Token Security ou Security Token? SaaT and TaaS, as novas siglas

courtnay guimaraes
5 min readJul 10, 2018

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“Esqueça os ICOs! A bola da vez do mundo cripto são o Security Token e o Token Security.”

Exageros à parte, os ICOs ainda têm uma vida longa garantida. Mas os holofotes e, principalmente, os cofres do mundo financeiro têm se virado para o novo modelo de securitização que o mercado está desenhando. Como tudo neste universo, trata-se de um fenômeno novo, que começou a se tornar assunto em fevereiro deste ano, mas se espalhando em velocidade exponencial.

Vamos, então, aos conceitos. Security Token e Token Security são ferramentas diferentes. Security Token é a transformação de uma empresa ou um título vendido no mundo tradicional em token para levá-lo para o mundo cripto. Token Security é converter as empresas do mundo cripto em títulos que podem ser comprados e vendidos numa bolsa de valores. São movimentos simétricos e simultâneos. O problema é que, como boa parte dos conceitos desse universo, está havendo uma confusão de nomes. Os dois instrumentos estão sendo chamados de Security Token e isso está gerando uma grande confusão no mercado.

A ida das empresas do mundo cripto para os balcões tradicionais é mais fácil, porque o caminho a seguir já foi pavimentado. Existem regras e processos de venda estabelecidos. Então, para criar um Token Security basta seguir as cartilhas e fazer parte do jogo. Já é possível, por exemplo, comprar na CME (Chicago Mercantile Exchange), a bolsa de Chicago, um contrato futuro de Bitcoin. O comprador adquire o contrato — não a moeda em si — com vencimento para dali a alguns dias apostando em um valor futuro para o título. Se ao final do prazo o Bitcoin estiver mais caro, o comprador precisará pagar a diferença. Mas se a moeda estiver valendo menos, ele receberá a diferença em dinheiro.

O caminho inverso, para criar um Security Token, é bem diferente. A trilha a seguir ainda precisa ser desbravada. O processo para tirar uma empresa do mundo real e transformá-la em token ainda é feito sob medida, caso a caso. Os interessados precisarão criar um jeito de fazer isso. Terão de contratar um advogado e fazer todos os pedidos de aprovação a partir do zero. Quem está por trás desses movimentos? Esqueça mineradores e libertários. Essa onda é liderada pelo mercado formal, ou seja, fundos de pensão, fundos tradicionais, bancos e agentes imobiliários. O maior interesse deles é globalizar um ativo local e não se restringir mais a limites geográficos, como acontece hoje no mercado convencional. Eles enxergam nos tokens a possibilidade de ampliar seus negócios.

O mercado imobiliário é um dos que deve ganhar com o Security Token. Este setor é altamente regulado de acordo coma região, porque a propriedade de um imóvel envolve impostos, contratos e documentos regidos por regras locais. Também é concentrado na mão de grandes investidores, porque hoje não é possível adquirir cotas de um prédio, por exemplo. Aderindo ao mundo cripto, o mercado imobiliário poderia diluir o valor de um empreendimento. Se um imóvel vale R$ 1 milhão, é possível fracioná-lo em 100 cotas de R$ 10 mil e vendê-las em forma de token. Dessa forma, uma pessoa com poucos recursos passa a ter acesso a um mercado que hoje está disponível somente para quem tem muito dinheiro. Abrem-se as possibilidades de incluir no mercado os médios investidores e acabar com a exclusividade dos ‘big providers’ e ‘big investors’. Mais do que isso, a tokenização dá uma maior liquidez e um fluxo global ao mercado de capitais.

Enxergo todo esse movimento como uma evolução positiva. Até agora, a cripto economia se restringia aos tokens de ICO, que nasciam e permaneciam dentro desse mercado, como na plataforma Ethereum. Agora passamos a falar de tokens como ativos de investimentos tradicionais. Está nascendo um novo mercado de capitais dentro do antigo. E várias possibilidades podem surgir a partir daí, entre elas, a criação de uma security que reúna vários ICOs numa cesta de ativos que pode ser transformada em token. Ou ainda um fundo de investimento cripto. Extrapolando ainda mais, podemos imaginar investimentos mistos, como um fundo tradicional que tenha uma cota cripto e vice-versa. Junto com as oportunidades, vêm os riscos, mas isso não é nenhuma novidade para o mercado de capitais.

Um passo importante que ainda não foi dado é a criação de um mecanismo de precificação. O que temos hoje para os tokens é apenas uma cotação, que é diferente de um valuation, ou seja, uma estimativa de valor de mercado. Para as empresas do mundo de tijolo e cimento essa cifra está ligada ao valor dos imóveis, dos equipamentos, dos contratos, dos produtos e também à administração e ao fluxo de caixa. Esse tipo de dinâmica ainda não existe para os ativos cripto. É mais uma missão na lista de tarefas deste mundo que não para de inventar novos produtos.

Disclaimer: o autor participa de uma iniciativa para criar no Brasil uma Security as a Token para comercializar ativos imobiliários. Não sabemos se será criada no Brasil ou em outro pais, devido as decisões regulatórias.

Courtnay Guimarães Jr, pai, esposo, empreendedor, cientista e facilitador de aprendizado.

34 anos de experiência no mercado de ITC, com passagens por Oracle, SAP, HP, Vivo, Cargill e outras. Projetos e resultados em clientes como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Banco Central, Ambev, BTG Pactual e outras.

No momento, é Cientista Chefe, CTO e sócio fundador da Idea Partners, consultoria e participações, agindo como:

· Practices Head, nas linhas de:

o Principal consultor das práticas de transformação organizacional para perenidade (corporate venture building), focado em agilidade, governança, lean e arquitetura empresarial;

o Líder da prática de blockchain, analytics management, inteligência artificial e coisas na internet;

o Líder das verticais de serviços financeiros, banking e mercado de capitais.

· CTO/Founder da OR Hub, ChainTech para a área imobiliária;

· CSO/Founder da MultiLedger, empresa de BaaS focada em DLTS;

· Advisor da Rhizom, Chaintech de marketplaces brasileira;

· Advisor da GMT Token, empresa de mineração sediada na Estônia;

Economista, pôs graduado em marketing, especializações em banking, mercado de capitais e trading de alta frequência.

Professor de gestão de inovação e complexidade, apaixonado por inteligência artificial e cryptonetworks, já treinou mais de2.000 pessoas nestas redes, nos últimos 2 anos, no Brasil e no mundo. Palestrante e evangelista, está como pesquisador do tema na USP.

p.s. Texto co-escrito e revisado por Atelier de Conteúdo.

p.s.2: O texto índice está em https://medium.com/@courtnay/the-open-booking-art-1990f3369c15

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courtnay guimaraes

CTO & Digital Business Transformation Architect & Data Scientist, helping financial institutions to innovate using IT&C.