8 atitudes para homens que querem ir além do 8 de Março

Débora Nisenbaum
4 min readMar 8, 2016

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É sabido que ser mulher define sua existência social. Vai definir as oportunidades que você vai ter, os ambientes que vai frequentar, sua vivência de sexualidade, sua possibilidade de sofrer mutilação genital e outras violências de gênero como estupro, agressão doméstica, feminicídio e assédio sexual.

Então a todos os homens que estão se manifestando nesse dia 8 pelo respeito às mulheres, eu dedico esse manual de como melhorar ativamente a vida das mulheres que lhes cercam. Sem flor, sem chocolate, mas com benefícios reais.

1 — Olhe mais para as mulheres que te rodeiam

Se você conhece cinco ou mais mulheres, é estatisticamente provável que você conheça pelo menos uma que tenha sido estuprada, assediada ou violentada por um parceiro. Você não precisa sair perguntando — até porque não é toda mulher que quer compartilhar a dor dessas feridas. Apenas pense que elas provavelmente sofreram e sofrem tipos de violência com os quais você jamais terá que lidar, porque você nasceu homem. Faça disso um exercício de empatia. Hoje estão rolando no Facebook centenas de posts em que mulheres dizem o que já deixaram de fazer por serem mulheres. Dê uma lida, assim você pode entender melhor nossos medos e anseios.

2 — Pare de “ajudar” nas tarefas domésticas

Se você divide sua residência com uma ou mais mulheres, extermine essa noção da ajuda no trabalho doméstico. Ele é responsabilidade de todas as pessoas que moram no lugar. Você não deve ajudar, deve assumir. Dividir tarefas ajuda a equilibrar a quantidade de tempo que cada um gasta com elas, eliminando o que se torna, por vezes, uma jornada dupla de trabalho para mulheres.

3 — Elimine do seu vocabulário expressões misóginas

Vadia, vagabunda, piranha e tantas outras. A linguagem é uma ferramenta poderosa de dominação. Usar palavras, xingamentos e expressões que atacam a mulher por sua sexualidade ou que atribuem à feminilidade um caráter derrogatório (“coisa de mulherzinha”, por exemplo) apenas contribuem para a manutenção de uma cultura violenta com as mulheres.

4 — Repense seu consumo de pornografia

A pornografia é uma das indústrias mais violentas com as mulheres — e das que mais colaboram para a normalização dessa violência. Se você quiser se informar mais sobre o assunto, assista ao documentário Hot Girls Wanted (disponível no Netflix) e a esse vídeo do Ran Gavrieli. Existem também centenas de depoimentos de ex-atrizes pornô na internet, contando como eram forçadas a fazer cenas que não estavam no contrato, a transar sem preservativo com atores que não haviam feito exames de DST’s e outras práticas abusivas. Financiar essa indústria é desrespeitar a dignidade feminina, não só por causa das grandes produtoras, mas também pela quantidade imensa de vídeos e fotos provenientes de pornografia de vingança circulando na internet.

5 — Assuma o dever da contracepção

Use camisinha. Simples assim. Ah, preservativo incomoda? Aposto que pagar pensão por 18 anos vai te incomodar mais. Gonorreia também incomoda pra cacete — e já existem variedades resistentes ao tratamento. Não abra mão do preservativo e nem pergunte se precisa mesmo, só use. Se você está namorando ou é casado e vocês preferiram adotar a pílula, divida os custos com ela. Os hormônios mais modernos do mercado chegam a custar 70 reais, todo mês.

6 — Elimine do seu cotidiano práticas machistas

Chega de cantada de rua, foto de pinto não solicitada, puxar a menina pelo braço na balada, buzinar pra garota na rua e tantas outras práticas escrotas. “Ah, mas tem mulher que gosta!”, tem sim. Também tem muito cara que ama fio terra, mas eu não saio no meio da rua enfiando o dedo no cu de cada homem que vejo. Além disso, a cantada reflete uma dinâmica de poder, não de interesse sexual. Toda mulher que já confrontou um desbocado na rua sabe disso. Pare de praticar essas atitudes e censure seus amigos que praticam. De nada nos adianta um cara que se diz a favor do respeito com as mulheres, mas faz a egípcia quando o brother tá assediando alguém. Isso vale também pra julgar mulheres que vivem sua sexualidade livremente. Quando você chama uma mulher de vagabunda porque ela transou com 25 caras, tudo que isso faz é mostrar que você tá chateado por não ter sido um dos 25.

7 — Reveja sua masculinidade

Pra muitos caras, ser homem está ligado a repudiar feminilidade e garantir que não se associa a ela de maneira alguma. Isso passa por dizer que homem não chora, recusar demonstrações de afeto de um irmão ou amigo, ser homofóbico (que nada mais é do que reproduzir misoginia pra cima de homens cujo comportamento é considerado feminino), dizer que fulano faz tal coisa como mulherzinha e até recusar certas posições sexuais (pois é). Enfim, demonstrar de todas as formas possíveis e imagináveis que você não compactua com tudo aquilo que está culturalmente ligado ao feminino (emoção, compaixão, doçura, carinho, cuidado). Isso tem dois efeitos principais: o primeiro é a manutenção da ideia de feminilidade como algo fraco e inferior, o que é péssimo pras mulheres. O segundo é que todo mundo percebe que você é inseguro. Construa seu valor como ser humano sobre o seu caráter, sua integridade e sua capacidade de respeitar o próximo, ao invés de equilibrá-lo nas finas estacas de cristal da Masculinidade do Cabra Macho Que Não É Viado Não Hein™.

8 — Ouça as mulheres. Literalmente.

Você discute com seu dentista sobre a obturação que ele fez? Acha que manja mais de eletrônica do que a pessoa que consertou seu computador? Não, né? Então não ache que você tem mais cacife que uma mulher pra discutir questões de gênero. Você não tem. Ouça as demandas das mulheres, entenda, pesquise-as com cuidado, considere seus privilégios enquanto homem. E não interrompa (sério, isso é um fenômeno mensurável e até meio bizarro). Não crie o hábito irritante de reproduzir o que uma mulher acabou de falar (também conhecido como mansplaining). E sabe aquele papo de que mulher fala demais? Ele só existe porque a nossa fala não é comparada à fala masculina. Ela é comparada ao silêncio.

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Débora Nisenbaum

Fotógrafa que escreve quando não cabe num frame. Dev em formação. Colaboradora na Ovelha www.ovelhamag.com