Jornalistas falando de design

Analisando a Kim Kardashian na capa da PAPER Magazine

afm
8 min readJul 11, 2018
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Ao ver uma revista numa banca ou recepção sua atenção se volta para uma e não para outra, sem a menor razão? Não. A construção daquilo que a revista vai primeiro expor é pensado através de diversos aspectos visuais icônicos, plásticos e linguísticos sobre a personagem, a conjuntura e o que se pretende informar na capa.

De certo você viu a capa BREAK THE INTERNET, da PAPER Magazine, que estrela Kim Kardashian. Agora pare um pouco para entender o universo imagético nas palavras de Luiza Braz e também nas minhas.

A capa

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A revista PAPER

PAPER é uma revista de sede nova-iorquina voltada para o fashion, o pop art, música e filmes. Sua fundação data de 1984 como revistim de 16 páginas produzido no mesmo departamento do jornal The New York Times. A publicação evoluiu para a revista mensal que atualmente também trabalha com a versão online.

Além do conteúdo, a revista PAPER sempre se preocupou com os conceitos inseridos em suas publicações, entendendo a importância do artístico e do gráfico para seu público. Leitores da PAPER são interessados em tendências e, mais ainda, em apontar essas tendências — os trendsetters. Para agradá-los, a revista vai além da verbalização da mensagem e se apropria dos ícones e da plasticidade, especialmente em suas capas, tornando-se ela mesma um ícone.

Historicamente a revista escolhe para suas capas famosos que estão em evidência produzindo com eles ensaios elaborados de acordo com as particularidades de cada. Na lista de modelos predominam nomes como os das hiperfamosas Nicki Minaj, Rihanna, Miley Cyrus, Jennifer Lopez, Demi Lovato, Katy Perry e Kim Kardashian. Esta última é uma socialite, empresária, modelo e estrela de reality show norte-americana, além de ícone mundial de aparência e lifestyle.

Análise da capa

A capa “BREAK THE INTERNET”, de 2014, trouxe Kim Kardashian com 33 anos de idade e rapidamente cumpriu seu propósito viralizando em todas as redes sociais. Fotografada por Jean-Paul Goude a capa de Kim se voltou para o nu.

A personalidade da Kardashian usa da sensualidade e sexualidade para se afirmar. Suas mídias são alimentadas por conteúdo sexy e sua presença em eventos costuma ser acompanhada por roupas que valorizam seu corpo. Além disso, parte da sua fama é oriunda de uma sex tape, termo em inglês para vídeos de conteúdo sexual, geralmente de famosos, que eram para ser privados e por alguma razão se tornaram públicos. Kim Kardashian, acentuando seu lado de empresária, fechou contrato com a empresa pornô Vivid para comercializar o vídeo.

O compartilhamento da imagem alheia sem autorização prévia é crime previsto na lei, com agravante para conteúdo vexatório ou sexual. No entanto, infelizmente, o nude é um forte aspecto da recente sociedade virtual-imagética na qual vivemos. Termos como “manda nude”, “vazou” ou “caiu na net” se tornaram comuns por conta da facilidade de registro e transmissão de todo tipo de mídia. Outra questão a se ressaltar é a valorização excessiva sobre a boa imagem nos tempos atuais, que por vezes inspira à sensualidade. Kim Kardashian é fruto absoluto dessa sociedade e, sendo assim, “caiu na net” e sua postura frente à problemática acrescentou à sua imagem de “mulher segura de si”.

Mensagem icônica

O ensaio para a capa trabalhou em cima da personalidade de Kim Kardashian que pode ser definida em uma palavra: luxúria. Kim é bem-sucedida em seus trabalhos onde transmite riqueza e sensualidade. A imagem que a famosa construiu aponta na direção de uma mulher bem resolvida em todas as esferas de sua vida aos 37 anos. Ela é, então, um ícone desses significados.

