UXConf BR 2019 🇧🇷 — Review 2

Diedro Meliga
11 min readMay 27, 2019

--

Parte 2 — E ai, prontos para 2ª tempo de palestras?

Mural estilo quadro negro, que levou o nome de CANVAS COLETIVO, construído no espaço do café da UXConf BR, onde os participantes puderam escrever mensagem com giz colorido.

Já leu a primeira parte do resumo da UXConf BR 2019? Essa é a segunda, mas para não perder nada, está aqui o link para o primeiro capítulo da série :)

Lembra daquele 🇩🇪 7x1 🇧🇷 da Alemanha? Lembra da sensação ao final do primeiro tempo? É, foi mais ou menos assim que saímos para almoçar, era difícil acreditar. Tomamos um choque de realidade, descobrimos que estamos falhando no COLETIVO, falhando como EQUIPES e como PROFISSIONAIS.

Eu poderia jurar que havia assistido uma única palestra com 2 horas e 30 minutos de duração de tão forte que foi a imersão aos temas. Os palestrantes criaram um sentimento coletivo de que é preciso virar jogo e que para isso precisamos jogar de forma coletiva.

Então vamos jogar, porque tempo é dinheiro!

Opa! Se tempo é dinheiro, então seria o caixa eletrônico uma máquina do tempo? — by Trello.

Patrícia Sarro ao lado de Marcelo Salgado no palco da UXConf BR. Ao fundo um slide com imagem com a palavra UX ao centro, rodeada de outras palavras que compõem o universo do UX dentro do Bradesco.

De forma muito conceitual, a dupla Patrícia Sarro e Marcelo Salgado, subiu ao palco e contou a partir de uma metáfora, ligada a etimologia da palavra "Texturas", como o Bradesco enxergava User Experience.

Falaram sobre o grande desafio de transformar um banco tradicional em digital. E como estão conduzindo seus clientes do mundo físico para essa nova realidade.

Acredito que esse desafio vai muito além de correr atrás do tempo, de correr das Fintechs. Hoje, os bancos tradicionais tem a responsabilidade de usar toda a sua credibilidade para levar os benefícios e comodidades da era digital à imensa geração que não surfa a onda digital, muito menos a moda das Fintechs.

Mudando de assunto, vocês participaram do Panorama UX 2019?

É, foi mais ou menos assim que Carolina Leslie voltou a tocar nas feridas abertas pela manhã, DIVERSIDADE e PRECONCEITO, reacendendo o debate sobre esse fator na composição das equipes e do mercado brasileiro de experiência de usuário.

Leslie, apresentou dados, que de forma chocante, refletia tudo o que havíamos assistido pela manhã.

A diversidade tende a ser um jeito melhor de resolvermos problemas complexos.

Consequências não-intencionais, será?

Ao beber e dirigir, você está assumindo os riscos e isso automaticamente, em um acidente, implicará em penas mais severas, certo?

Leslie no palco da UXConf BR, ao fundo um slide com a mensagem "Design é ética aplicada. Cada ato de design é uma afirmação sobre o futuro " de Cennydd Bowles.

Design é ética aplicada. Cada ato de design é uma afirmação sobre o futuro — Cennydd Bowles

TED, Joy Buolamwini — Como eu luto contra o preconceito em algoritmos.

Leslie, também falou da importância da DIVERSIDADE, deu casos práticos, onde falta a dela teve impacto direto nos resultados. Citou o Fyre Festival, um evento para milionários feito por milionários que pertenciam a um mesmo grupo social e cultural. O resultado disto? Um desastroso planejamento que acarretou em um fracasso total do festival. Em outro caso, falou sobre Joy Buolamwini, uma cientista que desenvolveu um algoritmo de reconhecimento facial que não reconhecia seu próprio rosto por ser negra, pois as referencias do algoritmo baseava-se apenas em rostos brancos.

Outro caso interessante foi do app de corridas Strava’s fitness revelou muitas base militares por marcar em um mapa público os locais com maior concentração de corredores.

Acredito que ao assumirmos o caminho da NÃO diversidade, do preconceito, assumimos todas as consequências e riscos.

