Danilo du Silvan

Deivison Silvan
7 min readMay 9, 2018

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Danilo du Silvan com cerca de 50 anos.

Danilo du Silvan (Manaus, 20 de novembro de 1930 — Manaus, 15 de novembro de 1985) foi um ufólogo, jornalista, radialista, escritor, poeta, historiador, compositor, advogado e promotor de Justiça brasileiro.

Foi casado com Clélia Bezerra de Menezes, com quem teve os filhos Danilo Júnior, Emerson, Iria Helena e Denison Silvan. Conhecido como Du Silvan, fundou em 14 de setembro de 1967, em Manaus, o Clube de Estudos dos Objetos Aéreos Não-Identificados (Ceoani), instituição cuja seriedade e objetividade eram reconhecidas por suas congêneres nacionais e internacionais. Atuou no jornalismo nos estados do Amazonas e Amapá (1948–1985); na advocacia (1969–1973); e no Ministério Público, como promotor de Justiça do Estado do Amazonas (1973–1985).

Foi o primeiro ufólogo da Amazônia e um dos pioneiros do Brasil, atuando como pesquisador nesta área de 1967 (SILVAN, 1980, p. 22) até seu falecimento, em 1985, período em que produziu coberturas jornalísticas (rádio e imprensa), publicou um livro e promoveu eventos e estudos sob esta temática na região. No período de 14 a 21 de março de 1968, promoveu o primeiro encontro de estudiosos do fenômeno na região Norte, realizado no hall da Associação Comercial do Amazonas (ACA), considerado pelo próprio pesquisador como a primeira reunião do gênero no Brasil (SILVAN, 1980, p. 175).

Em 1980, publicou Mistificadores da Ufologia, livro em que analisa a atuação de pretensos ufólogos e registra as atividades do Ceoani. Este livro foi lançado em 1981, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, durante congresso de ufologia. Du Silvan deixou inconcluso o texto do livro Dicionário-documentário de Discos Voadores, no qual estava trabalhando em 1985. Em sua biblioteca, possuía 55 títulos de temática ufológica, entre eles Discos Voadores — Seu Enigma e sua Explicação (1957), de Desmond Leslie e George Adamski; O enigma dos “Discos Voadores” — ou A Maior Interrogação do Nosso Tempo (1959), de Hugo Rocha; e O Livro Vermelho dos Discos Voadores (1967), de Flávio A. Pereira, este devidamente autografado pelo autor, que faz parte do conselho editorial da revista UFO, a mais antiga publicação do gênero no mundo. O ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO, publicação do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), entidade da qual também é fundador e presidente, assim se expressou a respeito do colega amazonense: Tive o prazer e o privilégio de conhecer o grande ufólogo Danilo du Silvan ainda no começo dos anos 80, quando iniciava minha carreira. Foi uma imensa satisfação conhecer seu trabalho e constatar a determinação com que ele se lançava à pesquisa do fenômeno ufo na Amazônia, região de cuja casuística sempre foi o maior conhecedor. Danilo era um verdadeiro pioneiro, que exercia, desde aquela época, o que de melhor a ufologia brasileira tinha a oferecer. (Depoimento concedido em 20 de maio de 2011).

Danilo du Silvan em Macapá no estado do Amapá (no alto, sobre o trapiche) — Década de 1950

Como compositor, Du Silvan foi o responsável pela fundação da Associação dos Compositores Amadores do Amazonas (Ascam), instituição voltada para a promoção da música popular amazonense. Foi fundador e editor de Porantim-Troféu — A Folha Cultural da Amazônia, que circulou em 1982 e 1983 em Manaus, e do jornal A Notícia, que circulou em 1956 e 1957 em Macapá, no Amapá. Foi delegado do então Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). Foi membro do Instituto Brasileiro de Antropologia da Amazônia (Ibaam) e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA); e sócio honorário da Academia de Letras da Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul e da União Colombiana de escritores, com sede em Bogotá, Colômbia. Por voto de seus pares, foi escolhido como Promotor de Justiça do Ano (1979) e Escritor do Ano (1981), ambos os títulos promovidos em âmbito estadual.

Du Silvan atuou no campo intelectual amazonense de 1958, ano em que estreou com O Reverso do Romanismo (considerado polêmico devido a duras críticas dirigidas à Igreja Católica), até seu falecimento em 1985, totalizando 12 títulos publicados e dois inéditos. O Reverso do Romanismo (1958) foi seguido pela novela Memórias de um Palhaço (1963); Versos de Setembro (1976); Coisas do Arco da Velha — Crônicas (1978); Lutemos por um Tribunal do Júri sem os Vícios da Desigualdade (1979); No Inferno Verde de Alberto Rangeldiscurso de posse no IGHA (1979); Mistificadores da Ufologia (1980); Versos de Outubro (1981); Cantáridas — crônicas (1982); Pequena História da UBE (AM) — Vista por um Ex-Sócio (1983); Antologia Poética da Mulher Amazonense (1984). Além destes, publicou Mar de Sargaço (1982), ficção científica vencedor do 1º. Prêmio Suframa de Literatura considerado sua obra-prima. Deixou inéditos os textos Pequena História do Amapá, com o qual foi vencedor do 1º. Prêmio Rotary Clube do Amapá, em 1957, e Dicionário-documentário sobre Discos Voadores.