Os aspectos imagéticos da capa que constituem e afirmam essa ideia de glamour são o champagne, tradicionalmente uma bebida “cara” e de ocasiões especiais, o vestido longo também característico de festas e eventos, o mega colar de pérolas e o cabelo bem arrumado. Outro aspecto que poderia se ressaltar são as luvas, que trazem certa excentricidade própria da modelo e retoma a ideia de trendsetter da marca PAPER. Todos os exemplos acima são ícones de algo, pois são objetos que carregam fortes representações em seu material, e formam o macro-ícone chamado Kim Kardashian.

Mensagem plástica

Certos pontos surgem na capa no sentido de referenciar outra coisa através da cor, textura, iluminação, foco ou ângulo. A mensagem plástica do ensaio se confunde com a persona Kim Kardashian e reforçam subjetivamente o que é a modelo. A começar pela textura do vestido extremamente colado ao corpo de Kim, desenhando sua silhueta; a construção material é feita com paetês (tipo de lantejoulas) que refletem a luz dando uma textura molhada na modelo que remete ao caráter sexual que ela carrega onde esteja. Kim ainda se tornou sex symbol por conta da supracitada sex tape, portanto esse aspecto sensual é extremamente marcante na celebridade que é a Kardashian e foi devidamente representado na roupa escolhida para o ensaio.

Há um elemento de colaboração fotográfica, o pequeno palanque aos pés de Kim, que pode ser entendido dentro do espectro plástico no momento em que se percebe que coloca a modelo numa espécie de altar. Outro entendimento possível considera apenas que o objeto foi usado para alcançar a pose necessária para o registro.

Por outro lado, a “não-roupa” também é uma importante mensagem plástica da modelo. Na capa há a predominância da cor da pele de Kim Kardashian, levando o leitor ao “nude”. O nome-marca da revista e o fundo de cenário se inundam da nudez de Kim, expressando mais uma vez a iconicidade sensual da personagem.

Mensagem linguística

Acerca da mensagem linguística pode-se concluir que a capa é comedida, porém cirúrgica no que pretende informar. A estética bem elaborada e a construção da personagem no ensaio é totalmente voltada para o momento histórico em que vivemos, com relação à produção midiática e interação no ciberespaço. O objetivo expresso letradamente “BREAK THE INTERNET” — algo como “causar forte impacto” na internet representa a instância em comum das duas marcas da capa, PAPER e Kim Kardashian; o culto à celebridade. A atenção que se faz especial é que na sociedade atual hiperconectada é muito importante estar sempre “causando”, chamando atenção nas redes sociais, ou usando o “internetês”, “lacrar”.

Outro elemento da mensagem linguística que pode ser levado em conta é a padronização constante e linear das escritas, todas na mesma fonte, em quantidade moderada no espaço da capa e com letras do mesmo tamanho por área. Essa característica direciona a atenção para o objeto-núcleo da capa, Kim, e todo o entorno corrobora para emoldurar a cena registrada no ensaio fotográfico.

Descrição da imagem:

A capa da revista apresenta Kim Kardashian em destaque central, uma figura feminina de corpo curvilíneo, pele morena e sua posição é de pé e lateral em relação ao leitor, com os joelhos minimamente arqueados para ressaltar as formas da modelo. Ela segura um champagne que estoura o conteúdo formando um arco de espuma branca sobre a modelo e cai em uma taça equilibrada localizada em sua bunda. Seu cabelo está preso no topo da cabeça, um colar de pérolas brancas adorna todo seu pescoço e sua veste é de um longo vestido “tomara-que-caia” de paetês pretos reluzentes. Nas mãos, luvas pretas até meio braço.

