UXConf BR 2019 🇧🇷 — Review

Parte 1 — Sim, não dá para escrever tudo de uma vez só :)

Diedro Meliga
9 min readMay 22, 2019
Capa do Artigo, foto da palco da UXConf BR 2019, vazio, mas coberto com todos as letras do alfabeto pt-br ilustrada pelos sinais da Libras

Vamos começar pelo final? Tipo aqueles filmes que ficam indo e voltando na história, tipo Forrest Gump.

A UXConf BR 2019 foi extremamente carregada de emoção, as pessoas estavam em mágica sintonia com os assuntos que passavam pelo palco. Uma sinergia tão incrível que arrepiava a pele a cada final de apresentação.

O evento, apesar da grandeza, 430 pessoas, estava intimista, o formato sem os fones de ouvido, sem múltiplas palestras ao mesmo tempo, me deixou mais próximo aos palestrantes, me deixou mais presencial, mais conectado. Acho que o design em sua essência é isso, é experiência, é emoção, e entendo que se criamos experiências emocionantes, então fizemos um bom design, e a UXConf BR fez isso, entregou conhecimento e emoção em dois dias intensos.

Rafael Helm, Pedro Belleza e Thiago Esser e toda a equipe de voluntários que participaram da organização do evento, vocês brilharam! Foram muito além, receberam as pessoas como recebemos nossos amigos em casa.

Obrigado!

Um dia antes

Ansiedade total na quinta-feira, 16, cheguei do Rio no dia anterior as apresentações, mas a quinta à tarde, já havia rolado os workshops, que infelizmente não consegui ir, estava namorando o Acessibilidade para designers com Talita Pagani e Marcelo Sales, mas não deu :(

Na quinta-feira rolou também outros 4 sensacionais, totalmente alinhados aos temas escolhidos para esse ano.

"A UXConf é incrível. Do café com doce de leite na borda até as palestras."

Um amigo descreveu assim a experiência dele no último ano.

Credencial da UXConf BR ao lado de um pequeno copo de cappuccino com doce de leite e paçoca nas bordas.

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E assim começava, para mim, o maior evento brasileiro sobre User Experience Design.

No credenciamento, recebemos um kit caprichosamente criado e alinhado com a experiência que iriamos vivenciar.

Pedro Belleza e Thiago Esser abriram oficialmente, na manhã de sexta, a 5ª edição da UXConf BR 2019, explicaram as regras, a dinâmica das apresentações e que todas de sexta, teriam apenas 10 minutos de duração. Parece pouco né?

Então, imagine o que você aprenderia em 10 minutos ao lado de Donald A. Norman :)

Penso que ter a oportunidade de estar, mesmo que por minutos, ao lado de pessoas que viveram intensamente o que estão compartilhando, é algo valioso!

Os meios não justificam o fim?

Essa foi sem dúvidas a minha reflexão ao final da apresentação de Vitória Silveira, que entrou em cena com responsabilidade de abrir o primeiro dia de palestras.

Em suas primeiras palavras, nos questiona se pensamos de fato o quanto vigiamos a vida das pessoas. O quanto usamos programas invasivos sob a justificativa “tudo para melhorar a vida do usuário” e estes, ao menos sabem o que fazemos com seus dados. E inicia o debate sobre os desafios éticos na pesquisa com usuários e qual a conduta do design?

E assim levanta um dos três tópicos que nortearam a UXConf BR, trazendo ao palco o debate sobre o uso responsável dos dados e qual é compromisso ético do design.

"82% dos brasileiros não compram os produtos se não confiarem na empresa sobre a questão de dados" — IBM

Privacy by design

Ela coloca em pauta a responsabilidade das empresas diante dos muitos casos de vazamento de dados. Traz para mesa o princípio criado por Ann Cavoukian em 2009, que está na GDPR, e sugere que levemos em conta a proteção de dados desde a concepção do produto ou serviço. E compartilhar algumas questões sobre como conduzimos os usuários durante o processo em que eles autorizam o uso de seus dados.

E finaliza com uma provocação sobre relembrar o poder do impacto da nossa profissão.

Vitória Silveira no palco da UXConf BR, ao fundo um slide com a mensagem "Relembrar o poder de impacto"

E isso meus amigos, em apenas 10 minutos!

Tivemos mais 20 palestras. E ai, pronto para os próximos dez minutos?

Foto das meninas do time do Cold Killers comemorando o segundo lugar no Torneio Sport America de FA Feminino. Autor: Desconhecido, foto retirado do twitter do clube

Touchdownnnnnn!!!!

