Dúvidas Frequentes

Craco Resiste
6 min readJun 26, 2017

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Entenda nosso movimento e os princípios da redução de danos

O que é A Craco Resiste?

A Craco Resiste é um coletivo que foi constituído no final de 2016 para se contrapor a violência policial na Cracolândia da Luz, na região central de São Paulo. A partir de uma discussão com militantes e usuários, iniciou uma vigília na área com atividades de lazer e de cultura. Com exibição de filmes, roda de samba, capoeira e apresentações musicais, a ideia era não só estar presente no fluxo, para denunciar a violência institucional, como trazer cada vez mais gente para conhecer aquela realidade, formando uma rede de apoio.

Durante quase seis meses a Craco Resiste denunciou diversas formas de violação no território, desde a falta de cuidados básicos, até agressões gratuitas da Guarda Civil Metropolitana e Polícia Militar.

Rap Móvel na Cracolândia. Foto: Alice Vergueiro

Baixe aqui o Dossiê Agressões e Violações na Cracolândia

Após a desastrosa e truculenta operação policial de 21 de maio de 2017, o coletivo intensificou a atuação, com a parceria de diversos grupos e indivíduos, para resistir aos planos de higienização em curso na região da Luz. No dia 24 de maio, participou da ocupação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, em uma mobilização que acabou por levar a renúncia da titular da pasta, Patrícia Bezerra, que antes de deixar o cago foi levada a condenar as ações da prefeitura e do governo municipal.

Atualmente, A Craco Resiste continua presente no território ao lado dos frequentadores do fluxo e da população local.

Por que desse nome e marca?

A Craco Resiste é um coletivo antiproibicionista, abolicionista penal e, antes de tudo, antimoralista.

Reivindicamos o nome Cracolândia primeiro por ser um termo usado pelos próprios frequentadores do fluxo desde a década de 1990, uma contraposição às outras ‘lândias’ negadas ou desprezadas por eles.

Uma comunidade de pessoas que foram excluídas ou que de alguma forma optaram por estar à margem da sociedade. Ali é o lugar de segurança destes que perambulam pela cidade, apelidado pelos frequentadores mais íntimos de Craco. Não se trata de um espaço físico, mas de um fluxo de pessoas unido por diversos fatores, sendo o crack o mais conhecido, talvez o mais evidente, porém, nem de longe o único.

Com dois punhos fechados segurando cachimbos, o logotipo da Craco Resiste traz na sua concepção esses significados da Cracolândia, o enfrentamento às agressões institucionais e a filosofia da redução de danos. Os cachimbos fazem parte de um longo processo de construção iniciado no começo deste século para evitar que o crack fosse fumado em latas — problemático pelos resíduos químicos e por queimar a boca.

Para evitar esses problemas, foi incentivado o uso de cachimbos de madeira. O fluxo não aderiu completamente a proposta, desenvolvendo o seu próprio modelo que atende as preferências e se adapta a realidade dos usuários.

As mãos com os cachimbos propõe a união dessas pessoas que juntos lutam por melhores condições de vida. Gritar “A Craco Resiste!” é dizer que este povo junto, existe e persiste em estar junto, porque só assim cuidarão uns dos outros.

O que é redução de danos?

A redução de danos é uma abordagem que parte do pragmatismo e do respeito aos direitos humanos. A partir do entendimento de que as pessoas continuarão usando drogas, porque não querem ou não conseguem parar, buscam-se maneiras de minimizar os impactos sobre os indivíduos e a sociedade.

As estratégias são múltiplas, vão desde a distribuição de insumos, como cachimbos e seringas, evitando ferimentos e contaminação por doenças contagiosas, até ações que garantam moradia e possibilidade de renda aos usuários. Também é uma faceta importante o diálogo direto com os envolvidos, para propor medidas adaptadas a realidade de cada um e convidar o próprio indivíduo a pensar estratégias de cuidado para si mesmo.