A respeito da atuação de Danilo du Silvan no rádio, o escritor e médico amazonense Ramayana de Chevalier, autor de No Circo Sem Teto da Amazônia, escreveu:

Pelas sete horas da manhã, sol já doirando brumas, escuto o rádio. (…) E, como uma visita de irmão, ouço as crônicas matinais do meu confrade Danilo du Silvan. A linguagem nervosa e ágil, elegante e aprumada do radialista, ofertou-me, num gesto medieval, uma braçada de rosas. (…) Se algum dia eu morrer, Danilo du Silvan, síntese da juventude de minha terra, escreve sobre o meu túmulo uma de tuas frases sinceras e amenas. E nascerão rosas de tuas palavras. (A GAZETA, 17–05–1961).

A linguagem escorreita e elegante destacada por Ramayana de Chevalier era um atributo de Danilo du Silvan, que demonstrava conhecimento profundo do idioma de Camões, sem, no entanto, parecer pedante ou pretensioso. O vocabulário extenso lhe facultava o uso de palavras como plumitivo, que foi empregada com o significado de jornalista no livro Cantáridas — Crônicas. Na introdução, escreveu:

Ao ensejo, caro leitor, pretendo prestar meu preito de reconhecimento ao amigo M. J. Antunes, que se retirou, há algum tempo, da laboriosa profissão de jornalista, porém deixando, para nós, seu nome honrado e sua marca de trabalho, arrojo moral e inteligência criadora — como, de fundo, acontece com todo bom plumitivo brasileiro! (SILVAN, 1982).

Danilo du Silvan à direita com microfone — Década de 1960

Du Silvan começou sua trajetória de jornalista no Jornal do Comercio em 26 de setembro de 1948, contando na época apenas 17 anos, com o sugestivo título O Crucifixo de Ouro, um conto ambientado na Espanha do século XIX. Sua segunda participação na imprensa amazonense foi no jornal A Crítica, edição de 17 de maio de 1950, com o título Excentricidade, texto no qual assina seu nome como Danilo Silvan, sendo o “du”, acrescentado à sua assinatura em trabalhos posteriores. Em língua francesa, o “du” remete aos membros da nobreza e “Silvin” (pronuncia-se silvan) ou “Silvan” provém de um radical latino que significa “da floresta”, termo muito apropriado para um legítimo representante da maior floresta tropical do mundo, a Hiléia Amazônica de Humboldt. Pelo lado materno, Du Silvan era um Achan, provavelmente a primeira família de imigrantes chineses da Amazônia, cuja residência estava localizada na Ilha do Caxangá, em Manaus.

Em 7 de abril de 1956 fundou e editou o jornal A Notícia, na capital do Amapá, Macapá, que circulou até 6 de setembro de 1957. Nas bancas todos os sábados, com tiragem de 500 exemplares, o jornal tinha linha editorial particular e independente e era de propriedade da Rivan Gráfica Ltda., empresa de propriedade de Du Silvan. Em seu primeiro número, o editor reafirma seu compromisso com a Comunicação Social séria e a serviço da sociedade: “Não desejamos mercantilizar o jornalismo, mormente quando se trata de sermos pioneiros (…) da imprensa independente do Território” (A NOTÍCIA: Macapá, edição de 7 de abril de 1956, p. 1).

Entre outras, o jornal A Notícia publicou reportagens sobre a assinatura de convênio entre o Governo do Amapá e a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), na edição de 28 de abril de 1956; inauguração do Cine Trianon, com a exibição do filme O Homem de 8 Vidas, na edição de 14 de abril de 1956; e uma crônica do jornalista Waldemar Firmino, intitulada Santarém, na edição de 26 de maio de 1956.

Em 1962, já de volta a Manaus e atuando no jornal A Crítica, Danilo du Silvan foi designado como repórter em Roraima, onde produziu uma série com quatro reportagens especiais intitulada Fronteira de Bravos, na qual expôs à nação a situação de abandono em que se encontrava o então Território Federal do Rio Branco. O fervor nacionalista e a sensibilidade sociológica do jornalista estão explícitos na chamada da segunda reportagem estampada no jornal de Umberto Calderaro Filho:

Rio Branco: legendária terra do garimpo, onde o homem da bateia não encontra o apoio oficial! Terra da cobiça estrangeira onde a Lei ampara o mais forte, o mais ousado! Rio Branco, território de campos sem fim e de serras misteriosas, que aguarda o seu líder nacionalista! (A CRÍTICA: Manaus, Edição de 1º. de fevereiro de 1962).

Danilo du Silvan manteve cinco colunas na imprensa amazonense: Esquina dos Fatos, no extinto jornal O Trabalhista; Bazar na Calçada, Política & Políticos e Vida Sindical, nos extintos jornais da empresa Archer Pinto; e Sala de Audiências, veiculado nos jornais A Notícia e Jornal do Comércio. A última edição de sua coluna Sala de Audiências foi veiculada em 17 de novembro de 1985, dois dias após seu falecimento, tendo como título Roque Santeiro, na qual elabora uma análise sociológica e midiática dessa novela exibida pela Rede Globo de Televisão.

O projeto de Du Silvan de viver 120 anos foi interrompido por um enfarto do miocárdio em 15 de novembro de 1985, com 54 anos, sendo seu sepultamento realizado em Manaus, ocasião em que compareceu número expressivo de intelectuais, amigos e familiares. Amigo fraterno de Du Silvan desde a adolescência, o artista plástico Moacir Andrade, que não se encontrava em Manaus naquela data, assim que pode foi prestar condolências à viúva. Os restos mortais do intelectual amazonense repousam no jazigo da família Silvan, no Cemitério São João Batista, em Manaus.

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