Por Tádzio Estevam (Assessor de Comunicação da Diaconia)
Dados do Atlas da Violência 2019 revelam que a violência contra as juventudes em Pernambuco só vem aumentando. Em se tratando dos homicídios, os números do último levantamento feito em 2017, mostram que o Estado só perde para o Rio Grande do Norte e o Ceará. O crescimento percentual quando se compara os anos de 2016 e 2017, ultrapassa os 25%. Pernambuco também se mantem na terceira colocação nacional quando a violência faz o recorte na população negra. Além das mortes, outras violências e perdas de direitos também acometem as juventudes pernambucanas. Por essa razão, jovens dos quatro cantos do Estado saíram pelas ruas do centro do Recife (PE) na última sexta-feira (23) para denunciar os desmontes e lutar pela efetivação de políticas públicas voltadas às Juventudes. O Fórum das Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), em parceria com mais de 40 organizações, incluindo a Diaconia, realizou o Agosto das Juventudes — Jovens pelo Direito de Viver, que chega à sua terceira edição. A concentração aconteceu no Parque 13 de Maio e a passeata seguiu até o Armazém do Campo, espaço voltado para a agroecologia no centro da Cidade.
Com o tema “Facismo aqui não se cria, juventudes do campo e da cidade pelo fortalecimento das políticas públicas e da democracia”, as juventudes foram às ruas com o objetivo de fazer ecoar aos ouvidos da população uma extensa pauta de reivindicações que perpassam por sete eixos: Direito de viver, território e mobilidade; Direito de viver e contra o etnocídio da juventude negra, indígena e quilombola; Direito de viver e contra o feminicídio e a violência LGBTI; Direito de viver e contra as reformas nas políticas sociais (Trabalhistas, previdência, educação); Direito de viver e em defesa da agroecologia; Direito de viver com saúde e pelo direito de viver com Cultura. “Precisamos ter oportunidades, políticas públicas e garantir a existência e resistência da juventude negra. Estamos sofrendo com o genocídio. Somos a população que mais morre nesse País. E não é só a morte física que nos abate. A falta de educação, trabalho e saúde também nos mata cada vez mais”, disse Derson Silva, Coordenador Regional do Fojupe na RMR.
Júri — Antes da passeata, o evento contou com uma roda de conversa intitulada Júri Popular, ocasião na qual uma espécie de tribuna foi instalada com um microfone aberto para que as jovens e os jovens pudessem se expressar. Um dos participantes que fez uso da palavra foi o índio Marquinhos Truká, da aldeia Truká do município de Cabrobó, Sertão do estado.
O jovem indígena falou sobre o etnocídio (ato de destruir qualquer traço remanescente de uma cultura) e leu uma carta formulada pela Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco.
Para ajudar na reflexão junto às juventudes, uma mesa foi montada com representantes de algumas organizações que apoiam o Agosto das Juventudes. A coordenadora Político-pedagógica da Diaconia, Waneska Bonfim, o diretor de Juventudes da Fetape, João Oliveira e Joana Santos, da Escola de Formação Quilombo dos Palmares, interagiram com as falas das juventudes. “Colaborar num ato como este, que demarca as pautas discutidas pelas juventudes, é nosso papel enquanto organização que preza pela garantia de direitos dessas jovens e desses jovens”, disse Waneska Bonfim.
Nas ruas, as reações de apoio por parte da população foram as mais diversas. Para a dona de casa Sueli Nascimento, lutar por direitos é uma atitude que não deve apenas ser reivindicada pela juventude. “Nós, enquanto povo brasileiro, devemos sim ir para as ruas e gritar sobre os nossos direitos. Tenho três filhos jovens e se essa passeata tivesse sido mais divulgada, eu teria vindo com eles para engrossar o caldo”. O funcionário público Antônio Barbosa apoiou o ato, mas fez uma ressalva para os transtornos que uma mobilização causa no trânsito da cidade. “Eu concordo que devemos nos expressar, mas sem prejudicar o trânsito que já é caótico”. A filha dele, Jussara Barbosa, discordou. “Se a gente não fizer com que as pessoas nos escutem, iremos simplesmente passar como um simples grupo de pessoas sem serem ouvidas. Tem que interditar o trânsito mesmo e levantar as nossas bandeiras de luta”.
A passeata seguiu até o Armazém do Campo, localizado na Rua do Imperador, onde houve apresentações culturais.