Animação sobre o que é o vício e como lidar com ele, feita pela equipe do canal sobre ciências Kurzgesagt — In a Nutshell

É possível cuidar do uso abusivo de drogas sem internar?

A reforma psiquiátrica, que teve início na década de 80 no Brasil, promoveu importantes mudanças no cuidado do sofrimento mental, questionando as práticas violentas dos manicômios e propondo que o cuidado envolvesse não só a saúde. Uma tentativa de que essa atenção acontecesse fora dos muros que acabavam por causar mais adoecimento.

Para entender como os muros e o que acontecia dentro deles causavam sofrimento e adoecimento, recomendamos que assista este documentário sobre o Hospital Colônia de Barbacena, que funcionou em Minas Gerais até a década de 1980.

Para isso, foi estruturada uma rede substitutiva de serviços articulados, como os Caps AD (Centro de atenção psicossocial- álcool e drogas). Segundo esta lógica pautada pela lei 10216 de 2001, a internação deve ocorrer em último caso, para atender casos de crise, e as mesmas devem ser feitas em instituições não asilares (ou seja, em leitos de hospital geral e nos CAPS AD 24horas).

A partir do entendimento de que a vida acontece na rua e que o sofrimento tem causas múltiplas (biológicas, psicológicas e sociais), não faz sentido buscar soluções em isolamento e por meio da exclusão, mas, sim em uma perspectiva de inserção social e cuidado em liberdade. Nesse sentido, é importante ter a possibilidade de atender demandas sociais, como moradia e possibilidade de renda, além de abrir espaço em setores como a cultura, atendendo mas também extrapolando o campo da saúde e atingindo a questão em todos os seus aspectos.

A Craco Resiste defende o uso de drogas?

Não, A Craco Resiste não defende que as pessoas usem qualquer tipo de droga, lícita ou ilícita. No entanto, como antiproibicionista, o coletivo é contra a criminalização de qualquer substância, por acreditar que a proibição não ajuda a lidar com os problemas que podem vir do consumo abusivo de drogas, inibindo a busca por tratamento, contribuindo para a criminalização de uma parcela da população e o aumento da violência justificada pela guerra às drogas. Entendemos também que os efeitos das substâncias estão intimamente ligados aos contextos sociais e psicológicos de cada um. Assim sendo, defendemos a autonomia das pessoas para decidirem como se cuidar.

O que a Craco Resiste pensa sobre o tráfico de drogas?

O tráfico de drogas é um problema que surge com a proibição. Por isso, a solução passa necessariamente pela descriminalização e regulamentação da venda de todas as substâncias.

É necessário enfatizar, entretanto, que os maiores beneficiários do comércio ilícito de entorpecentes não estão nos pontos de varejo de drogas, são investidores na maior parte do tempo ocultos, que chegam a usar helicópteros e aviões para transportar grandes quantidades de drogas.

A proibição gera uma guerra que atinge pessoas das camadas mais vulneráveis da população. A falta de oportunidades nas periferias e comunidades pobres torna esses pontos favoráveis para instalação de entrepostos do varejo do comércio ilegal. Essa situação expõe ainda mais essas populações, que são criminalizadas por um discurso de que é possível acabar com o tráfico pela força, negando as causas estruturais do problema.

As maiores vítimas são os jovens pobres e negros, que morrem ou por envolvimento com as quadrilhas, ou pela violência policial usada indiscriminadamente nessas regiões, desrespeitando o direito à vida de populações inteiras. Além disso, as altas somas de dinheiro movimentadas alimentam a corrupção de policiais e outros agentes do Estado de forma sistêmica.

Cristiano Maronna, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), comenta sobre os resultados práticos da Guerra às Drogas para o Jornal da TV Cultura

Como ajudar A Craco Resiste?

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Craco Resiste

A Craco Resiste é um movimento contra a violência policial na Cracolândia. Estamos no território para resistir a todas as formas de agressão institucional.