Preparando o portfólio cripto para o próximo bull market

Criptoverso
25 min readOct 13, 2022

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Agora que já exploramos bastante o DeFi e as possíveis narrativas para o próximo ciclo de alta, vamos expandir nossa carteira para os demais segmentos.

Já havia comentado que escolhi duas outras plataformas de smart contracts. Vou começar falando sobre elas.

Avalanche

Avalanche é relativamente nova para uma plataforma de smart contracts e sempre esteve no meu radar. Sua atuação e consistência foram tão notáveis que acabou conseguiu uma posição nessa carteira enxuta.

Um dos principais focos e diferenciais da Avalanche é tentar trabalhar com o mercado tradicional (não cripto), permitindo que cadeias privadas sejam construídas e administradas de forma independente no ecossistema Avalanche (algo parecido com o projeto PRISM da Cardano).

Avalanche estimula que empresas e governos criem regras específicas e operem serviços blockchain criando uma subnet específica para isso.

O projeto utiliza 3 blockchains:

Contract C Chain (serve para executar EVM e smart contracts), Platform P Chain (serve para criar subnets) e Exchange X Chain (serve para criar e transacionar ativos).

Por possuir 3 blockchains, quando você (usuário) for sacar suas AVAX de uma exchange como a Binance, por exemplo, você será perguntado se deseja utilizar a rede C ou a rede X. A rede C é para enviar seus tokens para uma DEX, enquanto a rede X é apenas para manter e transferir suas AVAX para wallets.

Em outras palavras, a rede X é uma blockchain voltada para transferência entre tokens apenas, enquanto a rede C é para operações que envolvem smart contracts. Já a rede P é para as subnets independentes.

Sob o ponto de vista técnico, Avalanche é bastante respeitada, construída por pesquisadores. Seu Github é bastante ativo e possui uma comunidade engajada. Há uma boa comunicação entre a equipe de desenvolvimento e o mercado, o que acaba se refletindo em boas performances durante ciclos de alta.

Quando se fala em concorrente da Ethereum, uma das primeiras coisas que vêm à mente é a escalabilidade. A maior parte das chains, bem como soluções de layer-2, buscam escalabilidade sacrificando descentralização, mas essa não é a abordagem da Avalanche.

A abordagem principal para escalabilidade da Avalanche é deixar desenvolvedores construírem aplicações na C Chain e, caso as taxas fiquem elevadas, estimulá-los a ter sua própria subnet na P chain. Ou seja, games muito interativos, DEXes, etc. devem buscar rodar em uma subnet própria.

Então uma boa forma de estimar o sucesso da rede é observando o crescimento das subnets, pois os maiores projetos estarão lá. À medida que novas atualizações forem sendo feitas, é esperado que haja um foco no crescimento das subnets para a escalabilidade da Avalanche. Atualmente há 35 subnets, e a quantidade de transações tem aumentado, como podemos ver na imagem abaixo (puxadas principalmente pela dApp gaming Defi Kingdoms):

Sob a ótica de descentralização, Avalanche tem mais de mil validadores. Em termos de governança, é possível votar em parâmetros da rede via staking.

Sobre concentração de tokens, os top 100 endereços concentram 21% do supply. Se observarmos as top moedas em capitalização, perde apenas para Bitcoin (14%) e Cardano (17%).

Como o projeto ainda é novo, está prevista ainda uma inflação de 18% em 2023. Essa emissão se reduz com o tempo até atingir o supply máximo de 720M de tokens, sendo que será deflacionário, pois todas as taxas de transação na rede são queimadas.

Apesar de ter as subnets como seu principal foco de sucesso para o longo prazo, o que fez a Avalanche entrar para minha carteira foi a forma como ela conseguiu capturar mercado da Ethereum.

O projeto investiu bem desde cedo em EVM, o que capturou bastante TVL e integrações. É a plataforma de smart contracts que melhor fez isso. Não apenas projetos consolidados na Ethereum como AAVE e Curve possuem integração com Avalanche, mas também o novo segmento DeFi em ascenção como GMX, Ribbon, Beefy, etc. está sendo lançado com atuação nas redes Layer-2 de rollups e Avalanche como alternativa.

Isso naturalmente traz volume e adoção para a rede Avalanche. Além do sucesso da sua C Chain EVM, construiu com muito sucesso duas bridges (para Ethereum e Bitcoin) que hoje representam as bridges com mais volume do mercado.

Dessa forma, parece ser o projeto mais bem posicionado no momento para surfar na sombra da Ethereum, bem como uma alternativa rápida compatível para o caso de problemas futuros na rede ETH.

Em relação aos pontos negativos, tenho duas críticas principais. A primeira é sobre usabilidade em relação a ter 3 redes, causando dúvidas e confusões. Por mais que tecnicamente faça sentido essa arquitetura, sob ponto de vista do usuário, dificulta.

