Quem morre por falar no Brasil
A organização não-governamental ARTIGO 19 lançou em 8 de novembro o relatório O Ciclo do silêncio que documenta 22 casos de homicídios de comunicadores no Brasil que ficaram sem punição. A publicação, que compreende o período de 2012 a 2016, permite analisar quem são os profissionais mortos e por quais motivos.
Em números absolutos, os executados foram 8 blogueiros, 6 radialistas, 5 jornalistas, 2 donos de veículos e 1 fotógrafo. Em um contexto de cidade pequena e de interior, o comunicador tem forte poder de influência da opinião pública, o que por vezes ameaça o status quo dominado por empresários, latifundiários, políticos e criminosos — que também estão próximos às rádios e jornais. Do relatório é possível depreender que o sistema funciona através da pistolagem. Isto é, os mandantes não puxam o gatilho. Há um mercado da morte onde se contrata um pistoleiro para executar o assassinato. Por vezes, e o que dificulta a resolução de um caso, há a divisão em mais partes nessa cadeia de comando.
A sina tem ares do período ditatorial militar que o Brasil viveu de 1964 a 1985. Nesta época, além do silêncio imposto à imprensa, jornalistas foram perseguidos, presos, torturados e quando não exilados, eram mortos. Por causa dos registros precários, a única informação de fácil acesso é o número de 25 jornalistas mortos no período (Sindicato dos Jornalistas), sendo o nome mais conhecido o de Vladimir Herzog assassinado dentro do DOI-Codi, partição militar que combatia “inimigos internos”.
Descreditar o jornalismo é apertar uma mordaça na própria boca
NO MAPA
Dentro dos pontos que chamam atenção no documento do ARTIGO 19, está o mapeamento das mortes dos comunicadores. O Estado mais populoso, São Paulo, teve apenas um caso. Minas Gerais, o segundo mais habitado, tem o maior número, com 4 das mortes. Toda a ação, dentre ameaça — presente em 17 dos casos, e a execução, tem um efeito direto sobre a produção de notícia, especialmente as de cunho denunciativo. O medo gerado na imprensa talvez seja a maior matança detectada em O Ciclo do Silêncio.
Para o ARTIGO 19, as investigações sobre esses assassinatos precisam ser concluídas e os culpados penalizados. Somente assim os dois lados terão o que temer, já que a impunidade faz com que encomendar um assassinato seja uma estratégia eficaz para controlar a informação e, por consequência, a manutenção do poder.
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