Livro Correspondentes: Pedro Bial

Bial poetizou o final do século XX europeu; um apanhado de seu capítulo

afm
5 min readSep 15, 2018
A reportagem que entrou ao vivo no Jornal Nacional

“Os melhores anos da minha vida profissional”

Assim Pedro Bial define o período em que foi correspondente da Globo em Londres. De 1988 a 1996, ele trouxe um olhar sensível dos acontecimentos do final do século XX. Seu relato como enviado da Globo está no livro Correspondentes, recém lançado pela editora Memória Globo. Caco Barcellos, Marcos Uchoa, Ilze Scamparini, Edney Silvestre, Ernesto Paglia, Jorge Pontual, Sandra Passarinho e mais doze jornalistas também tem histórias nas páginas.

Abaixo, fragmentos editados do capítulo de Pedro Bial

Pedro Bial começou na Globo em 1981. Foi editor de texto do Jornal hoje, integrou o Globo Repórter e apresentou o Fantástico por mais de dez anos. A partir de 2002 o jornalista andou pelo entretenimento nos programas Big Brother Brasil, Na Moral e atualmente com Conversa com Bial.
Bial, que em seu currículo também escreveu livros e filmes, em 1988 foi escolhido por Armando Nogueira, então diretor de Jornalismo da Globo, para narrar os acontecimentos da Europa para o Brasil.
Suas ferramentas em Londres eram o fax e telex, até a situação melhorar com o computador. Ele narra que foi uma grande dificuldade produzir matérias de um minuto e meio, aos moldes do Jornal Nacional, em oposição aos flexíveis Globo Repórter e Fantástico.
“Na ditadura, como não se podia falar da realidade nacional, a Globo abriu dois escritórios internacionais — Londres e Nova York. […] Era um show.”

O ano de 1989 foi marcado pelo colapso do socialismo nos países do Leste Europeu. As reformas desencadearam transformações em busca de um novo modelo político e econômico. Bial destaca a vicissitude desde o massacre na Praça da Paz Celestial, na China, até o rompimento da Cortina de Ferro iniciado na fronteira Áustria-Hungria, como momento de mudança em sua vida de correspondente.

Em agosto ele e Paulo Francis viajaram para cobrir um mês de Leste Europeu: “Começamos pela Hungria, que era a ponta de lança das mudanças, fazendo entrevistas com acadêmicos e intelectuais. […] À noite, recebemos uma ligação com ordens de Londres: ‘Corre para Varsóvia, porque o Solidariedade vai tomar o poder.” […] Toda equipe [vai] para a Polônia. E começa o turbilhão que foi 1989.”

Poder vivenciar a realidade de um país é beber da sua água e do seu vinho. “Com um dólar você comia […] um verdadeiro banquete” na Polônia. Pedro Bial narra sua rotina durante este período: “De manhã, comprava o jornal polonês, sentava ao lado do tradutor e lia todas as notícias para saber o que a imprensa estava falando. Aos poucos começava a conhecer gente.” Por questões geopolíticas os correspondentes brasileiros tinham, de certa forma, posição privilegiada. Ninguém informava os hegemônicos americanos e ingleses: “Então, às vezes, conseguíamos coisas que pareciam impossíveis para muitos de nossos colegas estrangeiros.”

LECH WALESA

Nobel da Paz para Lech Walesa

O presidente da Polônia, Lech Walesa, primeiro pós comunismo, era um impressionante líder popular. Dele, em um comício lotado Bial escutou: “A brazylijska telewisja” — que o enchia o saco há semanas. Pedro e a equipe subiram no palanque para fazer a entrevista no meio do reativo povo. “Eu abri […] perguntando quem tinha sido mais importante para o Solidariedade, o papa João Paulo II ou Gorbachev? […] Todo mundo fez ‘Uah!” […] E o Walesa, muito esperto, respondeu: ‘Não se pode comparar um lutador de boxe com um grande mestre do xadrez’. Memorável.”

ALEMANHA, ANTES DA QUEDA DO MURO

Em 9 de novembro, vencido pelas manifestações populares, o governo alemão oriental abriu os postos de fronteira com a Alemanha Ocidental. Era o fim do símbolo da Guerra Fria, uma vez que a Alemanha era o país com mais tropas soviéticas, depois da União Soviética.

Bial havia acabado de voltar da Alemanha e estava no escritório de Londres quando chegou um telex falando em reunificação. “Eu tinha fontes dentro da Alemanha Oriental, gente que conheci na televisão. […] Não eram fontes no sentido clássico. […] Eu adquiri o hábito […] de andar com um rádio de ondas curtas. Então o básico, o hard news, […] eu pegava pelo rádio mesmo, e fazia o reflexo daquilo na rua. Eu ia muito mais pro sentimento popular.”

QUEDA DO MURO DE BERLIM

Naquela noite de 1989 Pedro Bial estava no Brasil para a cobertura das eleições presidenciais — a primeira direta após 29 anos. “Quando o Muro caiu, Silio Boccanera estava lá. Justo, […] mas mesmo assim, em Brasília, eu batia literalmente com a cabeça na parede.”

Para seu regojizo, no início do processo da reunificação alemã, Bial estava lá. Entretanto, no Brasil fora anunciado o confisco das poupanças. “Os caras não queriam nem saber [de Alemanha].” Mas entrou ao vivo no JN logo após a, de fato, reunificação.

MURO NA CABEÇA

O chamado die Mauer im Kopf, “o Muro na cabeça”, foi o processo de encontro das Alemanhas que, separadas por 40 anos, se tornaram culturas e economias distintas. A união, em sua excelência, se deu na Copa do Mundo de Futebol de 2006, na Alemanha. Angela Merkel, a primeira-ministra, Michael Ballack, capitão da seleção, eram nascidos na separada Alemanda Oriental. “Era a primeira vez desde a guerra que os alemães podiam [gritar] com orgulho o nome do país” já que demonstrações de patriotismo não eram bem-vistas por causa do Holocausto. “Isso tudo no Estádio Olímpico de Berlim onde Jesse Owens humilhou Hitler. É muita história!”

HISTÓRIA PESSOAL

“Quando fui ser correspondente em Londres, minha vó falou: ‘Ah, eu não quero mais viver, estou velha, já deu’. Depois que o Muro caiu […] ela me falou: ‘Eu quero viver mais dez anos para continuar vendo as coisas. Eu não acreditei!’ Ela, que tinha vivido a grande inflação e a ascensão do nazismo quando vivia na Alemanha, viu o neto contando pára ela que tudo aquilo havia finalmente acabado. Para mim, isso […] deu sentido à minha vida e à da minha família.

Meu método de reportagem não é muito racional. […] Deixo os fatos entrarem em mim emocionalmente […] aí na hora de escrever, penso: “Vamos lá, pá!”

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afm

Em Jornalismo por fluência e Cinema por paixão. No café pelas xícaras e em RJ por SP. Vinte e 3.