A segunda crítica é em relação ao marketing não ser honesto sobre TPS. Particularmente considero TPS uma métrica bastante simplista, e é comum haver discussões ignorantes nas redes sobre comparações de protocolos em torno disso. Porém em vez de se posicionar de forma séria e instrutiva, o setor de marketing da Avalanche decidiu entrar na onda alegando milhares de TPS, que na prática apenas se concretizam caso haja muitas subnets atuando em paralelo, o que ainda não é o caso.

Cardano

Obviamente Cardano não ficaria de fora dessa carteira. Por mais que surfar na onda da Ethereum não seja o principal destaque do projeto no momento (compatibilidade EVM ainda não é uma realidade prática), Cardano representa uma ameaça à Ethereum em todos os sentidos. Ethereum, por sua vez, representa uma ameaça ao Bitcoin, coisa que irei fundamentar em outro artigo.

Eu digo “ameaça” não sendo fatalista como se um projeto pudesse acabar com outro, mas indicando que parte relevante do market share de um projeto pode ser abocanhada por outro.

Os principais pilares que tornam Cardano uma competidora para a Ethereum são a segurança e a escalabilidade.

A arquitetura da Cardano ao dividir duas camadas separadas (computação e liquidação) sob a mesma blockchain e adotar o modelo de eUTXO em vez de account model traz muitas vantagens de segurança. Além disso, há muito investimento em verificação formal de código para as linguagens que rodam smart contracts na rede, o que minimiza falhas e vulnerabilidades para aplicações, algo que ocorre com frequência na Ethereum e outras chains. Nesse aspecto, dificilmente alguma chain será melhor que Cardano.

Em relação à escalabilidade, Cardano possui alternativas mais promissoras. A maior parte do mercado já concluiu que a única forma de escalar uma blockchain para bilhões de pessoas é por meio de layer 2. Porém praticamente todas as plataformas de smart contracts utilizam account model em vez de UTXO, sendo que UTXO se comunica muito melhor com layer 2.

Atualmente, o roadmap da Ethereum está fixado na implementação de 64 shards alimentados por rollups para obtenção teórica de centenas de milhares de TPS. Ninguém sabe se mais do que isso será necessário. Se for, Ethereum precisará encontrar alternativas.

O roadmap da Cardano já prevê milhões de TPS apenas concluindo o desenvolvimento da solução Hydra + Input Endorsers, sendo que ainda há outras melhorias e pesquisas em várias direções tomando forma.

Obs: muito mais importante do que transações por segundo (TPS) é a quantidade de operações que um protocolo pode fazer por segundo, pois muitas informações/operações podem caber dentro de uma única transação, poupando recursos e barateando custos. Nesse aspecto, Cardano já se diferencia, porém poucos compreendem e comparam laranjas com bananas em infográficos pela internet.

Após a atualização que tivemos no mês de setembro, Cardano já vai estar bem mais escalável, e gradualmente as dApps e DEXes construídas sob a plataforma vão apresentar essas melhorias. Esse é o primeiro driver de valorização para o curto prazo.

O segundo driver de valorização é o lançamento da stablecoin Djed, que além de atrair demanda e visibilidade, vai aumentar drasticamente o TVL da Cardano.

O terceiro driver de valorização, pensando em 2023, é o cliente leve Mithril, que acredito estar sendo subestimado. Mithril representa uma evolução em todos os sentidos, desde escalabilidade até usabilidade, trazendo uma alternativa descentralizada à Metamask. Ter um cliente leve seguro e descentralizado para utilizar no Browser ou em qualquer lugar vai abrir espaço para uma adoção antes impossível para a Cardano.

Outros drivers de valorização para 2023 vão depender de até quando o bull market irá durar, pois Hydra deve dar suas primeiras caras ainda em 2023, bem como Input Endorsers.

Além desses drivers de valorização, o que me deixa tranquilo ao investir em Cardano, como sempre, é a alta descentralização do projeto em todos os níveis, e o grande treasure muito bem capitalizado para o longo prazo.

Por mais que as coisas demorem para ser lançadas na Cardano, o rigor metodológico nunca mudou. Desastres como Terra Luna e os constantes hacks no mundo DeFi apenas fortalecem a imagem de projetos mais conservadores nesse sentido.

Cardano também não é mais uma rede fundamentada apenas em whitepapers. Possui a maior quantidade de validadores independentes do mercado, staking líquido onchain e governança.

Alguém pode dizer que Cardano ainda não tem adoção em dApps, mas tudo indica que é apenas uma questão de tempo, pois centenas de projetos já estão em construção, e a comunidade Cardano é uma das mais fortes e ativas do mercado. Um reflexo dessa comunidade entusiasta é o fato de quase todo youtuber ou influencer falar que Cardano é uma promessa. Influencers em geral não entendem do mercado cripto, mas repetem narrativas ou alegações que atraem seguidores. O entusiasmo genuíno da comunidade Cardano sempre respingou para fora da bolha, de maneira que Cardano fosse um dos projetos mais citados na boca de altcoiners.

Por mais que estar na boca de influencers e altcoiners não represente nada em termos de fundamentos, representa em termos de performance. Pense na jornada de um investidor novo interessado em cripto. É quase impossível ele não ser exposto à Cardano. Nos vídeos que ele clicar, nos artigos que ele ler no Google sobre projetos promissores, rapidamente Cardano será citada. Essa visibilidade colabora para ADA performar muito bem em ciclos de bull market, como sempre foi até aqui.

Felizmente, a cada novo ciclo Cardano está melhor e mais avançada tanto em infraestrutrura como em adoção, o que resulta em novas máximas históricas. Não espero nada diferente no próximo ciclo.

Chainlink

Quando eu disse que oracles são uma tendência no primeiro artigo, obviamente você deve ter pensado em Chainlink, com razão.

Chainlink é um dos cases mais óbvios do mercado cripto, não é preciso ser um gênio para perceber.

Para ajudar os iniciantes, vou falar um pouco sobre oracles e sua necessidade.

Não há como a Ethereum “saber” o preço atual do petróleo, quem ganhou o jogo da Champions League, ou se a bolsa caiu 5% nesta semana. Para uma plataforma de smart contracts avançar e trazer mais valor a seus usuários, é necessário incorporar esses tipos de dados, de maneira descentralizada, para dentro da blockchain. Essa conexão do mundo offchain com o mundo onchain é feito por oracles. O oráculo ideal deve fornecer precisão perfeita, resistência à manipulação e ser suficientemente descentralizado do ponto de vista da segurança. Esse é o objetivo da Chainlink.

Inicialmente, a principal atuação do projeto é fornecendo data feeds, que são basicamente atualizações nos preços para protocolos DeFi executarem seus smart contracts. Aos poucos, o projeto vai expandindo sua atuação.

O ecossistema funciona com diferentes nodes de oracles independentes que se comunicam e interagem com diferentes redes.

O sistema funciona como uma rede de oracles, onde diferentes nodes enviam informações de interesse requisitados por clientes (como plataformas DeFi):

Legal, o conceito de oracles é importante, mas Chainlink tem adoção? Possui concorrentes?

Alguns dos maiores concorrentes diretos da Chainlink são BAND, UMA e WINKLink. Porém apenas para você ter uma ideia, Chainlink corresponde a mais que o dobro de todos os competidores somados em TVS (Total Value Secured) de oracles (se excluirmos a MakerDAO que serve basicamente para a DAI somente). O segundo colocado nesse aspecto (WINKLink) é da rede TRON e correponde a uns 70% do TVS de todo o restante, sendo que atua basicamente em somente uma DEX da TRON.

Em termos de parcerias e integrações, a Chainlink tem 22x mais do que todos os concorrentes somados.

E não estou falando de parcerias pequenas ou jogadas de marketing. São parcerias como a rede SWIFT, por onde ocorrem praticamente todas as transações interbancárias mundiais.

Então una os pontos: investir projetos destaque dentro de nichos promissores é uma ótima forma de obter grande performance. Oracles não apenas são promissores, são uma necessidade. Chainlink não é um projeto que trabalha com oracles, é O Projeto.

Mas o racional não termina aqui. Chainlink tem crescido para atuar em outras frentes também, como o incipiente conceito de omnichains, também chamado de layer-0.

Omnichains são soluções de interoperabilidade, permitindo que aplicações descentralizadas que rodam em diferentes chains se comuniquem facilmente sem a necessidade de bridges. Os protocolos Omnichain são projetados para fornecer transmissão de mensagens genéricas entre quaisquer dois contratos em diferentes chains, independentemente de seu token ou mecanismo de consenso.

Existem alguns projetos novos tentando atuar nesse segmento, mas a Chainlink é um dos mais promissores, juntamente com iniciativa da Polygon (Polygon Avail).

Essa atualização esperada para a Chainlink, o que representa um driver de valorização, é o CCIP (Cross-Chain Interoperability Protocol), que servirá como uma omnichain. Grandes chances de se tornar um padrão na indústria, já que a Chainlink está numa situação privilegiada pelo fato de atuar com as mais diversas chains, e já se mostrou capaz de tal feito com seu próprio projeto base.

Além de investir no segmento Omnichain, já comentei no artigo anterior que Chainlink também está de olho no mercado de keepers.

Outro driver de valorização ainda para 2023 é a introdução de staking e nova proposta de valor para o token LINK.

