Eu tenho transtorno bipolar

Daniela Amadeu
5 min readJan 19, 2018

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Eu pensei muito no título que iria dar a este post, inicialmente pensei em “Considerações sobre transtorno bipolar”, mas eu sei lá que tipo de consideração eu iria fazer, então vou começar o texto com um título escancarado. Pronto.

Minha psicóloga disse que eu preciso aceitar o transtorno que eu tenho. Eu concordo com ela. Ela também disse que eu não preciso sair gritando por aí ou vestindo a camisa do transtorno, eu preciso apenas aceitar para mim. Sim, é verdade.

Porém eu escrevo. Escrever faz parte de mim. Ou seja, escrever sobre o assunto é uma das formas de eu iniciar o processo de aceitação.

Este post não tem um objetivo claro. Não espere um final conclusivo. Talvez nem final ele tenha. Talvez eu apenas pare de escrever em um determinado momento e fique aquela sensação de texto interrompido. Eu já fiz isso várias vezes.

O meu primeiro diagnóstico foi em 2011. De 2011 a 2012 eu me tratei. Parcialmente, mas me tratei. Até que em um determinado momento de 2012 eu acreditei que não tinha TAB, que era um diagnóstico equivocado. Voltei ao psiquiatra, expliquei toda a situação e a conclusão foi a de que talvez eu não tivesse TAB mesmo. Ok. Saí do consultório com uma sensação de alívio, mas também com uma sensação de peso nas costas. Eu já não tinha mais o subterfúgio da doença para justificar minhas loucuras. Ninguém iria mais olhar pra mim com cara de pena e dizer “tadinha, ela faz essas coisas porque é bipolar”. É estranho perder a muleta. É estranho. Mas foi libertador, sem sombra de dúvida. A sensação de liberdade foi maior que a sensação de responsabilidade que surgiria a partir da retirada do diagnóstico.

Com o passar dos anos eu fui aprendendo a controlar, racionalizar e a justificar para mim algumas das ideias e dos impulsos que eu tinha. Eu não me comportava mais como uma pessoa louca, mas dentro de mim algumas coisas bizarras ainda aconteciam. Até que em setembro de 2017 eu deprimi. Do nada. Eu acordei um belo dia e não sentia prazer em mais nada. E essa sensação perdurou por dois meses. Dois meses também é o tempo médio que um antidepressivo leva para fazer efeito. E eu estava tomando antidepressivo, pois até então o diagnóstico era de depressão. Até que em dezembro eu ciclei. Ciclar é o nome dado para as oscilações de humor que um bipolar sofre. E passei dezembro inteiro muito doidona. Foi estranho, porque depois que as crises passavam, eu não conseguia entender como eu tinha capacidade de fazer as coisas que eu tinha feito.

Eu estava muito eufórica, com pensamentos de grandiosidade, me sentindo capaz de fazer tudo e tinha a certeza de que nada poderia dar errado. Oras, é claro que nesse momento eu já estava suspeitando de ter TAB. Um antidepressivo sozinho não causa esse estrago todo. Voltei ao psiquiatra, conversei com ele, contei sobre todo o meu histórico desde 2011 e o diagnóstico de TAB voltou.

Mas nada está tão ruim que não possa piorar, não é mesmo? Em 2011 eu tinha o alívio de ter sido diagnosticada como TAB 2 — onde as crises de depressão são mais recorrentes e o paciente tem fases hipomaniacas em vez de maniacas. Eu me recordo que em 2011 eu tinha ficado incomodada de ter TAB 2 em vez de TAB 1 porque eu considerava estar em 2º lugar. Sim, tab 2, então estou em 2º lugar. Sem noção, eu sei. Só que dessa vez meu diagnóstico foi de TAB 1. O transtorno bipolar clássico. E olha, era para eu ter me mantido em 2º lugar mesmo. O TAB 1 é realmente muito pior que o 2. Enfim.

Olha, eu sei que sobre transtorno bipolar eu tenho uma infinidade de coisas para dizer, mas nem sei direito por onde começar. É estranho. Eu tenho aprendido muito sobre esse problema. Em 2011 eu sabia apenas algumas coisas a respeito do assunto, sabia sobre hipomania, depressão, psicose e irritação. Sabia também que uma ciclagem podia levar de 6 meses a 2 anos para ocorrer. Ou seja, uma pessoa poderia ficar 6 meses em mania ou em depressão, e depois o humor dela mudaria. Isso era tudo o que eu sabia sobre TAB.

Agora eu estou mais atenta ao que acontece dentro de mim, eu também conheci/aprendi uma infinidade de ferramentas de automonitoração. Agora eu conheço uma infinidade de termos. Eu sei o que é ciclagem rápida, ritmo ultradiano, delírio, mania, hipersexualidade e mais uma porrada de coisas que se colocadas aqui, fora de contexto, ficam sem sentido.

TAB é tipo uma droga. Eu gosto de comparar o TAB com a cocaína. A cocaína te dá um pico de euforia, mas depois que passa o efeito, te joga para baixo. Não existe euforia grátis. Tem seus pontos positivos, mas o pontos negativos pesam mais do que os positivos.

Eu gostaria de escrever mais a respeito. Como eu disse, eu tenho lido muito. Eu tenho enfrentado e, na medida do possível, aceitado.

Sabe por que é difícil aceitar? Porque eu não consigo confiar em mim. É estranho não confiar em si mesmo. Como estarei semana que vem? Honestamente, eu não sei. Como vou estar amanhã? Eu também não sei. Se eu me comprometer com algum projeto, será que conseguirei cumprir? Não sei.

Essa sensação constante de instabilidade é o que mais me incomoda. É curioso quando alguém comenta comigo que não faz ideia de como é ser bipolar. Eu entendo a pessoa. Eu também não faço a menor ideia de como é ser unipolar. Eu suspeito que meus primeiros sintomas de TAB tenham aparecido na adolescência. Então eu nunca vivi de modo unipolar. Eu não sei como é ser uma pessoa “normal” — por normal entenda unipolar.

Eu pensei em criar uma publicação aqui no Medium para falar sobre TAB. Eu gostaria muito de poder ajudar e de conhecer pessoas que também têm esse problema. Mas se eu criar uma publicação será que eu vou conseguir manter? Não sei. Por isso não criei. Eu mal tenho conseguido me planejar. Rotina? Pfff. Faz tempo que eu não mantenho uma rotina.

Se você se leu este texto porque se encontra em uma situação parecida ou conhece alguém que está, baixe agora mesmo o PDF com o guia do transtorno bipolar que eu criei explicando como se dá o tratamento da doença. Nunca mais tenha dúvidas, clique aqui para baixar.

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