Qual é o Seiya que vamos encontrar?

Damien Tempest
6 min readOct 8, 2024

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Em dezembro de 1990 o último capítulo de Saint Seiya era publicado na Weekly Shōnen Jump, marcando o fim de um dos mais importantes e icônicos mangás já feitos. Vimos o final dos Cavaleiros de Bronze, Saori, Hades, o mundo sendo salvo e o sol voltando a brilhar e iluminar nosso planeta, mas também vimos Seiya pela última vez. Seu final terminou em aberto, algo característico do autor, Masami Kurumada, onde não dava para saber ao certo se Seiya estava realmente morto ou se teria sobrevivido depois dos eventos que vimos nos Elísios.

No entanto, tudo isso mudou em 2004, com a estreia do filme “Prólogo do Céu”, lançado como continuação dos eventos da saga clássica, trazendo de volta os personagens que tanto amamos, onde agora estávamos adentrando em um território diferente, nos envolvendo ainda mais diretamente com os deuses do Olimpo. Depois de 14 anos os fãs puderam voltar a ver Seiya e seus amigos (ou irmãos) em ação, e a versão que o filme nos apresenta do nosso protagonista é, no mínimo, interessante.

Ao longo dos anos de publicação e exibição de Saint Seiya, tivemos versões contrastantes do Seiya, uma que era exibida no anime e outra no mangá. Deixo claro que não estou fazendo e nem pretendo fazer nenhum juízo de valor a respeito de qualidade, apenas deixando a minha opinião de que vejo os personagens como versões diferentes, nada além. Me protegendo de qualquer polêmica que possa surgir, sigamos o assunto. Se o Seiya do mangá teve seu início muito desbocado, mais brigão e delinquente, mesmo que sempre com o ar heroico ao seu redor, o do anime teve um início parecido, mas é um personagem com algumas camadas a mais. Seu início também mostrou toda aquela indolência do personagem, mas temos aqui um Seiya que é mais sensível, mais emotivo em certos momentos, e de uma certa forma, mais humano também.

O anime dá aos personagens aspectos que são, na visão do público, mais humanizantes. O Seiya é um dos que mais tem isso nos arcos pré doze casas, seja brincando com Makoto e as outras crianças no orfanato, ou em suas conversas com a Mino, Seiya conseguiu se mostrar um personagem de muita complexidade emocional, ao menos para mim. Essa identificação com seu lado mais humano, mais infantil em certa medida, e também mais emotivo, é parte do que torna o personagem tão amado pelo público que o compreende para além da chata implicância e “memes” do “Seiya e o chão” e “Saoriiiii” com ele chorando o tempo inteiro.

Quando olhamos então para o Prólogo do Céu, o Seiya que vejo durante todo aquele filme é uma grande mescla dessas duas versões. Durante o filme, o Seiya sentiu o desespero de não saber onde Saori estava, a dor e a dúvida sobre as intenções de Shina, Jabu e Ichi, a rejeição inicial de sua armadura, a dor de suas lutas e, principalmente, ainda mais o peso de seu próprio fardo. O personagem sente muito tudo aquilo que acontece, mas frente a seu inimigo ele continua lutando sem pestanejar, e sua tão boa indolência agora não é acompanhada de uma atitude mais infantil como a do início do mangá, mas algo mais maduro, reflexivo, entendendo quem ele era, o que deveria fazer, e ainda mais o que era ser um Cavaleiro e seus desdobramentos. É nesse filme que sua relação com Saori atinge o ápice também, além é claro, de termos o meu momento favorito da franquia.

Enquanto escrevo esse texto, a voz do Hermes Baroli ecoa na minha mente: “O que é um Deus?”

Como pode uma pergunta tão curta ser tão forte? São esses momentos que apenas Saint Seiya pode proporcionar, mas enfim, não me desviarei do assunto.