Atualmente o token LINK é usado como pagamento pelos serviços dos nodes, sendo um token utilitário. Sempre houve críticas quanto a isso (por que não utilizar ETH ou USDC?) e a resposta da Chainlink sempre foi poder criar sua própria economia de incentivos e “skin in the game” dos participantes. Agora, essa economia de incentivos vai realmente ganhar forma.

Após a implementação do staking na Chainlink, os nodes terão que bloquear tokens LINK como garantia, que podem ser “reduzidos” se um node relatar dados incorretamente. Os tokens LINK reduzidos de validadores desonestos serão redistribuídos para validadores honestos. Dessa forma, a rede de oracles se beneficiaria dos mesmos princípios da teoria dos jogos que desincentivam os atores maliciosos de tentar atacar blockchains como Bitcoin e Ethereum.

O sistema de staking também aumentará a segurança da rede por meio de uma nova estrutura de reputação. Os nodes que fornecem respostas rápidas e precisas frequentemente às solicitações de dados terão seus feeds priorizados em relação aos menos confiáveis. A quantidade de LINK que cada node tem apoiando seus serviços oracle também determinará se, e com que frequência, eles são escolhidos para fornecer feeds de dados. Isso deve melhorar a segurança alinhando os incentivos dos operadores de nodes com a rede Chainlink. Os nodes precisarão ter uma grande quantidade de LINKs para serem selecionados para fornecer feeds de dados, o que deve desencorajá-los de atacar a rede.

Essa remodelagem de estrutura será lançada por etapas. Se a versão simplificada 0.1 for lançada sem problemas, os desenvolvedores lançarão a versão 1.0, adicionando funcionalidades. No futuro, uma versão 2.0 completa expandirá o staking do Chainlink para outros serviços além de fornecer feeds de preços e introduzir proteção contra perdas. Inclusive permitindo que patrocinadores de serviços oracle comprem seguro contra perdas de redes oracle que fornecem feeds de dados imprecisos.

Para finalizar, considero a condução do projeto Chainlink muito madura. Além de ser uma equipe forte, com pesquisadores de prestígio de grandes universidades, Chainlink é bastante atenta ao mercado, tendo contratado vários integrantes da DIEM (que seria o projeto da moeda do Facebook).

Chainlink é um projeto que se desenvolve a partir de experiência de utilização (consumer driven). Suas tecnologias como VRF, DECO e CCIP são construídas a partir de uma demanda observada, na tentativa de atender as necessidades do mercado.

Servir como oracles é muito difícil, pois falhas de segurança ou de má conduta podem arruinar bilhões em outros protocolos. Além de ter um marketshare bastante dominante no mercado, a Chainlink passou por testes importantes protegendo bilhões de dólares em cenários de bull e bear market.

A maior ressalva/crítica que tenho é em relação à centralização de desenvolvimento em torno da empresa Chainlink Labs, apesar da rede de oracles em si ser descentralizada.

IoTex

IoTex também é um velho conhecido de quem me segue há mais tempo. Projeto resistente, conseguiu passar em todos os meus crivos e se manterá na tese principal de investimentos.

IoTex atua em um nicho bastante promissor a nível mundial: Internet das Coisas (IoT).

Pense em todas as máquinas e dispositivos conectados com a internet, de geladeiras e lâmpadas até carros autônomos. IoT permitirá não apenas uma infinidade de ações e decisões automatizadas, como também aprimorará nossa interação como as máquinas de forma geral. O que tem impedido o setor de IoT de avançar até agora sempre foi a tecnologia 4G, limitada em velocidade e, principalmente, latência e quantidade de dispositivos conectados sem prejudicar a banda. A tecnologia 5G aprimora todos esses aspectos, e deve permitir que o setor de IoT comece a despontar nos próximos anos.

Não acredito que a explosão da IoT seja tão rápida ou que sua integração com blockchain fique popular agora, porém a baixa capitalização de mercado da IoTex com todos seus drivers de valorização para o médio prazo fez com que ela se mantivesse como um case interessante para a carteira.

Spoiler, dá uma olhada no percentual de holders de longo prazo vs especuladores na Iotex:

IoTex: quem conhece, holda

O propósito da IoTex é ser uma plataforma para interação de dispositivos IoT usando autenticação via DID blockchain (identidade descentralizada), privacidade (controle dos dados nas mãos dos usuários) e execuções de smart contracts.

Para atingir esse objetivo amplo, o projeto começou lançando dois produtos no mercado:

Ucam: câmera onde o usuário detém o controle total dos dados. Nada é enviado para servidores, roda no device de forma nativa. Vídeos são criptografados usando uma wallet criada pelo usuário no momento em que fez o login no app. A descriptografia utiliza a private key da wallet. É possível salvar os vídeos em um serviço cloud de terceiros, onde o vídeo vai criptografado. Em breve haverá integração com IPFS. A IoTex também está trabalhando em uma solução nativa usando AWS. Essa câmera ganhou o prêmio CES na categoria inovação em cyber segurança e privacidade pessoal em 2020.

Pebble: dispositivo para monitoramento físico. É um sensor de movimento, luz, temperatura, localização, etc. que permite a criação de dApps personalizadas para necessidades específicas como cadeia de suprimentos, liquidação de contratos, monitoramento remoto, etc. armazenando os dados nativamente na blockchain. Sua produção e distribuição está iniciando em 2022.

O desenvolvimento mais recente da IoTex está na arquitetura MachineFi, que basicamente quer permitir a integração de máquinas usando smart contracts para ativar recursos.

Vou detalhar aqui o plano MachineFi, por ser o maior foco do projeto no momento. Em termos de usabilidade, o usuário segue as seguintes etapas:

Etapa 1: usuário registra a máquina IoT na blockchain IoTex em uma wallet usando um DID.

Etapa 2: usuário instala um app na máquina (cada device corresponde a um MachineFi Dapp), sendo que há vários apps disponíveis para diferentes devices em uma store.

Etapa 3: Proof of Anything (a máquina fornece prova de algo: data coletado, evento monitorado, tarefa completada etc.).

Etapa 4: se a verificação é bem-sucedida, uma recompensa é dada à wallet da máquina. Um exemplo de aplicação pode ser uma seguradora dando desconto para clientes que provaram ter fechado a casa, ter sistema de incêndio ativo, ter colocado o carro em um estacionamento (prova de localização GPS), etc. Aplicativos de saúde podem recompensar usuários que realizaram atividades físicas. Empresas de marketing podem apresentar ofertas próximas de onde o usuário está. Nesse contexto, TruStream é o nome do Layer2 para computação oracle e geração de eventos.

A solução Cross-Chain data bridge permite transferência de dados originados na IoTex para outras blockchains.

Nos últimos meses, a IoTex arrecadou $10 milhões para trazer startups de IoT para o MachineFi nos próximos 3 anos.

O fato do setor de IoT estar recém no seu começo e a forma da IoTex trabalha para capturar essa adoção fazem o projeto ser um case promissor a meu ver.

Falando sobre o token, como a IoTex usa uma blochain própria, faz sentido ter um token nativo. A justificativa para uma blockchain própria está no foco em IoT (recursos de integração facilitada), bem como conceitos próprios de escalabilidade, descentralização e segurança desenvolvidos pela equipe.

O token IOTX é usado para pagamento de taxas na rede, staking, operação de um nó validador e também é utilizado para compra de certificados para dispositivos “Powered by IoTex”.

A Mainnet da IoTex está rodando desde Q1/2019 sem incidentes. A narrativa principal é inovar tecnicamente antes de obter adoção (“technology first”). Alguns whitepapers da IoTex foram aceitos em conferências e revistas de prestígio.

Apesar de ainda não haver uma comunidade grande e adoção, a IoTex tem construído uma rede de parcerias para construção de aplicações sob sua arquitetura. Por exemplo:

Travala.com: estão explorando a ideia de utilizar o Pebble tracker para salvar logs de viagens na blockchain e criar NFTs “proof of presence”.

HealthNet: é construído sob a IoTex e utiliza Pebble tracker no nicho de cadeia de suprimento de remédios e testes clínicos. Recentemente a HealthNet fez um contrato de $1.5M com a marinha americana. Esse projeto foi desenvolvido pela Consensus, uma empresa focada em criar soluções blockchain para instituições.

Scaleout: é uma startup de machine learning. A parceria tem como objetivo utilizar dados verificáveis do Pebble tracker para realizar previsões.

IoTex também faz parte de alguns conselhos de padronização como Mobi, IEEE (o diretor de criptografia da IoTex é vice-presidente do grupo de trabalho do protocolo P2418.1, voltado para o uso de blockchain na internet das coisas), Confidential Computing Consortium e Industrial Internet Consortium (IIC).

Como acredito que a adoção de usuários virá após uma maturação do próprio setor de IoT, faz sentido a IoTex focar em soluções práticas primeiro antes de atrair o usuário médio final.

Os maiores concorrentes diretos da IoTex são IOTA e Vechain, mas todos possuem suas diferenças, então é possível dizer que IoTex atua em um mercado bastante aberto sem players. IOTA é mais focado na comunicação M2M, enquanto IoTex tem foco maior na interação usuário-máquina-usuário. Vechain, por outro lado, não possui foco em privacidade e controle dos dados.

Há também concorrentes indiretos como Ethereum e outras plataformas de smart contracts, desde que desenvolvam integração com dispositivos IoT.

Empresas centralizadas como Apple, IBM, Xiaomi, etc. são concorrentes no sentido de lançar dispositivos IoT e centralizar a operação em suas plataformas.

Em termos de métricas, a relação de Mktcap/TVL do projeto é boa, semelhante chains como Ethereum e Solana. Possui 13 dApps DeFi, sendo 4 exclusivas na IoTex. Razoável para seu nível de marketcap. TVL medido em IOTX está aumentando, o que é um bom sinal.

Há mais de 10 mil devices cadastrados na IoTex hoje, grande maioria são câmeras Ucam.

Em termos de interoperabilidade, estão se aproximando da IBC Cosmos, já fizeram algumas parcerias com projetos de SDKs.

Um dos maiores destaques que enxergo na IoTex é a praticidade: preocupação com cada etapa desde a teoria até a conexão do device nas mãos do usuário. Lançaram dois produtos próprios (Ucam e Pebble) para servir como prova de conceito da plataforma e iniciar adoção.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a equipe enxuta. Para um projeto de escopo tão grande, esperava mais pessoas envolvidas. Mas até hoje as entregas estão saindo bem. Algumas vantagens de uma equipe menor são organização e pequena folha salarial.

Como utiliza muitos smart contracts, existe um risco de longo prazo de aplicações e projetos serem lançados em plataformas como Ethereum atuando no mesmo nicho, porém esse movimento ainda não está acontecendo.

Tecnicamente fiquei na dúvida sobre microtransações, pois algumas aplicações IoT requerem taxas quase nulas. Aparentemente a IoTex vai implementar soluções offchain para essa finalidade, mas não ficou muito claro para mim como.

Outra crítica é a respeito do baixo número de validadores na rede (em torno de 70 hoje), mas um plano de incentivo foi lançado recentemente para aumentar esse número de participantes. Não é uma rede que busca centralizar para ter eficiência, eles possuem um princípio de priorizar descentralização, o que considero bastante positivo.

O maior risco do projeto é adoção e falta de previsibilidade sobre o movimento IoT. Não há dúvidas de que essa década marcará a ascensão da internet das coisas, mas esse mercado está recém começando e é difícil prever como será seu desdobramento. Acredito que exista demanda para execuções automatizadas, registros e interconectividade remunerada de dispositivos. Mas boa parte disso poderá ser feito diretamente por empresas como Apple, IBM, etc. A questão da privacidade dos dados é um ponto de destaque para a IoTex, pois pode ser o principal gatilho de adoção e o projeto investe bastante nessa área. A ideia de dApps open source também pode ser um diferencial.

Como não há uma paixão intrínseca da comunidade irradiando no momento, e em termos de descentralização alguns pontos carecem ainda, acredito que o futuro da IoTex ainda está condicionado à utilidade prática (pessoas usando por conveniência/escolha própria) do que por filosofia. Isso a torna uma concorrente mais direta de empresas centralizadas. Privacidade dos dados, interoperabilidade multi-plataforma e uma eventual store grande com várias opções de dApps open source são os diferenciais que podem fazer a IoTex ter sucesso.

Como ponto positivo, não é um projeto tudo ou nada. Havendo alguma demanda, ainda que pontual, pode ser suficiente para manter o projeto dentro da sustentabilidade. É negativo o fato de que o caixa atual está totalmente exposto a criptomoedas, porém é um caixa robusto e mesmo cenários bastante negativos para os próximos 4–5 anos dificilmente colocariam sua continuação em risco.

Pontos mais importantes para acompanhar no médio prazo são a adoção do Pebble tracker e a chegada de novas dApps na plataforma.

Ainda precisa se provar bastante. 2023 pode representar o ano em que o MachineFi começa a ganhar tração. Por enquanto, a quantidade de dispositivos (Ucam) continua crescendo na rede.

Secret Network

Secret é uma aposta semelhante à IoTex, joga em um setor específico (privacidade em smart contracts) com pouca concorrência.

Desde meu primeiro investimento em Secret, na época em que o projeto se chamava Enigma (em 2017), havia uma expectativa de que o mercado de privacidade nos smart contracts teria demanda. Na época, ninguém sabia sequer se o conceito de smart contracts (estilo Ethereum) teria utilidade, pois até então a única “utilidade” da ferramenta era lançar novos tokens via ICO.

Felizmente a aposta no nicho de smart contracts (estilo Ethereum) deu certo, hoje não há dúvidas sobre a utilidade desse tipo de plataforma. Em relação ao nicho de smart contracts secretos (Secret), ainda não temos um veredito.