O panorama mostrou muitos outros dados, falou sobre idade, pessoas com deficiências na comunidade, gênero, profissionais com filhos, LGBTQ+, raça e a relação disso tudo principalmente com cargos e salários. Quer saber mais do Panorama UX 2019?

Claudia Sciré no palco da UXConf BR, ao fundo um slide com a resposta para a pergunta: Existe pesquisa sem relação de poder? NÃO!

Que seja feita a vossa vontade!

Claudia Sciré colocou em xeque a relação entre entrevistador e entrevistado ao se questionar se existe pesquisa sem relação de poder. Ela usou as lentes da antropologia para olhar a NÃO neutralidade dessa relação. Falou sobre o poder simbólico, ciências, sobre observação participante e questionou o perfil atual do pesquisadores.

Antropólogos(pesquisadores) = profissionais stalkers

Claudia no palco da UXConf BR, ao lado, um slide com um título "A reposta está mais em nós do que nos outros" e uma citação “A antropologia é a maneira de pensar quando o objeto é outro e exige a nossa própria transformação” — Magnani, 2002.

Ainda fala sobre distanciamento entre pesquisador e entrevistado, pede para que desçamos do salto e que percamos a noção de nós mesmos. Tornando estranho, aquilo que nos parece familiar, lembra que nesse processo, a ignorância, o desconhecimento, é um elogio e um combustível para um: conte-me mais sobre… ou ah é, eu não sabia. Poderia me explicar?

Abandone sua própria lógica e pense sobre a lógica do outro!

Falou também para termos menos empatia e mais Alteridade, se colocando no lugar do outro à partir da lógica dele.

Ainda sobre esse assunto, achei um artigo bacana da Carol Zatorre.

Changing Cultures. Leading by Design

Esse era o tema da UXConf BR 2019, mas as palestras até então estavam todas focadas no contexto Changing Cultures.

Letícia Pires no palco da UXConf BR, ao fundo um pedaço do slide, com uma frase em destaque: "esse medo é de não se reconhecer. É quase um crise de identidade, mesmo!". Foto retirada do artigo escrito por Letícia.

Letícia Pires, subiu ao palco para debater sobre liderança acidental pelo design. E como ainda temos que amadurecer sobre esse tema. Falou do nosso medo de não se reconhecer mais como designer, aquele medo de deixar de "desenhar". Critica a falta de formação e preparação para que designers sejam de fato líderes.

Designers surtam diante dessa oportunidades de liderar?

E, talvez, sem perceber conduziu sua palestra, sua experiência, para além do tema Leading by Design. Ali no palco, estávamos vendo uma mulher, designer, em uma posição de liderança. Quebrando um dos grandes paradigmas apontados pelo Panorama UX 2019. Changing Cultures!

Letícia escreveu um artigo sobre o que apresentou na UXConf BR :)

Um bom título, fala mais do que mil palavras!

Com certeza você já ouviu a expressão que uma imagem fala mais do que mil palavras. Mas já pensou se na verdade toda a sua interface falasse?

Cristina Luckner no palco da UXConf BR, ao fundo um slide todo branco com uma tarja amarela ao meio com a frase "O conteúdo é a experiência do usuário" — Ginny Redish, autora do livro “Letting go of the words”

Com uma apresentação à brasileira 😍, Cristina Luckner com um jeito sereno de ser, entra em cena para dizer que conteúdo vai muito além de "uma imagem fala mais do mil palavras".

Cristina fala que interfaces sem texto são apenas wireframes, e que wireframe não é experiência. Falou como o UX writing pode impactar diretamente os negócios, dando o exemplo do google, que ao alterar o CTA de "Reservar um quarto" para "Verificar disponibilidade" aumentou a taxa de engajamento em 17%. Falou sobre o título "filtros rápidos" do booking.com e a relação no aumento das reservas.

Colecione palavras, expressões e verbos que os usuário usam.

Cristina Luckner no palco da UXConf BR, ao fundo um slide com dicas sobre como aplicar UX writing.

Falou em dicas práticas, como considerar o conteúdo desde o início, organizando de maneira que diminua o esforço cognitivo do usuário. Falou sobre o Manual de Tom de Voz da Marca, muito legal isso! Pediu para que façamos uma auditoria de conteúdo e para que testemos nosso conteúdo para além dos teste A/B, citando o teste de entendimento do conteúdo, Cloze Test, e de tom de voz, Reaction Card.

