Conseguimos descrever sentimentos que não estamos sentindo?

Dérik Fernandes
3 min readAug 20, 2018

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Sobre escrever e descrever sentimentos dos outros.

Estava escrevendo. E de repente me veio esse questionamento. Consigo escrever sobre o que não sinto. É claro que conseguir eu consigo. A questão é mais como consigo. Quero dizer. Será que consigo descrever com exatidão um sentimento não sentido. Consigo me colocar no lugar de fala de alguém. Expressar uma angústia alheia. Expressar a verdade do outro. Mas claro. Com qualidade. Com sentimento. Gerando identificação. Falando o que o outro queria falar. Ou o que queria ouvir. Convergindo ideias. Emoções.

Comecei a tentar achar um padrão nos meus textos. Vasculhar como me comporto em cada caso. E é claro que nem sempre o que escrevo estou sentindo. E nem sempre o que sinto escrevo. Porém se estou sentindo escrevo muito melhor. Ganho confiança. Escrevo com conhecimento de causa. Mais do que escrever sentindo. Escrevo sabendo. Conhecendo. Sendo.

Grandes escritores e textos são sobre outro. Sobre a externalização de sentimento não sentido. Externalização fora do eu. Focado no alheio. Centrada na construção de mundo sobre os olhos de outro. É Como Pintar o retrato de alguém. Onde tento representar a pessoa e expressar seu sentimento. Pintar. É bem isso. Escrever sobre o outro é como pintar um quadro de uma paisagem. De um lugar. De alguém. Do outro. É Como Fazer um retrato. Externalizar o sentimento do outro.

Pensando melhor. Talvez o ponto não seja externalizar e sim internalizar. Internalizar o sentimento do outro. Sentir o que o outro sente. Ou pelo menos entender o sentimento. Esse é o ponto. Esse é o como. Como escrever do sentimento alheio. Na realidade não pode ser só alheio. Tem que ser um pouco do próprio. Pelo menos um pouco. Preciso me colocar na posição do outro. Sentir um pouco também. Talvez seja através da Empatia. Ou apenas através da vontade de conhecer mais. De sentir mais. De ser mais. Ter mais. Mais sentimentos. Mais alegrias. Mais tristezas. Mais.

Agora percebo. Para entender o outro. E escrever sobre seus sentimentos. Preciso me colocar na sua posição. Tentar senti-lo. Tentar compreende-lo. Só assim melhorarei. Melhorarei como escritor. Melhorarei como pessoa. Conseguirei entender melhor os outros. O alheio.

Já pensou nisso? A escrita. A pintura. A arte em geral. Pode ser tratada como uma forma de empatia. De sentir o sentimento do outro. De se colocar na posição. De tentar entender. De ser mais compreensível. É uma forma de melhorarmos como pessoa. Nunca encarei a arte dessa forma. É diferente. A arte como complemento de mim mesmo. Me dá outro motivo pra escrever. Outro motivo para pensar. Outro motivo.

Internalização de sentimento. Outros motivos. Outros sentimentos. Melhorar como pessoa. É talvez escrever seja mais complexo do que imaginei. Talvez seja mais importante do que penso. Talvez até mais libertador. Mais profundo. E não é só sobre escrever. É sobre sentir. Internalizar. externalizar. Nem só pela escrita. Mas talvez com pintura. Talvez com dança. Com música. Com arte.

Esse texto começou sendo sobre o sentimento. E está terminado como um manifesto a arte. Qualquer arte. Qualquer. É um modo de nos entendermos melhor. De crescermos. De sermos. De sentirmos. Tente. Não se arrependerá. Não precisa escrever sentindo. Apenas sinta escrevendo.

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