Tese de investimentos para o próximo bull market — Introdução

Criptoverso
9 min readOct 11, 2022

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O objetivo desse artigo é mostrar o racional por trás de minha carteira de investimentos para o próximo bull market das criptomoedas (que provavelmente deve ocorrer no próximo ano).

Como vou falar de muitos assuntos, não terei tempo de explicar cada sigla nos detalhes, então sugiro colocar no Google cada vez que você não souber algum termo ou conceito em particular.

Vou dividir o conteúdo em 3 partes. Nessa primeira parte, vou falar sobre o método utilizado para montar a carteira. No próximo artigo, falarei sobre os projetos DeFi escolhidos, e por último falarei sobre os demais projetos. No final, mostrarei algumas opções de composição de carteira, incluindo uma opção para quem tem receios de que uma recessão possa acontecer agora, antes do próximo bull.

Ao todo, a composição dessa carteira possui 14 projetos. Para quem está acostumado a me ver comentando centenas de projetos, fui bastante rígido na escolha destes.

Quem está a mais tempo nesse mercado sabe que, durante um bull market, a maior parte das criptomoedas acaba dando bons retornos. Mas como aumentar a probabilidade de se obter performances superiores?

Não estou à procura de meme coins ou de bilhetes de loteria. Pesquisei muito por fundamentos, e tentei me concentrar em alguns princípios que fazem a diferença em ciclos de alta. Um deles é a popularidade.

Existem muitos projetos bons e sérios, mas que não performam pela falta de engajamento. Não é apenas uma questão de marketing. Bitcoin prosperou sem investir 1 dólar em marketing. É preciso haver uma comunidade vibrante em torno do projeto, de maneira que isso se reflita em popularização. Isso é especialmente relevante se estivermos falando de novas tendências.

Exemplo prático: a tecnologia de layer 2 usando rollups é o principal assunto do momento na Ethereum. Algumas redes estão liderando a adoção nesse quesito, como a Arbitrum. Então buscar no Twitter por threads com mais de 500 curtidas que contenham a keyword “Arbitrum projects” pode dar um indício de popularidade. Observe:

Threads populares sobre o ecossistema Arbitrum

Ao analisar diversas dessas threads, é possível ter um termômetro sobre os projetos mais citados. Isso passa uma boa ideia de popularidade, pois quando o bull market se iniciar, a movimentação natural em torno das redes layer 2 vai atrair investidores. Projetos que já são destaque nas redes sociais durante o bear market provavelmente terão grandes holofotes no bull market.

Então uma das estratégias que utilizei foi mapear quais as próximas tendências e narrativas do mercado cripto, quais os projetos mais comentados dentro dessas tendências e, a partir disso, passar um filtro de análise crítica fundamentalista para selecionar aquilo que merece ir para a carteira.

Obs: Arbitrum foi apenas um exemplo.

Mas antes de falar sobre critérios fundamentalistas, vou dar um passo atrás.

A primeira motivação na seleção de uma carteira de alta performance foi observar os ciclos de 2017 e 2021.

Que tamanho de projeto é o ideal?

Usando a API da Coingecko, separei as 300 maiores criptomoedas em marketcap em 3 grupos:

  • Grupo laranja: as 10 maiores.
  • Grupo Azul: posição 11–100.
  • Grupo vermelho: posição 101–300.

Excluí desses grupos stablecoins, wrapped tokens e sintéticos, para não poluir a análise.

A ideia era ver qual grupo teve o maior ganho percentual nos picos de bull market. A figura abaixo mostra a resposta para o bull de 2017:

Performance das criptomoedas por tamanho, em 2017

Em 2021:

*Obs: o eixo y mostra uma média móvel de 30 dias do percentual de ganho relativo de cada moeda nos últimos 7 dias.

Observe que, nos 2 últimos ciclos de bull market, as top 10 criptomoedas tiveram as “piores” performances de topo. Faz sentido, pois como já são projetos muito grandes, tendem a performar menos.

Também é possível ver claramente aquele movimento que sempre falo: blue chips lideram no início e, quando as criptos menores superam as blue chips, temos sinalização de topo.

O curioso é que, em 2017, o grupo intermediário (azul) performou melhor do que o último grupo (vermelho), enquanto em 2021 foi o oposto.