Luana Marques compartilhou sua experiência como designer e atleta do Cold Killers FA, time de futebol americano de Curitiba, falou como tem contribuído para o crescimento do time aplicando processos e fundamentos de UX e sobre a grande diversidade na modalidade feminina.

Agora pense sobre a primeira coisa que te vem a cabeça sobre diversidade?

Assim Thaly Sanches inicia o segundo tópico dentre os que estiveram mais presentes nessa UXConf BR, Diversidade, nos fez questionar o quanto de fato precisamos saber sobre a vida pessoal dos nossos usuários, pegando até um pouco sobre a questão de dados, mas focou sua apresentação em como podemos construir questionários inclusivos para pesquisas online.

Linguagem neutra NÃO ‘’excludente’’

Falou sobre o uso da linguagem neutra de gênero, construindo formulários mais inclusivos e abrangentes. Thaly criticou o uso de X ou @ para representarmos “elx, elxs, delx”, pois o X é excludente para pessoas cegas, os programas não reconhecem as palavras.

Kenya Ortiz no palco da UXConf BR, ao fundo um slide falando sobre como a tecnologia perpetua estigmas da sociedade.

Siri, Bia, Lu, Vivi…

Quem são elas? E o que todas elas têm em comum? Todas elas são secretárias pessoais ou também conhecidas como “assistentes virtuais”. E assim a tecnologia perpetua estigmas da sociedade. Kenya Ortiz levantou questões sobre como como os chatbots estão expondo problemas sociais comuns nos contextos em que são criados e utilizados. E que diante do espaço que eles alcançaram no mercado de atendimento ao cliente, torna-se preocupante a institucionalização do racismo na construção de chatbots.

Há cerca de 17 mil bots que trafegam, em média, 800 milhões de mensagens ao mês (Mapa do Ecossistema Brasileiro de Bots 2018 — Panorama Mobile Time)

Já ouviu falar de Design JAM?

Desenvolvido pelo QuintoAndar, essa dinâmica reúne métodos e design de diferentes times, em curto período, para focar em um único problema, de forma colaborativa, explorando estratégias e soluções.

Palco da UXConf BR, com Leandro Novaes e ao fundo um slide com o logo do QuintoAndar

Como Designers podemos redesenhar nossos próprios processos.

E assim Leandro Novaes fez, a partir da dinâmica Design Critique, desenvolveu junto com sua equipe o Design JAM, para extrair o potencial máximo do seu time

As barreiras culturais no UX

Fernanda Magalhães driblou a cultura egípcia para ajudar a projetar um aplicativo de relacionamento em um país islâmico, onde o casamento é considerado uma das cerimônias mais importantes da vida de uma pessoa. Esse foi o desafio que ela compartilhou na UXConf BR e mais uma vez a proteção ao dados ganhou relevância no palco, em um lugar onde não só as mulheres, as pessoas, não confiam na tecnologia.

O setor público é feito de Lineus, e não de Mendonças.

Ana Maria Nora Tannus, usou de todo o seu carisma para falar do nosso preconceito em relação ao funcionalismo público, desmontando aquele velho estereótipo de funcionários preguiçosos, estilo o Mendonça, personagem da série "A Grande Família". Falou sobre sua experiência a frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e as semelhanças entre as SMEs e Empresas Privadas, contando sua percepção sobre o impacto da cultura ágil dentro desse burocrático.

Bianca guerra, no palco da UXConf BR falando sobre a Lei Geral de Proteção de Dados.

As letrinhas miúdas estão com os dias contados

Bianca Guerra, reacende com força o debate sobre proteção de dados, e fala como a LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados, pode afetar o seu produto digital. E nos convida a interagir de forma mais inteligente, não invasiva, com os nossos usuários.

O quão sincero você é com seus usuários?

Assim ela nos questiona o quanto estamos sendo transparentes com os nossos usuários, difere a NDA(Non-Disclosure Agreement) do Termo de consentimento.

Ela ainda fala dos direitos sobre os dados coletados e que de fato eles não são nossos ou da empresa, mas sim do usuário que nos forneceu. E pede que tratemos com clareza essas questões, informando sempre o tempo de uso e se comprometendo com o usuário na guarda dos seus dados.

Bianca Guerra no palco do UXConf BR, no fundo uma lista de pequenas coisas para começar a se adequar a LGPD

A Palestra da Bia Guerra, fala sobre a forma como devemos coletar os dados, fala sobre a transparência e segurança dessa informações. Mas a próxima palestra aborda um assunto tão delicado quanto.

O que fazemos a partir da posse desse dados? O que fazemos quando os dados nos revelam algo comprometedor sobre nossos usuários?