Interrompemos nossa programação para um pronunciamento importante :)

Esse foi o momento que falaram sobre o Happy Hour. Aproveito para fazer rapidinho aquela parada de ir ao futuro e depois voltar e continuar a história, beleza?

Selfie feita no Happy Hour, na foto, Eu, a esquerda, Tássio a direita e ao centro, da direita para esquerda, Gui Rovai, Pedrão e Doris.

O Happy Hour foi incrível, a UXConf BR disponibilizou algumas Vans para o transporte do pós-evento, o que ajudou muito. Imagina, fazendo uma conta simples, onde todos compartilhassem o Uber, seriam 430/4 = 107,5, teríamos uma média 100 pessoas pedindo Uber ao mesmo tempo. Caos! rs

O Happy foi tão Happy que deu até para fazer uma piada pronta com o sobrenome do Pedro Belleza e com o meu, Meliga :)

I’m back… Girl Power!

A próxima palestra, de Beatriz Margarita Leal Ramos, mulher, chilena, que falou sobre uma nova perspectiva do feminismo, e acredito que tem tudo a ver com a última do dia. Onde Mariana Valenzuela e Carolina Sepúlveda, mulheres, também chilenas, falaram sobre a criação de um movimento, chileno, que visam empoderar a comunidade feminina UX no Chile e na América Latina. Tem ou não tem a ver!?

Beatriz no palco da UXConf BR, a lado um slide com fundo todo azul com uma frase ao meio: "Design é uma ferramenta política". Foto retirada do LinkedIn de Beatriz

Apesar da semelhança, Beatriz trouxe um conceito diferente para falar sobre feminismo, falou sobre um formato mais acadêmico, feminismo como uma matéria. Explicou como metodologias do "design feminista" podem cria experiências digitais mais inclusivas.

Design é uma ferramenta política.

De certa forma esse novo conceito deu uma bugada na cabeça da galera, silêncio total no auditório no tempo das perguntas, salvo pela incrível pergunta de uma voluntária da UXConf BR, que perguntou algo sobre "Qual seria a diferença entre esse feminismo e o que vemos hoje?" Como o tempo para a resposta era curto, senti que a precisaríamos debater mais sobre esse assunto.

Devido as duas palestras, essa e a última do dia, serem em espanhol, me forcei a não usar os fones para tradução para treinar meus ouvidos, por isso fiz menos anotações. Então tentei passar tudo o que ouvi e entendi.

Um Italiano, que iria falar espanhol, mas arriscou um português com sotaque brasileiro.

E não é que deu samba [risos], mas não funcionou só para os que assistiram a palestra de Daniele Franco no palco da UXConf BR, vem funcionando, muito bem obrigado, para o despegar.com ou decolar.com como conhecemos.

Danile Franco no palco da UXConf BR, apontado para um slide que esta ao lado dele, frase "User context centered dialogue" que representa a sigla TradUX.

Como já sabemos, o decolar passou por um grande mudança de branding e junto decidiu mudar também a forma como conversa com seus usuários, decidiu ir além do idioma contextual, passou a fazer uma narrativa cultural.

Atualmente o Brasil é o maior mercado de atuação do decolar.com, mas o conteúdo que recebíamos deles era culturalmente "made in argentina", uma tradução simples, sem empatia cultural.

Daniele, deu exemplos onde um contexto pode influenciar totalmente o texto, falou da nossa velha briga sobre Biscoito ou Bolacha? Isso vai de região para região e uma tradução simples não entenderia essa regionalidade. Falou que eles descreviam como eles conheciam na Argentina, “primeiro Éden do Brasil” e não como é conhecida no brasil, no seu contexto, para o viajantes brasileiros, onde é conhecida como “cidade sorriso”.

Crear diálogos que lleguen al corazón de todos los brasileños.

Daí nasceu o TradUX, User Context Centered Dialogue, e o que antes era apenas um equipe tradução PT-BR, agora é uma equipe que cria o conteúdo a partir de um contexto cultural, na língua nativa, com regionalidade, com autenticidade, com naturalidade, são Especialista de Destinos.

O decolar.com está precisando de especialistas para ajudar nessa missão. Conhece alguém? abre.ai/especialistasdecolar

O que os olhos não vêem, o coração não sente!