Repeti essa análise pegando moedas cada vez menores, e vi que, na média, grandes grupos de moedas menores não superam esses grupos intermediários (uma ou outra cripto se destaca nas small caps com performances surreais, mas existe uma tendência de performance melhor em moedas de marketcap intermediário).

Como em 2021 havia muito mais moedas do que em 2017, essa faixa de marketcap intermediário se deslocou um pouco para a região de 100–200 em vez de 11–100 maiores moedas. Isso explica a diferença nas curvas mostradas.

Em resumo, o insight é que: pegar um projeto que não é tão grande, nem tão pequeno, aumenta as chances de ótima performance.

Quando estamos analisando novos potenciais mercados e narrativas, essa tese ganha mais força, pois é possível ter o melhor de dois mundos: pegar o projeto com mais adoção no segmento, e ainda assim ser um projeto de marketcap intermediário, que pode se tornar uma blue chip. Seria como apostar na Uniswap Labs antes da primeira onda DeFi, ou comprar um CryptoPunk antes da onda de NFTs. Ambos tinham destaque dentro dos seus respectivos nichos, apenas faltava o crescimento do nicho em si.

Critérios para escolha dos projetos

Em relação à análise fundamentalista de cada projeto em particular, criei um checklist com mais de 20 critérios que precisavam ser atendidos, como tecnologia, adoção, equipe, descentralização, tokenomics, proposta de valor do token, sustentabilidade de longo prazo, segurança, interoperabilidade, etc.

Evitei tokens que servem apenas para governança ou que não capturam o valor do negócio diretamente.

Daqueles que passaram por essa longa e crítica análise, priorizei os que possuem mais indícios/evidências de atividade.

Atividade x Passividade

Em 2017, houve uma onda de ICOs. Em 2020, uma onda DeFi. Em 2021, uma onda NFT.

O que essas ondas têm em comum? Todas aconteceram na Ethereum.

A Ethereum representa atividade, desenvolvimento e inovação, por ser uma plataforma de smart contracts. Bitcoin, por outro lado, representa passividade.

Acredito que, em algum momento, Ethereum vai superar o Bitcoin em marketcap, trazendo um novo paradigma para esse mercado: sound money lastreado por utilidade. Como são muitos argumentos, deixarei isso para outro artigo.

Mesmo que você não acredite no que acabei de dizer, é difícil de imaginar que uma nova onda de valorização específica dentro do próximo bull não tenha origens no ecossistema Ethereum.

Sendo assim, pouco mais da metade de minha carteira final ficou com projetos que acredito terem chance de fazer parte dessa próxima onda, a onda “Real Yield” em DeFi. Falarei sobre ela em breve.

Com o conceito de plataforma de smart contracts se consolidando, havendo chances de outras plataformas também ganharem espaço, escolhi 2 concorrentes da Ethereum para deixar na carteira.

Isso é importante não somente porque o sucesso da Ethereum respinga nesses projetos, mas porque um eventual problema na Ethereum pode representar uma migração meteórica para eles.

Em geral, minha carteira tem uma marca: atividade. É uma aposta de que o destino desse mercado estará alinhado com protocolos ativos, onde o movimento acontece, onde comunidades grandes são criadas para fomentar inovação + utilidade o tempo todo.

Qual será a próxima onda no mundo das criptomoedas?

Tenho expectativas de que muitos setores serão profundamente transformados com criptomoedas no futuro. Games, cadeia de suprimentos, redes sociais, votação…há muitos e muitos nichos. Por exemplo, um dos ramos que eu particularmente mais gosto é o compartilhamento de dados e arquivos (descentralização da camada de dados da internet). Filecoin, ICP, MaidSafe, Holochain, Flux…são alguns exemplos de projetos que eu acompanho, mas ainda é muito cedo para essa tecnologia amadurecer e despontar. Muitos são os desafios e provas de conceito. Talvez seja cedo demais para se posicionar.

O mesmo ocorre com vários outros nichos. Mas um setor promissor já mostrou que veio para ficar: DeFi.

Tudo começou com o conceito de pools de liquidez, onde foi possível criar liquidez para tokens pequenos de forma descentralizada, resolvendo um problema crucial que várias DEXes enfrentavam. Muitos diziam no passado: “o próximo ciclo será o ciclo das DEXes”, havia uma promessa para o setor, mas a falta de liquidez em comparação com as CEXes impedia as DEXes de brilharem. Pools de liquidez resolveram isso.

