[...] Observá-la de longe era como ser abençoada por uma divindade, podia somente sentir a presença da inércia de sua alma begôniosa, nunca tocá-la por inteiro, era inalcançável como um monumento metafísico. Pendurou-se em meus lábios cordiais como uma pecadora faminta fincando suas garras afiadas nos gramados dos Jardins da Babilônia, morrendo, depois florescendo nas terras da minha solidão como o último resquício de felicidade, executando o mais agoniante aroma de melancolia. Era uma flor perdida em meio a tantas outras, exalando suas cores vivas e pétalas altivas: a única rosa resplandecente em meio aos lírios e os dentes-de-leão encrustados como seda fina em meu coração; solitária e com medo, seus espinhais expostos ao redor dos ramos são avisos prévios que irei me machucar acaso cravar em meu orgulho mudo. Mas eu ainda quero a tocar. Eu ainda quero me machucar… e sangrar.