Como criar uma playlist sem ajuda de robôs
Acredito que montar uma boa playlist é como contar uma boa história. A beleza da vida é que cada pessoa tem o seu jeito de criar uma narrativa, de colocar suas ideias e suas convicções no mundo com as palavras corretas e o tom adequado. Na hora de fazer uma playlist é a mesma coisa. É aí que entram na jogada os editores de conteúdo ou, para usar uma palavra mais chique, os curadores. Nosso papel é como o de um redator: entender a demanda do cliente e do público e botar no papel.
Quando me ofereci para colaborar com a turma do Startup Weekend São Paulo, achei que seria uma boa ocasião para mostrar como esse trabalho pode ser feito com cuidado e, quem sabe, agregar um pouco de valor ao produto. E ao meu trabalho, óbvio.
Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa meio sem métodos para algumas coisas, vou fazendo tudo de forma meio espontânea e gosto de testar. Mas quando o assunto é playlists, prefiro seguir alguns conceitos para não perder a mão e viajar demais. Uma boa playlist, pra mim, se equilibra em uma estrutura mais ou menos assim:
Fluidez
Tema bem definido
Gêneros e estilos musicais que dialogam entre si
Uma seleção representativa, coerente e inclusiva de músicas interessantes
No fim ficou tipo cola de cursinho para escrever uma redação. Foi mal. Mas cá entre nós: ninguém gosta de coisas engessadas. O importante é explorar as entrelinhas e deixar a criatividade solta.
Na playlist “Startup Weekend São Paulo: foco na ideia”, por exemplo, definimos que o tema central seria músicas para ajudar na concentração. Pesquisando você acha várias por aí, mas uma coisa me incomodou: ou são muito monótonas ou são basicamente eletrônicas. Como o público do evento é um tanto diverso, mas geralmente ligado em tecnologia e inovação, resolvi misturar um pouco as coisas, colocando diferentes gêneros e batidas, incluindo poucas músicas com vocais (letras podem ser uma grande distração), mantendo um ritmo mais intenso no começo e no meio e terminando com faixas mais suaves e orgânicas. Para dar uma palinha, nela você ouve Morcheeba, Air, Yo La Tengo, Explosions in the Sky e até Fleetwood Mac e Led Zeppelin.
Para a segunda playlist, “Startup Weekend São Paulo: all action”, o tema era um pouco mais livre e partiu da seguinte ideia: quais artistas estão ditando os novos rumos da música, rompendo barreiras e inovando o mercado? Quais podem servir de exemplos para sua empreitada? É gente como Kendrick Lamar, Xênia França, BaianaSystem, Pabllo Vittar, Charli XCX, Juçara Marçal e outros que têm mais o que dizer.
No fim — e aqui vai uma dica fundamental — o mais difícil é ter um pouco de desprendimento e lembrar que não são seus gostos pessoais que pautam o trabalho. E que explorar o mundo da música é um negócio divertido pra caramba, que pode estreitar laços entre marcas e pessoas, evento e público.