Essas pools são incríveis porque são essencialmente descentralizadas e participativas. Qualquer pessoa pode ganhar dinheiro provendo liquidez, e qualquer pessoa pode realizar um trade (ou swap, como se costuma dizer) a partir dessa liquidez adicionada.

A ascenção das DEXes com pools de liquidez permitiu novos mercados quase que imediatamente: empréstimos e stablecoins algorítmicas.

Hoje, apenas com esses recursos, é possível dizer que já existe um mercado financeiro paralelo, com tudo que costumamos usar em bancos, mas em DeFi. Em breve, um país subdesenvolvido com acesso à internet poderá se plugar em toda uma economia de primeiro mundo da noite para o dia, sem precisar se preocupar com infraestrutura ou burocracia. Esse momento está chegando, DeFi é um laboratório em rápido crescimento, expansão e adoção.

Real Yield: a próxima onda

Legal, DeFi está mudando o mundo, mas onde estão as próximas gemas?

A ideia de renda passiva sempre existiu no mercado tradicional. Ao comprar uma ação que paga dividendos, você é como um sócio da empresa, recebendo parte dos lucros gerados pela produção.

Nas criptomoedas, até hoje o conceito de renda passiva esteve associado a fazer staking, rodar um masternode ou minerar.

O problema é que esse tipo de renda passiva não é necessariamente ganho real. Quando novos tokens de um projeto são emitidos, essa renda está sendo concedida via inflação, o que desvaloriza a moeda. Então se você recebe 10% ao ano por staking, mas a moeda inflaciona 7% ao ano, seu ganho real precisa descontar isso.

Não estou dizendo que tal prática seja necessariamente insustentável, mas em muitos casos a inflação torna o ganho real pequeno. Ao mesmo tempo, inflação exagerada pode iludir novatos, da mesma forma que bancos centrais artificialmente estimulam a economia e causam recessões.

Há uma lista infinita de projetos que cresceram com promessas de rentabilidade absurda (80% ao ano, 200% ao ano, etc.) a custo de uma diluição completa de seu token. Esses modelos já se provaram não serem sustentáveis, pois a demanda de usuários cresce no início (ou durante bull markets), mas logo implode em um efeito bola de neve.

Então o que seria Real Yield?

Real yield são rendimentos gerados pelo protocolo e distribuídos na forma de lucros, não de inflação.

Como não há inflação associada, o lucro é real. Como a distribuição já exclui despesas, o modelo é sustentável e representa uma renda passiva semelhante aos dividendos da bolsa de valores.

Já existem vários projetos trabalhando nesse formato. O catalizador foi a invenção do modelo veToken, que irei aprofundar no próximo artigo.

Como muitos protocolos estão migrando para o modelo veToken, existe uma narrativa se formando nos fóruns e redes, e o conceito em si representa um marco de muito interesse para investidores tradicionais, acho bastante provável haver uma onda DeFi em torno do Real Yield.

Além do Real Yield, acredito que existirá um apelo natural para as tecnologias de rollups, que não apenas fazem parte da solução de escalabilidade da Ethereum, mas literalmente são “a solução” para os próximos anos. Nesse aspecto, dois mercados que estão na iminência de crescer no meio das DEXes são contratos futuros perpétuos e mercado de opções. A nova onda DeFi também deve contar com formas mais inteligentes de se utilizar colaterais bloqueados e liquidez passiva em pools.

Alguns outros setores potenciais para o curto e médio prazo são oracles e omnichains.

Felizmente, hoje não precisamos mais depender apenas de expectativas futuras ou whitepapers. Projetos são reais, tecnologias já estão sendo utilizadas, adoção está acontecendo. Podemos utilizar, medir, comparar.

Ao comprar uma criptomoeda que representa um projeto sólido não apenas na teoria, mas na prática, que tenha adoção, que faça parte de alguma tendência/narrativa importante, com proposta de valor real capturada pelo token, que esteja não apenas sobrevivendo, mas crescendo em bear market…é muito difícil não explodir no próximo bull.

Esse será o assunto do próximo artigo. Até breve!

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