Teoria das Pessoas Complexas

Diego Machado
2 min readJun 29, 2016

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As pessoas complexas raramente sabem o que querem, mas frequentemente sabem o que não querem. É um tipo de gente que não sabe comer a vida pelas bordas e já enfia a colher no meio da sopa. Arriscam queimar a língua, porque sabem que se queimar, passa. Ninguém morre de queimadura na língua, como ninguém morre de coração partido, de dor de cotovelo ou frustração.

As pessoas complexas não conseguem olhar para o mundo e aceitar simplesmente. Elas se questionam o tempo todo tudo. Chatas? Talvez, mas é que não conseguem existir de outro modo.

As pessoas complexas estão cansadas do mundinho previsível, das pessoas tão quadradas. Para uma pessoa complexa é a morte levar a vida a acomodar-se. Fazer as coisas porque vai ser mais confortável ou socialmente aprovado. Não se trata de rebeldia, nem de originalidade. É apenas um compasso diferente, do passo descompassado da vida e do mundo.

Essas pessoas não acreditam que felicidade seja um carro do ano ou um apê “um por andar”. Não acreditam que roupas caras as fazem mais atraente. Não acham bacana ir à balada da moda ou fazer o que todo mundo faz.

Elas se questionam sobre os relacionamentos. Querem se relacionar, mas tem que ser de verdade. Tem que ser com aquele alguém que as veja por dentro, que esteja por inteiro, para fazer da vida uma descoberta, uma aventura. Não precisam de status. Não sabem se a fidelidade é a parte mais importante. Acreditam na lealdade, sobretudo.

Essa gente complexa detesta excesso de burocracia, protocolos, regras sociais, dizer o que convém. Elas são sinceras do fio do cabelo a ponta do dedão do pé. Não dissimulam e detestam mesquinharia.

Acreditam na vida. Tem fé no amor e nas relações humanas. Elas olham o mundo e enxergam suas limitações, mas também, os seus encantos.

Não têm preconceito. São abertas ao novo. Gostam de experimentar sabores, cores, amores, formas, conteúdos, jeitos, gentes, teorias.

Gostam de arte, de gente, de música, de viagens. Amam a liberdade e não sabem viver sem ela.

Respeitam o espaço do outro. Preservam a liberdade do outro. Amam as possibilidades do outro.

Não querem que as pessoas sejam como elas. São traumatizadas por uma sociedade que não as compreende e por isso não exigem do outro nada além do que ele tenha para oferecer.

São pessoas sensíveis, que buscam extrair da vida sua essência e que querem traçar seu próprio destino. Acreditam na construção da felicidade e acreditam que essa não está na conta bancária, nem em um marido ou mulher que os espera em casa, ou em um filho, mas em cada um de nós.

Gente complexa tem alma de poeta mesmo sem nunca ter escrito um verso.

Escrito por Aina Cruz
Publicado em HuffPost Brasil

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