Tiro

a vontade de ser carioca

afm
2 min readOct 16, 2018

Tiro. Tiro-me daqui? A insegurança em acordar entre a Quinta e o Mirante chega a enjoar.

Nascido do interior garoa, garoto me dispus a pisar em pedras portuguesas. No literário e tortuoso bairro Glória, coube a mim ser jovem e começar a história genioso ainda à vista bucólica, lapear até amanhecer com o pastel da feira. Agora, mais perto do Cristo, preciso ser adulto em Laranjeiras.

O bairro não tem rido assim.
Satisfeito? Santa barbaridade é levantar com um despertador disparado, navegar com todos os olhos ao redor e ainda ser maritimamente despedaçado por um tubarão em Copacabana. Para quem era de rio e lagoa, surpresa é bicho desse atacar de moto. Tiro.

Tiro em mim a vontade de ser carioca? Penso, nessa época que geralmente revejo as ruas da minha infância paulista, em ficar mais de uma semana por lá. Se o trânsito é o mesmo e a chuva é alagadora, que seja a minha própria garoa.

O que poria, hoje, Portinari, paulista que se cariocou no bairro, em um novo Guerra e Paz? O que teria em mãos seu Lavrador de Café? Haveria motivo para um retrato deste cenário nas rimas de Cecília Meireles? Ou apenas um recado aos amigos distantes, como fez a rio-compridense? Tiro a queima da poesia e sopro as sobras, suas cinzas.

Continuando assim, sugiro uma mudança pacífica do nome do morro para Dona Morte, os caminhos para o Cristo se tornarem descidas e o tricolor desbotar em mais um alvinegro. Então, me retiro como bala perdida.

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afm

Em Jornalismo por fluência e Cinema por paixão. No café pelas xícaras e em RJ por SP. Vinte e 3.