Após o cancelamento das sequências do Prólogo, vimos o Seiya atuando em outras versões de Saint Seiya, como o Ômega, Lenda do Santuário, Kotz, o live action, Episódio G — Assassin e sua sequência, Episódio G — Réquiem, mas nunca mais pelas mãos do Kurumada. Até que, 20 anos após a icônica cena que coloquei na imagem acima, o Seiya levantou da cadeira de rodas em que estava preso, mas sua aparição foi curta, não passando de meros dois capítulos em 118 que vimos ao longo de 18 anos de publicação. A continuação de Next Dimension está cada dia mais próxima e a pergunta que me vem à mente é apenas uma: qual é o Seiya que o Kurumada quer me mostrar?

A pergunta pode parecer idiota, talvez seja, mas vou dar meus motivos. Nas poucas páginas que vimos em Next Dimension, o Seiya nos mostrou algumas coisas interessantes. Seu espírito de sempre ao invadir o templo da lua sem hesitar, mas também entendimento da situação em que seus irmãos e Saori se encontravam. Diferente do Prólogo em que a punição divina era injusta, aqui eles estavam contra um Apolo, que nos foi personificado como a própria justiça, e Ártemis, que queria dar a punição mais branda possível de Saori, algo que a própria aceitava. Seiya poderia ter ido para cima, um esforço inútil naquele momento, principalmente após acordar de um coma e sem sua armadura, mas não seria estranho que fizesse isso. Ao invés disso, Seiya abaixou sua cabeça e tentou se sacrificar no lugar daqueles que amava. É verdade que, para mim, não existe atitude mais Seiya do que essa, a de ser um escudo e aquele que vai enfrentar e dar tudo de si pelos outros bronzes e Saori, mas Seiya escolher uma saída não violenta é, no mínimo, curioso.

O que mais o Seiya sentiu para chegar a essa conclusão? Culpa? Fraqueza? São coisas que podemos deduzir, mas creio que ainda seremos levados por esse caminho. É por isso que me questiono se a visão que o Kurumada tem sobre o Seiya mudou de alguma forma. Quando olhamos para os outros Cavaleiros de Bronze, todos eles, mesmo o criticado Shun, são versões diferentes do que conhecemos pela primeira vez no mangá. Ora, não estou sendo revolucionário ao dizer, eles passaram por seus desenvolvimentos de personagem, mas existem ainda mais diferenças, mesmo se compararmos com suas versões da fase inferno/elíseos. Algumas mudanças mais sutis, outras menos, mas em outro momento posso me delongar sobre isso.

O que nos garante que Seiya também não vai passar por isso? Mudanças em seus protagonistas não seria uma grande novidade. Kojiro, de Fuuma no Kojiro, tem uma brusca mudança de um arco para o outro, Jingi de Otokozaka, é um personagem que tinha uma versão de sangue quente, irritada, explosiva e agressiva nos três primeiros volumes, que acabaram por ser descontinuados, mas apresenta algo completamente diferente em seu retorno, em 2014. Ainda usa seus punhos, mas é mais sábio, mais doce com o mundo ao seu redor, dentre algumas outras qualidades enquanto personagem. Não seria estranho também se o tom da obra mudasse. Na minha leitura, já existe uma mudança de tom do clássico para Next Dimension, como também existiu de Ring ni Kakero para sua sequência, Ring ni Kakero 2.

Por mais que o Kurumada siga sendo o mestre do traço ardente, e a chama dos mangás nekketsu ainda esteja acesa em seu coração, é bem verdade que a idade muda as pessoas, suas interpretações e visões de mundo também, e sinto que isso se reflete em suas produções de 1990 para cá, mas esse é um assunto para um outro momento.

Mas e você? Concorda comigo? Discorda de mim? Coloque sua opinião e vamos conversar! Sempre gosto de saber as visões de todos sobre o assunto, e a discordância só nos faz crescer.

Por esse texto foi isso, muito obrigado por ler!

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Damien Tempest
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Written by Damien Tempest

Sou um apaixonado por CDZ, e essa paixão me levou a criar sobre a obra! Amo fazer análises e comentários sobre! Você será sempre bem vindo aqui!

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