A esquerda precisa aprender com a direita

Dante Baptista
3 min readOct 5, 2018

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“Eu hoje tô tão dividido, sem saber o que fazer. Uma está sempre comigo e a outra eu sempre quis ter (Bokaloka | Duas Paixões)

Antevéspera das eleições. De um lado, mídia tradicional, mercado, formadores de opinião, artistas e boa parte do eleitorado decidiram. O voto da direita será em Jair Bolsonaro. E isso explica, em grande parte, o desempenho frustrante de Geraldo Alckmin, estacionado próximo aos 10% dos votos, de Marina e Amoedo, que juntos chegam a 7% e a nenhuma competitividade de Álvaro Dias.

O desempenho do capitão reformado contraria o meu próprio prognóstico, de que ele seria um Celso Russomanno de nível nacional, derretendo à medida que a campanha avançava. Esse espaço acreditou que o escolhido da direita seria Alckmin, mas sua gestão à frente do Estado de São Paulo e o escândalo das merendas grudaram nele. Sim, Geraldo perdeu o teflon, que agora pertence a Jair.

Enquanto isso, como a esquerda está? Tal qual um libriano ou geminiano indeciso, não sabe para qual lado vai. No início da campanha, ficou empolgada com Ciro, mas ficou dividida após a ascensão de Haddad e ontem se apaixonou por Boulos. Olhando as pesquisas, temos Bolsonaro disparado em primeiro lugar, com Haddad atrás e Ciro em terceiro. As demais candidaturas não alcançaram a casa dos dois dígitos.

O risco dessa atitude

A esquerda, por padrão, foge do pragmatismo. Gosta de digressões, de pensamentos, divagações e demora para pensar de forma prática. Então vamos ao cenário. Em 2014 era possível esse tipo de pensamento. Aécio era notadamente corrupto, um péssimo político, mas não representava uma ameaça para a democracia, como hoje temos em jogo. Aécio era uma opção ao antipetismo, mas dentro do jogo político tradicional — da pior forma, mas era.

Hoje o jogo mudou. Bolsonaro é, sim, uma ameaça à democracia, ao direito das camadas mais pobres e um defensor pessoal da opressão às minorias. Já falei sobre isso aqui. E a esquerda não entendeu como combatê-lo. Está até agora indecisa em quem votar e, com isso, corre o risco de vê-lo vencer no segundo turno ou, em menor probabilidade, ainda neste domingo.

Como poderia ter sido?

Sempre fui um defensor de uma frente ampla progressista. Coordenada por partidos de esquerda em parceria com movimentos sociais e a sociedade civil organizada. Mas o PT, maior partido desse bloco, preferiu, em nome de salvar a própria pele, minar esse projeto. Se o antipetismo barrou por completo qualquer chance de reeleição de Fernando Haddad em 2016, não seria agora, com seu maior líder preso, que o sentimento mudaria.

Mas não. O PT preferiu aprofundar o discurso de golpe, da defesa de Lula e apostar em sua liderança messiânica para impulsionar um candidato próprio. Não era a hora de ter decidido deixar de ser cabeça de chapa em nome de um projeto maior de país?

E agora?

É tarde dizer isso, a menos de 48 horas das eleições. Mas a esquerda precisa deixar a indecisão de lado, escolher um nome e torná-lo forte o suficiente para derrotar a ameaça fascista e antidemocrática que representa Bolsonaro. O risco é vê-lo subindo a rampa do Planalto no dia 1º de janeiro, tá ok?

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