Mulheres de Fogo

Parte 1

Tenho caminhado há vida toda com uma sensação de que há algo de errado comigo, já fiz processos de cura emocional, terapia, e encontrei muitas chaves que me levaram ao porquê dessa sensação. São vários os motivos e nessa jornada de saber o porquê me curei de muitas coisas e me transformei em uma outra pessoa. No entanto, a sensação não ia embora, eu ainda convivia com essa percepção de que alguma coisa estava errada comigo.

Recentemente em um trabalho de Raiva Consciente com outras mulheres eu disse espontaneamente: “Eu Tenho Raiva De Ser Mulher! E continuei, eu tenho raiva porque eu sinto demais, eu carrego todo esse mistério dentro mim que não é útil nesse mundo, porque eu sou uma imensidão de caos que precisa se conter para caber em um mundo rápido, apertado e violento, eu nasci no mundo errado, é um problema ser quem eu sou nesse mundo”. E depois de dizer isso eu ouvi de uma outra mulher: “Você tem razão, esse mundo não é feito para você, não é feito para mulheres, e a beleza disso é que as mulheres carregam a semente de um novo mundo”.

Nos últimos meses venho trabalhando mais intensivamente com as mulheres, eu mesma não entendia o porquê desse impulso, eu apenas segui, e tenho descoberto camadas de patriarcado de mim, de raiva inconsciente contra mim e contra outras mulheres, um desejo interno de me punir por ser mulher e punir as outras mulheres por isso também. E tenho aprendido junto com elas a abrir meu coração, a ter minha dignidade de volta, o que é estar entre irmãs, aprendido a construir um novo mundo com outras mulheres.

Verbalizar eu tenho Raiva de ser Mulher foi assustador e ao mesmo tempo libertador! Durante muito tempo, carreguei esse segredo e construí uma identidade secreta em torno dele. Minha identidade foi moldada por essa crença de que eu deveria ser menor, boa, gentil, sensível (mas não demais), confusa e inofensiva para sobreviver como Mulher. Acreditava que, agindo assim, seria recompensada com amor, e é disso que sinto raiva. Todo o esforço que empreguei para me encaixar em uma representação tão restritiva do que é ser mulher custou-me minha dignidade. Foi um preço alto que escolhi pagar, e inconscientemente culpei a mim mesma, minha mãe e todas as mulheres por isso.

Em um treinamento de Expand The Box do Possibility Management (Gerenciamento de Possibilidades), experimentei o uso da raiva consciente para descobrir o que realmente importava para mim. Fiquei surpresa ao usar toda a minha voz e corpo para expressar meu desejo de trabalhar com mulheres, como disse acima eu carregava esse segredo de ter raiva de ser Mulher, mas eu escolhei seguir o impulso da minha Raiva e abri um Clube da Raiva só para Mulheres.

Logo no primeiro vieram 15 Mulheres, e depois fiz mais dois Clubes online e um dia da Raiva presencial. Ver essas Mulheres com Raiva, dizendo Sins e Nãos autênticos, expressando com toda dignidade o que não é ok para elas, colocando limites e dizendo o que vieram criar nesse mundo tem sido curador para mim. Uma Mulher quando reivindica a sua raiva de volta, está nascendo outra vez!

Enquanto sustento espaço para essas mulheres, também navego pelo desconhecido. Muitas vezes, duvidei e ainda duvido de mim mesma quando estou entre elas. Questiono-me: “Como posso sustentar esse espaço se não sei como ser autêntica entre as mulheres?” No entanto, descobri que encontro meu próprio caminho à medida que abro caminho para outras mulheres. É dessa forma que podemos juntas criar um novo mundo.

Assim como eu, muitas mulheres enfrentaram a escolha entre adaptar-se para serem boas e sorridentes ou rebelar-se e lutar contra essa expectativa. Em ambos os casos, o patriarcado foi o ponto de referência. Meu convite aqui é descobrirmos e criarmos juntas uma nova cultura no qual a Mulher seja arquetipicamente o que ela veio ser. E se você deseja criar isso, a sua Raiva é o caminho e a chave para essa descoberta.

Experimento:

Faça esse experimento com uma outra Mulher, uma ampara espaço para outra.

Uma mulher pergunta para a outra: O que você aprendeu sobre o que é ser Mulher?

Depois de responder essa primeira pergunta, a mesma mulher responde a segunda pergunta: O que é ser uma Mulher Arquetípica? — Use pelo menos oito minutos para deixar sua semente falar o que é ser uma Mulher Arquetípica

E a mulher que está amparando espaço anota o que ela está dizendo, depois invertam os papeis. Compartilhe com outras Mulheres o que você descobriu sobre ser uma Mulher Arquetípica.

Com Amor e Raiva,

Danielle Barros