O nicho de privacidade como um todo passou por maus bocados desde que reguladores começaram a apertar o cerco. O efeito natural foi deslistagem de exchanges, distância do dinheiro institucional e tudo o mais. Para quem curte Monero, Zcash e derivados, entenda que esse setor representa o extremo da “rebeldia” e do libertarianismo. O maior catalizador para impulsionar esses tokens é uma decisão generalizada dos governos em realizar monitoramento em criptos, somado a alguma proibição + confisco. Nesse cenário, criptos privadas iriam brilhar em adoção. Porém é uma conjuntura bastante extrema, motivo pelo qual me distanciei desses projetos há muito tempo.

Mas Secret não se enquadra nessa categoria? Não necessariamente. As transações feitas usando SCRT de wallet para wallet são públicas, como qualquer outra blockchain. A privacidade está na camada de computação, o que cria uma proteção para determinadas aplicações.

Exemplos: quando um usuário faz um empréstimo em uma aplicação DeFi, seu ponto de liquidação fica público para todos. Baleias podem escanear a blockchain buscando realizar liquidações massivas, algo que já aconteceu algumas vezes. Até mesmo um simples swap feito em uma DEX traz problemas devido à exposição, como MEV, que é quando robôs identificam uma ordem transmitida para a mempool e correm na frente para executar uma operação antes de você, aumentando suas taxas. A natureza da exposição também faz com que grandes investidores tenham que ficar trocando e pulverizando endereços a todo momento, pois montar um portfólio robusto associado a um mesmo endereço na Ethereum faz com que suas estratégias sejam facilmente copiadas e eventualmente sua identidade revelada.

Secret permite que tudo isso seja evitado, pois negociações e operações que ocorrem na camada de smart contracts são privadas. Nem mesmo NFTs ficam visivelmente associados a endereços.

Essa funcionalidade pode sim trazer problemas regulatórios em algum momento, mas como a privacidade ocorre na camada de computação, existe também o argumento de que muitas aplicações precisam ser privadas. Dados de empresas, informações médicas, e até mesmo leis de proteção de dados (exemplo: RGPD da União Europeia) fazem com que uma ferramenta como a Secret Network seja necessária. Nesse aspecto, seria ótimo ver uma aplicação mais próxima do mundo não-cripto acontecer na Secret, para fortalecer o argumento. Porém sendo um mercado ainda incipiente, é natural haver barreiras iniciais.

Nesses 5 anos de projeto até agora, passamos por bons e maus momentos. Como ponto negativo, a plataforma ainda carece de adoção, não somente de usuários, mas de aplicações. Acredito que a decisão de migrar para o ecossistema da Cosmos foi inteligente nesse sentido, algo que irei comentar logo mais. Mas algumas equipes e iniciativas de dApps na Secret apresentaram problemas e finalizaram precocemente, prejudicando a adoção.

Como ponto positivo, Secret não parou no tempo em termos de tecnologia. A proposta de estruturação da Secret 2.0, divulgada recentemente, mostra como a equipe quer de fato se manter na vanguarda do setor de privacidade nos smart contracts. O aumento da interoperabilidade é um dos destaques para essa próxima versão do protocolo, o que deve colaborar para trazer mais desenvolvedores e aplicações para a rede.

Como o projeto ainda está bem financiado, e existe um programa em execução de atrair desenvolvedores e aplicações, a aposta na Secret segue de pé, pela assimetria do risco.

Em geral, enxergo dois principais drivers de valorização para 2023:

- Os lançamentos (e eventuais sucessos) de dApps e games construídos na Secret, em especial Shade Protocol, Blizzard, LegendDAO, Bushi e Jackal Protocol.

- O crescimento da rede Cosmos.

Sobre esse segundo ponto, Secret faz parte do ecossistema da Cosmos. Tecnicamente falando, Secret usa CosmWasm, permitindo que seja executada em várias redes IBC e interaja com o ecossistema Cosmos. IBC é uma sigla para “Inter Blockchain Communication Protocol”, que basicamente utiliza uma infraestrutura que permite conectar diferentes blockchains.

Cosmos é semelhante à Ethereum no sentido de ser uma plataforma para smart contracts, mas sua arquitetura foi feita de tal forma que desenvolvedores são estimulados a criar suas próprias chains usando Cosmwasm, que é uma biblioteca que fornece todo o código modular necessário para construir uma blockchain própria, seguindo determinadas regras.

Pode-se dizer que o ecossistema Cosmos prosperou, pois inúmeras chains foram criadas no IBC, como Cronos (da Crypto.com), Terra Luna, Binance Smart Chain, etc.

Porém até hoje isso não foi capturado pelo token ATOM, pelo fato dessas redes não precisarem interagir com o token de nenhuma forma. Uma atualização recente chamada “Interchain Security” pretende colaborar para a captura de valor, pois permite que cadeias menores usufruam da segurança da Cosmos, comunicando-se com seu protocolo de consenso e com o token ATOM.

