria perceber, porque não é a foto, mas o estado que ele coloca as pessoas quando tão na frente dele que desnuda coisas que geralmente as pessoas dissimulam. E é por isso que parece que ele é mais íntimo, e tem mais coisa numa foto dele do que em qualquer outra foto que outra pessoa poderia ter feito do mesmo fotografado. Ele é mais íntimo mesmo, ele força a intimidade, e vc pode colocar o dono do mundo lá, foda-se, pisou lá são as regras do Terry Richardson, como o Hakim Bey havia proposto, uma ZONA AUTÔNOMA TEMPORÁRIA, e esse é o primeiro conceito a ser entendido pra quem quer ser livre nesse mundo de agora.

Isso é ser Homem. Isso é ser Alpha na vida, quem manda é vc e o seu pinto.

Eis aí o Super Homem do Níti: Um invasor, um estuprador, um psicopata. Vai ser do jeito dele e acabou.

Seja contratado pra fotografar o cara mais arrogante do mundo e faça ele parecer um derrotado com o rabo entre as pernas. Cause only American Trash can save America from American Trash itself.

E tem que provar a própria superioridade todo dia, não venha me mostrar o que vc FEZ, eu quero saber o que vc FAZ! Quem vive de passado é Museu, e o Museu morreu.

“For over a thousand years Roman conquerors returning from the wars enjoyed the honor of triumph, a tumultuous parade. In the procession came trumpeteers, musicians and strange animals from conquered territories, together with carts laden with treasure and captured armaments. The conquerors rode in a triumphal chariot, the dazed prisoners walking in chains before him. Sometimes his children robed in white stood with him in the chariot or rode the trace horses. A slave stood behind the conqueror holding a golden crown and whispering in his ear a warning: that all glory is fleeting.”

Então cê entendeu? O negócio é que até então ou vc era “artysta”, ou um psicólogo e conciliador pras inseguranças que estão em volta da fotografia comercial, e daí fotograficamente mesmo só te sobrava tempo pra ser um tripé falante e agradar os outros pra aliviar a pressão.

E com o Terry Richardson o que interessa é ele, a vida dele, o Caminho de Artista dele. É isso que confere legitimidade ao trabalho dele, e daí ele vende pedacinhos dessa legitimidade alugando pedaços do Caminho de Artista.

É mais ou menos a diferença entre um cozinheiro e uma Mãe de Santo. O “fotógrafo” é o cozinheiro e o Terry Richardson é a Mãe de Santo.

Então taí essa opção tb disponível pra todos nós: Desenvolva a SUA voz, faça um troço que SÓ VOCÊ é capaz de fazer, e não tenha medo. As pessoas vão gostar ou odiar, mas vão saber que vc existe e vão reconhecer quando for vc. E daí vai ter gente querendo vender coisa, empresários, que estavam ocupados na vida sendo empresários, e que fazem coisas de verdade e não esse caô de arte, e por isso não tiveram tempo pra desenvolver um Caminho de Artista durante suas vidas, mas que agora precisam de legitimidade simbólico-cultural pra enriquecer e dar relevância à identidade dos produtos ou serviços que eles querem vender. Daí vc aluga o seu tempo, eles compram quanta legitimidade eles precisam, a roda gira e pau no cu da funarte, da ancine, da lei rouanet e do governo. Vc pode ser livre e ser Artista ao mesmo tempo sem roubar ninguém.

E as puta podem reclamar à vontade que puta é mato e o papo padrão de puta é reclamação, então sem novidades.

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