Porque entrei para o Estado Islâmico

Leandro Demori
3 min readFeb 26, 2015

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Conforme relatado a Maya Gebeily

Em entrevistas que fiz com guerreiros e apoiadores do Estado Islâmico nos últimos meses, tentei descobrir o fundamental: Por que você se alistou? Como se sente? Onde está sua família? Por Skype e Twitter, eles me deixaram espiar suas mentes.

Somos amigáveis! A menos que você seja um inimigo, é claro. Só porque as pessoas estão no Estado Islâmico não significa que elas saiam por aí cometendo chacinas. Eles são seres humanos, riem, contam piadas, tiram onda uns com os outros. A decapitação e a execução em público são mensagens para os inimigos do Estado Islâmico, mas também parte da lei da Sharia e mostram que eles a executam plenamente. — Abu Bakr al-Janabi

A minha principal inspiração para vir para a Síria foi George Bush, Tony Blair e os presidentes do Ocidente e sua política externa em relação ao Islã — Egito, Caxemira, Sinai, Iêmen, Afeganistão. A prisão de Guantánamo. Abu Ghraib. — Abu Sumayyah

O Estado Islâmico é um Estado, não um grupo. É um Estado real. Cuida dos assuntos do povo, como qualquer outro Estado — EUA, Reino Unido, França — O EI está funcionando como um Estado. Fornece comida para os pobres e também coisas como abrigo, roupas, caridade, estradas limpas. Faz tudo o que um Estado normal faz. Serviços postais. Tudo o que as pessoas precisam. Isso é o que me atraiu para o EI. Nenhum outro grupo — al-Nusra, Brigada El-Aqsa, está fazendo isso. — Abu Sumayyah

Demorou até que o Estado Islâmico implementasse a lei, mas depois de termos palestras sobre o assunto e assim por diante, não há oposição — com exceção àqueles que fumam. Parar de fumar de repente é um pouco difícil para eles. Mas o Estado Islâmico tem sido muito bom em ajudá-los a sair dessa. — Abu Bakr al-Janabi

Sempre há algo acontecendo. Sempre há bombardeios. Quando chega o meio-dia, você está no meio da batalha. Mas há dias totalmente tranquilos, banhos de chuveiro, jogos de futebol, nos divertimos com o pessoal, futebol. Há muitos norte-americanos, muitos canadenses, muitos britânicos, caras de todo o lugar, aqui. China, Indonésia. — Abu Sumayyah

Minha família está no Reino Unido. Eles não sabem que eu vim para cá — não sei se eles sabem agora. Eles nunca souberam, eu só peguei minhas coisas e fui embora. Eu tive um sonho com a Síria, que eu estava lá, lutando. Tomei a decisão naquele dia, quando eu tive o sonho. — Abu Sumayyah

Abu Bakr al-Janabi é um apoiador do EI que enviou dinheiro para o grupo e divulga suas declarações online. Essa conversa foi realizada por mensagens diretas no Twitter. Por isso, as respostas são diretas, escritas.

Abu Sumayyah é um guerreiro do EI. Maya o entrevistou por Skype em junho passado.

(Fotos: Reuters [fronte]; Thomas Coex / AFP / Getty Images)

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