É uma arquitetura que vai precisar se provar, mas acredito que a visibilidade que a Cosmos terá em 2023 pode colaborar para a Secret. Fiz uma pesquisa das maiores threads no Twitter citando “Projetos do ecossistema Cosmos” ou “Principais projetos na Cosmos” e Secret aparece em quase todas. Então em resumo, um eventual sucesso da Cosmos pode respingar na Secret.

Mais importante do que isso, o sucesso de longo prazo da Secret depende da atração de desenvolvedores e aplicações. Quando você faz parte de uma rede de projetos construídos sob os mesmos fundamentos (IBC), essa tarefa fica facilitada. Um exemplo prático foi o caso Terra Luna: após os problemas na rede estourarem, vários projetos do ecossistema Cosmos (incluindo Secret) fizeram propostas para atrair desenvolvedores da Terra.

Isso me deixa um pouco mais confortável em manter minha aposta na Secret para o longo prazo, apesar dos desafios.

Como um dos principais diferenciais da Secret no mercado é o conceito de NFTs secretos, meus dólares são divididos entre SCRTs em staking e NFTs de boas coleções.

Talvez alguns estejam se perguntando o motivo de eu incluir os nichos de IoT e smart contracts privados, se eles são mais especulativos e não estão em sintonia com os demais nichos da minha carteira principal.

Apesar de IoTex e Secret atuarem em nichos que precisam amadurecer com paciência, esses projetos possuem uma infraestrutura já pronta para florescer a qualquer momento, coisa que não acontece na maioria dos outros setores, que apesar de promissores, possuem uma infraestrutura ainda em estágio experimental.

Distribuição percentual da minha carteira

Volto a dizer que o fato de um projeto não estar nessa carteira não significa que eu esteja bearish em relação a ele. Essa foi simplesmente uma seleção das melhores oportunidades de risco/retorno que encontrei para uma carteira que explora diferentes nichos, onda a maioria está alinhada com o que acredito serem as próximas tendências.

O objetivo final de minha carteira pensando no próximo bull market é chegar na seguinte proporção:

Obviamente, assim como a análise dos projetos é subjetiva, a distribuição também é. Os critérios que utilizei para chegar nesses números foi calcular o potencial de upside natural (comparando a distância do marketcap atual em relação à ATH), e a confiabilidade/segurança de boa performance para o próximo ciclo. Esses percentuais finais é o que considero uma boa relação de risco/retorno.

Quando comprar?

Continuarei atualizando no Twitter minha visão macro sobre o mercado e o momento em que farei as primeiras compras desse bear. Mantenho a tese de que a virada do FED irá acontecer quando inflação reduzir e a recessão estiver iminente, levando a um novo período de expansão e bull market, conforme detalhei nesta thread.

A forma que entrarei comprando vai depender das conjunturas de mercado, sendo compras por etapas. Provavelmente iniciarei comprando projetos mais sólidos que possuem menos emissões de tokens programados para o curto prazo.

Não descarto a hipótese de iniciar comprando apenas BTC & ETH para depois transferir para a carteira objetivo. É uma ideia que sempre pareceu interessante, principalmente com base naqueles gráficos de performance que publiquei no primeiro artigo. Ainda vou fazer um estudo detalhado sobre essa abordagem.

Sugestão de carteira conservadora

Como estamos em bear market e é impossível prever até onde vai, é possível que as entradas aconteçam antes do verdadeiro fundo. Além disso, é possível que a recessão global aconteça antes do próximo bull.

Diante dessas possibilidades, para quem prefere manter uma relação de risco/retorno mais conservadora, para sangrar menos e dormir mais tranquilo, eu indicaria uma composição de carteira da seguinte forma:

Bitcoin (BTC) 20%

Ethereum (ETH) 20%

Cardano (ADA) 20%

Chainlink (LINK) 20%

Yearn Finance (YFI) 20%

Esses projetos eu ficaria tranquilo se tivesse que segurar por 5 anos. São bastante sérios, não vão passar por inflação/emissão e estão muito bem capitalizados. Quanto maior a crise, mais aquisições seriam feitas para reduzir o preço médio.

Ao mesmo tempo, se você optar por formar uma carteira mais conservadora e o bull se concretizar em 2023, você pode gradualmente rotacionar esses tokens buscando uma distribuição um pouco mais arrojada, como a carteira anterior que mostrei.

Obs: o motivo de eu não ter colocado Ethereum (ETH) na minha carteira é pelo fato de já haver vários ativos do ecossistema Ethereum, então a aposta é capturar o valor da Ethereum de forma mais agressiva.

Importante destacar que essa lista de projetos representa uma fotografia atual. Se a conjuntura externa fizer o bear market se prolongar, evidentemente será preciso reavaliar o status dos projetos e do mercado antes de iniciar as compras.

Então é isso, um ótimo final de ano a todos!

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