A expressão de Kim é de celebração com um enorme sorriso voltado para o observador da cena. Ela apoia os pés em um caixote de madeira clara. Ao fundo é possível perceber sua sombra, mostrando pouca profundidade do cenário. Este é unicolor no tom marrom semelhante ao da pele de Kim.
O título da revista, PAPER, se usa da supracitada cor do fundo da cena e ocupa todo o topo da revista, com fundo branco. No canto superior esquerdo se encontra a localização da publicação, NEW YORK, e em oposição está a data e o preço, WINTER 2014 $10. Na parte inferior central da capa, sobreposta à parte das pernas da modelo, a frase “BREAK THE INTERNET” seguida o nome Kim Kardashian, direciona o leitor para o objetivo da publicação. Todas as letras estão na mesma fonte e cor, branca, variando apenas o tamanho.

Os signos

Signos plásticos:

  • Cor branca: harmonia, pensamento, simplicidade, luz, infinito e espaço. Aqui o branco aparece nas jóias e no fundo da revista, onde dá ao leitor a noção de amplitude e espaço no cenário da capa.
  • Cor preta: sofisticação, requinte, nobreza e elegância. O preto transmite a questão de Kim ser empresária e socialite, fazer parte de uma espécie de “realeza” sóciomidiática. Há também a referência ao vestido “pretinho básico” da atriz Audrey Hepburn no filme “Bonequinha de luxo”.
  • Cor marrom: pele morena, feminino e fecundidade. A utilização do marrom acontece pela similaridade com a cor da pele de Kim Kardashian, reforçando a conotação sexual do nude. Além disso a cor se refere à fecundidade, uma vez que a família Kardashian/Jenner é extremamente numerosa com muitos filhos e netos.
  • Iluminação: a iluminação usada no ensaio é frontal e gera sombra da pose de Kim Kardashian no fundo da imagem. Com isso ressalta o brilho das formas da pele e do vestido.

Signos icônicos:

  • Vestido preto longo de paetê;
  • Colar e brincos de pérolas;
  • Garrafa e taça de champagne;
  • Caixa de madeira onde ela está em pé;
  • Luvas longas pretas.

Signos linguísticos:

  • “PAPER” — nome da revista.
  • “New York” — de onde é a revista.
  • “Winter 2014” — data da publicação.
  • “$10” — preço.
  • “Break the internet Kim Kardashian” — única chamada da capa.

Tipologia:

As fontes escolhidas pela revista PAPER para a capa pertencem ao grupo das Famílias Lapidárias ou Bastões. Caracterizam-se pela ausência de serifa e que possuem hastes, traves e curvas com pouco ou nenhum contraste. Estas tipologias apresentam alto grau de legibilidade, sendo indicadas para textos curtos e títulos, especialmente em peças publicitárias, por sua fácil e rápida percepção e leitura. (FERNANDES, 2003, p. 33)

Sendo uma revista moderna, a PAPER dispõe todas as escritas das suas capas nesse tipo de fonte que confere a ela sentido de atualidade. Além disso, o site da revista recebe as matérias na íntegra, o que resulta num grande número de acessos. Essa tipologia é destaque também nas mídias digitais por favorecer em seu desenho a conformação por pixels. No entanto, as Lapidárias não são recomendadas para textos demasiadamente longos, quando pode gerar cansaço no leitor.

Bibliografia:

BANKS, FRASER. O Essencial da Cor no Design, 2010, p. 10–25.

FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação, 1982, p. 97–135.

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem, 1996, p. 103–114.

STRUNCK, Gilberto. Como criar identidades visuais para marcas visuais, 2007.

FERNANDES, Amaury. Fundamentos de produção gráfica para quem não é produtor gráfico, 2003, p. 33.

Avaliação final da matéria Comunicação e Design, Faculdades Integradas Hélio Alonso.

Análise da capa — “Break the Internet Kim Kardashian”

Professora: Déborah Veviani

Feito por Andrei Felipe Martins e Luiza Braz

Rio de Janeiro, 13 de maio de 2018

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Em Jornalismo por fluência e Cinema por paixão. No café pelas xícaras e em RJ por SP. Vinte e 3.