Clécio Bachini criou poesia em seus slides, mesclou Guimarães Rosa e Milton Nascimento e falou de Empatia Seletiva e Invisibilidade Conveniente. Paralelamente a sua apresentação e sem que ninguém entendesse uma lógica, até o momento certo, fez algo que infelizmente não conseguirei descrever, compartilhou uma mensagem incrivelmente emocionante e espero que a UXConf BR divulgue o video para que possamos relembrar sempre.

Clécio no palco da UXConf BR, ao fundo, no slide, a definição de Empatia Seletiva.

Mas Clécio, não somente filosofou, ele falou sobre empatia ser uma compreensão respeitosa sobre o que os outros estão sentido. No sentido da Invisibilidade Conveniente, falou sobre a realidade em que conscientemente, por conta de negócios, tornamos invisível aos nossos olhos os problemas alheios.

“Como profissionais de UX, é nossa obrigação advogar em nome dos nossos usuários.”

Falou sobre a empatia seletiva e que nesse sentido, estamos desenvolvendo produtos somente para quem nós queremos vender e não de fato para os que precisam e querem comprar.

É possível ter empatia num ambiente contrário aos seus valores?

E sem dúvidas, ao final, fechou sua apresentação com chave de ouro ao repassar seus slides, dissertando a poesia que criou. FODA! Para muitos, e até para o próximo palestrante, Érico Fileno, poderíamos com aquela mensagem de Clécio, encerram o dia de apresentações.

Mas Cérebro, o que faremos hoje? Ora, Pink, o de sempre. Tentar dominar o mundo!

Com seus 5 anos de UXConf BR na bagagem, Érico Fileno, sobe ao palco para contar como em apenas 3 anos colocou o Design na pauta estratégica de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Falou sobre design em escala global.

"Não somos uma empresa de cartão de crédito, somos um empresa de tecnologia e inovação" — Érico Fileno

Érico Fileno no palco da UXConf BR, ao fundo um slide com os nível, em forma de escada, das etapas de maturidade do design de acordo com o conceito de “The design ladder”. Foto Bianca Guerra

Assim, Érico inicia sua apresentação, para abortar o conceito de "The design ladder" e conta em que nível encontrou a maturidade da cultura da Visa em relação ao design e quais seriam os próximos passos. Falou sobre os princípios da inovação e sobre Design como processo.

DESIGN SPRINT NÃO SALVARÁ SUA EMPRESA.

Ainda falou sobre Design Driven Innovation e como construir esse pensamento estratégico, contou as lições aprendidas durante esse processo e falou sobre o desafio da priorização em escala global.

¡Empoderamiento de las Mujeres! + Mujeres en UX

Lembra do "Design é uma ferramenta política"? Se entendermos política como uma ferramenta que visa mudar um contexto social e cultura, tem tudo a ver isso aqui :)

Mariana e Carolina no palco da UXConf BR, ao fundo um slide explicando as principais necessidades encontradas.

As Mulheres do movimento +Mujeres en UX, explicaram o processo de co-criação da primeira comunidade feminina de UX no Chile. Detalharam todas as ações, pesquisas, validações e metodologias que utilizadas para encontrar e conectar as mulheres de UX.

+Mujeres en UX é um produto vivo, em constante melhora.

De fato um produto vivo e que cresceu para além do Chile, chegando ao Perú, Argentina, México e crescendo :)

Mari e Carol, ganharam nossos corações com uma palestra extremamente sensível e ambiciosa em seus objetivos. Em um lindo momento, quando questionadas sobre o +Mujeres Brasil, rebateram com outra pergunta, que foi lindamente respondida pelas mulheres no auditório. Quem gostaria de participar? E todas as mulheres começaram, uma a uma, a levantar suas mãos. Lindo!

Que saber mais o projeto? http://masmujeresux.com

E assim chegamos ao final do primeiro dia, foi muito intenso, mas ainda tínhamos pique para happy hour!

O conteúdo ficou mais extenso, pois ao contrário do que falei no artigo anterior, não foram todas as palestras de sexta que tiveram 10 minutos, apenas as palestras do primeiro horário, as demais tiveram 20 minutos.

Abraços

--

--