Manifestação contra Jair Bolsonaro mobiliza milhares em Florianópolis

Portal Cotidiano
3 min readOct 1, 2018

--

Texto e fotografias: Camila Ignacio Geraldo

Colaboração: Victor Lacombe e Wagner Reis

D o alto do carro de som que estava cercado de milhares de pessoas em frente à Catedral Metropolitana de Florianópolis, a estudante Victória Borges (22) passava instruções para os manifestantes no início da passeata que mobilizou milhares de pessoas contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro: “Não sentem no chão nem aceitem provocações”, começou ela, até o momento em que o microfone falhou e sua voz parou de ecoar pela Praça XV de Novembro. Segundos depois, os recados voltaram a ser dados, não pelo microfone, mas em formato de um jogral repetido por mulheres e homens, idosos, jovens e crianças, que ocupavam a praça naquele sábado. “Isso é pra todos verem como nos fazemos ser ouvidas quando somos muitas”, disse Victoria ao recuperar o microfone, fazendo uma alusão à organização das manifestações que aconteceram em todo o Brasil impulsionadas pela hashtag #EleNão, criada em grupo de Facebook seguido por 3,8 milhões de mulheres.

Há quase uma semana das eleições nacionais, a manifestação organizada por mulheres, LGBT’s e coletivos de negros e negras em Florianópolis teve um grande número de participantes, em um ato que formava cerca de 800 metros de extensão. De acordo com o número anunciado pelos policiais militares no local, aproximadamente 15 mil pessoas estavam na manifestação. Para as organizadoras, o número real foi de quase 35 mil manifestantes. “Qualquer um que já participou de protestos aqui sabe que haviam mais de 15 mil pessoas no ato”, reforça a organizadora Victória.

O voto feminino é um dos diferenciais das eleições de 2018. Pela primeira vez, homens e mulheres tendem a votar em proporções diferentes nos candidatos à presidência da república. Jair Bolsonaro, por exemplo, tem o apoio de 36% dos homens, enquanto possui somente 18% de preferência entre as mulheres. “O protagonismo das mulheres, principalmente aqui em Santa Catarina, um dos estados mais conservadores do Brasil, mostra a linha que a mulherada está dando. Não vamos deixar que tantas ideias retrógradas vencerem nas urnas”, fala Victória Borges.

Veja como foi a manifestação do dia 29 de setembro em Florianópolis:

Manifestantes iniciaram a concentração no Largo da Catedral às 10h, ao som de música ao vivo seguidas por coros de “Ele não!”.
A passeata, que foi pacífica durante todo o trajeto, teve início em torno de 13h30 em direção à Avenida Beira-Mar Norte.
Como principal motivação para participarem do ato, os manifestantes citaram as atitudes e discursos de cunho machista, homofóbico e racista de Jair Bolsonaro.
“Estou aqui para me manifestar contrária a intolerância que Bolsonaro representa”, diz Larisse Pontes, estudante de pós-graduação na UFSC. Em sua camiseta, a mensagem: “Uma pessoa que acredita em igualdade”.
A manifestação teve a presença de diferentes bandeiras de partidos, coletivos e causas exprimidas em cartazes.
Um boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou o protesto. Enquanto alguns manifestantes entoavam o grito de “Lula Livre”, outros ficaram desconfortáveis com o símbolo. “É oportunista”, diz uma manifestante que não quis se identificar.
Entre as declarações polêmicas de Jair Bolsonaro, a frase “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”, foi objeto para cantos e cartazes de combate ao machismo.
Assim como em Florianópolis, no estado aconteceram atos em Joinville, Blumenau, Gaspar, Criciúma e Balneário Camboriú. Em Joinville, Blumenau e Gaspar houve manifestações a favor do capitão aposentado do Exército.
Não aconteceram momentos de violência durante o ato. Alguns motoristas ficaram impacientes com o fechamento da pista da direita da Avenida Beira-Mar Norte.
A manifestação foi organizada por coletivos de mulheres, LGBT’s e movimentos de negros e negras pela luta contra o racismo em Florianópolis.
Os parceiros Thiago e Diego ficaram impressionados e animados com a quantidade de manifestantes no ato. “Alguém com tanto ódio no coração não pode subir no poder”.
Durante o ato, pessoas apareceram em sacadas e passaram em carros manifestando-se favoráveis ou contrárias à manifestação.
Após passar por parte da Avenida Beira-Mar Norte, os manifestantes retornaram para o Terminal de Integração do Centro (TICEN), onde terminou a manifestação
Durante todo o ato, a linha de frente foi composta por mulheres de todas as idades, que revezaram para auxiliar os manifestantes.
“Fui criada durante a ditadura. Estou aqui porque fui criada na ditadura e não admito que um governo autoritário volte”, diz a designer e manifestante Simone Mayeski.
As manifestações contra Jair Bolsonaro aconteceram em todas as capitais brasileiras e em países como Alemanha, França, Suíça, Itália e Portugal.

--

--