Ética na pesquisa

Rafaela de Souza abriu as portas para a grande discussão sobre o papel ético do designer durante as pesquisas. Falou sobre como gerenciou os conflitos ético e como conseguiu lidar com cada situação.

Em um dos casos, ela conta sobre uma informações que comprometia um processo de licitação, ao ponto de sua própria equipe não poder ter acesso aos dados. Em outro caso, citou algo relacionado a uma descoberta sobre um histórico de agressão familiar, mas que sua entrevistada queria descrição.

Acredito que em muitos casos, como os que ouvi da Rafa, será necessário assumir um papel de advogado do seu usuário e utilizar o dever do sigilo como base da relação.

Código de Ética e Disciplina da OAB obriga:

“Art. 27. As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites da necessidade da defesa, desde que autorizado aquele pelo constituinte.

Título da Palestra de Ana Cuentro em libras.

Vocês entenderam o que esta escrito?

Se sim, parabéns, você é um caso raro.

Eu estava ansioso para escrever sobre esse momento incrível, que ficará carinhosamente em minhas memórias. Desde o inicio da manhã, eu vinha fazendo muitas anotações e sempre que um palestrante subia ao palco, aproveitava os segundo iniciais antes do inicio de sua fala, para fazer anotações e ao OUVIR suas palavras, eu levantava minha cabeça para VER apresentação

Ana Cuentro no palco da UXConf BR, ela está de sobretudo vermelho, calça xadrez e blusa preta, é Ruiva e usa óculos. Ao fundo tem um slide com sua apresentação: Mulher. Pessoa com Deficiência. Surda. Oralizada. Ciborgue, opa! Isso não, assim brincou Ana. Usuária de aparelho auditivo e implante coclear. Advogada da acessibilidade. Fluente em Libras. Designer.

Eu estava justamente fazendo isso quando Ana Cuentro entrou, logo percebi que havia algo errado, ela estava demorando a iniciar sua FALA e quando levanto levemente minha cabeça, a palestra havia começado sim, só que em LIBRAS, tomei um choque, e pergunta dela após esses segundos foi:

Vocês entenderam o que eu falei?

Ana trouxe uma palestra carregada de emoção e conscientização sobre a importância da acessibilidade. E o quanto com acessibilidade, as pessoas de fato são empoderadas.

Falou sobre o que é ter deficiência e quais os tipos: deficiência permanente, temporária e situacional

As ilustrações dos seus slides pertenciam ao Inclusive Microsoft Design

https://www.microsoft.com/design/inclusive/

Ana Cuentro no palco do UXConf BR, faz um convite para que todos os designer abracem a causa da acessbilidade

80% dos surdos dependem exclusivamente da língua de sinais para se comunicar e obter informações.

Para escrever o Título da palestra da Ana, encontrei uma tipografia bem legal, Libras 2019, desenvolvida e compartilhada por Anderson Pereira no dafont.

E o Título da palestra era o "Constrangimento positivo: uma reflexão sobre hábitos e acessibilidade"

Design Ágil na prática, mas sem as práticas convencionais de UX?

Um título extremamente provocativo, entendendo que estávamos na conferência brasileira de experiência do usuário.

E assim Álvaro rosa, levanta a questão de como podemos ser ágeis no desenvolvimento, sem esquecer nossos usuários. Álvaro abordou uma análise de como podemos adaptar as práticas de UX, sem abandoná-las, na formação de times que suportem de forma ágil e colaborativa as questões referentes aos negócios, produto e engenharia.

USER+ Business + Data + Agile + FIRST

Trouxe um pensamento sobre como podemos inserir o usuário no centro do negócio. E, em uma entrega de valor focada no essencial com excelência, no básico bem feito.

Falou sobre não sermos escravos dos processos e métodos idealizados

Fuja da gourmetização do UX.

Ouça mais seus usuários, mantenha uma escuta ativa e crie formas não convencionais de conhecer o seu usuário.

Acho interessante abordar aqui, que ao final da manhã desse primeiro dia, tivemos um momento delicado sobre o tema diversidade dentro dos times de UX. Isso partiu de uma pergunta do público, mas que era totalmente pertinente, e revelou que ainda não temos a maturidade para falar tranquilamente e abertamente sobre esse tema. O desconforto provocado, nos reforça que ainda temos muito para aprender e conversar sobre esse tema.

E ai, o que você achou dos muitos 10 minutos?

No próximo artigo, vou contar o que rolou na palestras de sexta-feira à tarde. Tivemos mais 10 palestrante e ouvimos tudo sobre o Panorama do Mercado UX 2019.

Abraços

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