Juventudes de Pernambuco saem às ruas do Recife para denunciar desmontes e lutar por direitos

Diaconia
4 min readAug 26, 2019

Agosto das Juventudes — Jovens pelo Direito de Viver, chega à sua terceira edição

Juventudes dos quatro cantos de Pernambuco tomaram as ruas do centro do Recife para reivindicar diversas pautas. Fotos: Acervo Diaconia

Por Tádzio Estevam (Assessor de Comunicação da Diaconia)

Dados do Atlas da Violência 2019 revelam que a violência contra as juventudes em Pernambuco só vem aumentando. Em se tratando dos homicídios, os números do último levantamento feito em 2017, mostram que o Estado só perde para o Rio Grande do Norte e o Ceará. O crescimento percentual quando se compara os anos de 2016 e 2017, ultrapassa os 25%. Pernambuco também se mantem na terceira colocação nacional quando a violência faz o recorte na população negra. Além das mortes, outras violências e perdas de direitos também acometem as juventudes pernambucanas. Por essa razão, jovens dos quatro cantos do Estado saíram pelas ruas do centro do Recife (PE) na última sexta-feira (23) para denunciar os desmontes e lutar pela efetivação de políticas públicas voltadas às Juventudes. O Fórum das Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), em parceria com mais de 40 organizações, incluindo a Diaconia, realizou o Agosto das Juventudes — Jovens pelo Direito de Viver, que chega à sua terceira edição. A concentração aconteceu no Parque 13 de Maio e a passeata seguiu até o Armazém do Campo, espaço voltado para a agroecologia no centro da Cidade.

Comunidades indígenas reforçaram o Ato para denunciar o etnocídio

Com o tema “Facismo aqui não se cria, juventudes do campo e da cidade pelo fortalecimento das políticas públicas e da democracia”, as juventudes foram às ruas com o objetivo de fazer ecoar aos ouvidos da população uma extensa pauta de reivindicações que perpassam por sete eixos: Direito de viver, território e mobilidade; Direito de viver e contra o etnocídio da juventude negra, indígena e quilombola; Direito de viver e contra o feminicídio e a violência LGBTI; Direito de viver e contra as reformas nas políticas sociais (Trabalhistas, previdência, educação); Direito de viver e em defesa da agroecologia; Direito de viver com saúde e pelo direito de viver com Cultura. “Precisamos ter oportunidades, políticas públicas e garantir a existência e resistência da juventude negra. Estamos sofrendo com o genocídio. Somos a população que mais morre nesse País. E não é só a morte física que nos abate. A falta de educação, trabalho e saúde também nos mata cada vez mais”, disse Derson Silva, Coordenador Regional do Fojupe na RMR.

Um tribunal popular foi montado com representantes de organizações que trabalham com as juventudes

Júri — Antes da passeata, o evento contou com uma roda de conversa intitulada Júri Popular, ocasião na qual uma espécie de tribuna foi instalada com um microfone aberto para que as jovens e os jovens pudessem se expressar. Um dos participantes que fez uso da palavra foi o índio Marquinhos Truká, da aldeia Truká do município de Cabrobó, Sertão do estado.

Carta produzida pela comunidade de Juventudes Indígenas de Pernambuco

O jovem indígena falou sobre o etnocídio (ato de destruir qualquer traço remanescente de uma cultura) e leu uma carta formulada pela Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco.

Para ajudar na reflexão junto às juventudes, uma mesa foi montada com representantes de algumas organizações que apoiam o Agosto das Juventudes. A coordenadora Político-pedagógica da Diaconia, Waneska Bonfim, o diretor de Juventudes da Fetape, João Oliveira e Joana Santos, da Escola de Formação Quilombo dos Palmares, interagiram com as falas das juventudes. “Colaborar num ato como este, que demarca as pautas discutidas pelas juventudes, é nosso papel enquanto organização que preza pela garantia de direitos dessas jovens e desses jovens”, disse Waneska Bonfim.

Nem mesmo a interdição de parte da via e nem a chuva que caiu no Recife, tiraram a força da passeata.

Nas ruas, as reações de apoio por parte da população foram as mais diversas. Para a dona de casa Sueli Nascimento, lutar por direitos é uma atitude que não deve apenas ser reivindicada pela juventude. “Nós, enquanto povo brasileiro, devemos sim ir para as ruas e gritar sobre os nossos direitos. Tenho três filhos jovens e se essa passeata tivesse sido mais divulgada, eu teria vindo com eles para engrossar o caldo”. O funcionário público Antônio Barbosa apoiou o ato, mas fez uma ressalva para os transtornos que uma mobilização causa no trânsito da cidade. “Eu concordo que devemos nos expressar, mas sem prejudicar o trânsito que já é caótico”. A filha dele, Jussara Barbosa, discordou. “Se a gente não fizer com que as pessoas nos escutem, iremos simplesmente passar como um simples grupo de pessoas sem serem ouvidas. Tem que interditar o trânsito mesmo e levantar as nossas bandeiras de luta”.

A passeata seguiu até o Armazém do Campo, localizado na Rua do Imperador, onde houve apresentações culturais.

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Promoção e Defesa de Direitos // Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará