Aqui por ele

Arthur Antunes Coimbra Zico, três de março de mil novecentos e cinquenta e três

Danilo Jordão
2 min readMar 3, 2023

Não estaria aqui se não fosse por ele. Não sentaria onde sento se não fosse por ele. Não sei o que seria se não fosse por ele.

Descobri o que o futebol representa há pouco mais de quatorze anos, quando meu pai me levou ao Maracanã pela segunda vez. Fazia vinte anos que ele não via Zico. Eu nunca havia visto Zico. E fomos vê-lo, no saudoso Estádio Jornalista Mário Filho, celebrar o hexacampeonato brasileiro do Clube de Regatas do Flamengo.

Meu pai não é de chorar. Até aquele momento, não me lembrava de ver uma lágrima caindo de seus olhos. Pelo menos não na minha frente. Naquele dia, caíram muitas.

No momento em que Zico foi substituído, sob o aplauso de mais de 70 mil discípulos, ele não se conteve. Que bom que não. Mal sabia que mudara minha vida para sempre.

Ali entendi o que é futebol. Amor, paixão, alegria, tristeza, amadurecimento. Entendi o que o esporte faz com as pessoas, de todo lugar, de todos os pensamentos, de todos todos. Zico representou e representa gente. Muita gente.

A partir daquele dia, fomos ao máximo de jogos beneficentes do Galo possíveis. Um culto, uma devoção a um ser humano que mudou as nossas vidas e a de milhões de torcedores com gestos de craque dentro e fora de campo.

Por causa de Zico, meu pai se apaixonou por futebol. Por causa do meu pai, eu me apaixonei. Nem um pouco coincidentemente, me apaixonei, também, por Zico.

Arthur Antunes Coimbra fez parte do meu desenvolvimento. Meus primeiros livros “de gente grande” foram sobre O Camisa 10 da Gávea. Meus primeiros jogos, minhas camisas, minhas conversas. Zico, Zico, Zico. Minha história.

Ironia do destino é notar que, há quatorze anos, Zico tinha a mesma idade que meu pai tem hoje. Agora, fez 70 anos. Dedicando a sua vida àqueles que sentiram o mesmo que eu, lá em 2009, e que meu pai, quando admirava, nas arquibancadas da Gávea, as cobranças de falta pós-treino do Mais Querido. Uma vida dedicada ao Flamengo e à humildade de perceber que é um espelho aos torcedores das mais diversas idades, credos e criações.

Atualmente, inicio minha trajetória como jornalista esportivo. Se estou aqui, é por causa de Zico. Por isso, e por muito mais, agradeço.

Parabéns, Arthur. Obrigado por ser.

Obrigado por fazer meu pai chorar. Mas obrigado, principalmente, por fazer meu pai sorrir.

Danilo Jordão — 3 de março de 2023

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Danilo Jordão

O que veio primeiro: o sorriso ou o mundo? Na felicidade tudo se cria.