Dani Alves
4 min readOct 27, 2022

Carta de ex-militantes do MRT — Pelo voto crítico em Lula

Somos ex-militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), que impulsiona o jornal Esquerda Diário e a juventude Faísca Revolucionária, e chamamos voto crítico em Lula.

Rompemos com a organização no início deste 2º turno, devido a diversas diferenças e críticas que se acumularam ao longo de 2 anos, tendo sido a gota d’água para essa decisão a posição do MRT de abstenção e voto nulo neste 2º turno entre Lula e Bolsonaro.

Os motivos que nos fizeram romper com a organização vão muito além desta divergência tática do voto, como a falta de ambição de dialogar com setores mais amplos na construção da organização, diálogo autocentrado e pouco construitivo com outras correntes da esquerda, e políticas feitas sem continuidade baseadas em fórmulas abstratas sem propostas concretas. Problemas que em grande parte se expressam nessa posição equivocada frente ao 2º turno das eleições, em que o MRT adota uma posição sectária, de isolamento, e se separa do combate concreto que a classe trabalhadora e os oprimidos precisam dar em todos os terrenos contra o bolsonarismo, inclusive no terreno eleitoral.

Batalhamos internamente no MRT para que a organização chamasse o voto crítico, mas fomos derrotados. O MRT aprovou uma posição de abstenção e voto nulo no 2º turno, um “voto nulo envergonhado”, que a organização não declara e esconde da classe trabalhadora, defendendo o voto nulo “em voz baixa”, somente para os “iniciados”, mais próximos do MRT.

Após sermos derrotados internamente, buscamos expressar publicamente no Esquerda Diário nossa posição de voto crítico em Lula, como minoria organizada em Tendência no MRT, para colocar um debate para a classe e não só para os militantes da organização, mas fomos impedidos. O MRT descumpriu seu próprio estatuto, que dá direito à minoria se expressar e debater frente à vanguarda, para silenciar nossa posição e preservar sua tática de “voto nulo envergonhado” e abstenção no 2º turno. Esta medida antidemocrática que a organização tomou para silenciar a minoria precipitou o fim de nossa militância no MRT.

Nosso voto em Lula não representa nenhum apoio político à chapa Lula-Alckmin, um projeto de conciliação de classes que não garante nossos direitos, e nem mesmo promete revogar os ataques que aconteceram desde o golpe de 2016, como a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista.

Chamamos o voto em Lula e participamos do movimento de Vira Voto para frear os ataques que Bolsonaro e Guedes prometem aprofundar, reverter a fome e a carestia de vida e combater a escalada autoritária do bolsonarismo contra os direitos básicos de liberdade de expressão e organização da nossa classe, como vemos com os diversos episódios de violência e golpismo durante este 2º turno.

Desde o primeiro dia do governo Lula-Alckmin, seremos oposição de esquerda e não daremos nenhum apoio político a esta gestão. Estaremos nas ruas organizando a luta pela revogação de todas as reformas desde o golpe de 2016; pela punição dos crimes dos militares durante o governo Bolsonaro e pela expulsão dos militares da política; contra o agronegócio, pela reforma agrária radical e pela reconstituição e preservação da Amazônia e de todos os biomas do país; contra o autoritarismo do STF e do judiciário. Estas e outras pautas fundamentais, de enfrentamento direto ao bolsonarismo, ao regime político golpista e aos capitalistas, só serão conquistadas com a luta e a organização da nossa classe e dos oprimidos do país, e não com a conciliação de classes do PT que, por limitar o poder de ação das classes populares, fortalece a direita e a burguesia.

Consideramos que o próprio fato de Bolsonaro terminar o seu governo de autoritarismo, morte, fome e ataques já foi uma importante derrota para a classe trabalhadora. Nos anos do governo Bolsonaro lutamos pela derrota do bolsonarismo nas ruas, o que foi impedido pelo PT e pelas centrais sindicais e estudantis que o partido dirige, como CUT e UNE, que não organizaram a luta seriamente e sempre buscaram canalizar a força das lutas para as urnas e para processos institucionais como o impeachment.

Por isso não concordamos com as correntes de esquerda que logo se diluíram e adaptaram à Lula e ao petismo, como a Resistência e o MES, do PSOL. É necessário e urgente construir uma esquerda revolucionária que supere o PT e batalhe por um futuro socialista, única maneira de derrotar definitivamente a extrema-direita, a fome e a destruição ambiental, e construir um país digno sem exploração e opressão.

Assinam:

Anderson (MG)
Dani Alves (MG)
Francisco Marques (MG)
Taís Roldão (SP)
Zuca Falcão (MG)