O “novo” Blind Guardian e a difícil missão de agradar ao fã saudosista — no caso, eu

Diego Cataldo
4 min readNov 12, 2018

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(Blind Guardian da esquerda para direita: Marcus Siepen, Hansi Kürsch, André Olbrich e Frederik Ehmke)

*** Este texto apresenta a opinião pessoal do autor e surge depois de um final de semana dedicado a audição dos discos mais recentes da bandas

Raríssimas são as bandas que se mantêm fiéis ao estilo no qual alcançaram o olimpo musical. Por outro lado, a onda de bandas que amadurecem e se reinventam faz com que o ouvinte (neste caso o fã) amadureça e se reinvente para acompanhar esse novo movimento. A banda alemã Blind Guardian ocupa essa segunda prateleira praticando um som completamente diferente daquele dos primórdios.

Quando lançou o aclamado Nightfall In Middle-Earth (1998), o quarteto alemão encabeçado pelas mentes criativas de Hansi Kürsh e André Olbrich plantaram a sementinha daquilo que o Guardian iria virar: menos Thrash e mais Sinfônico/Progressivo. Desta forma, podemos dizer que existe um Blind Guardian da década de 1990 (o primeiro álbum Battalions Of Fear saiu em 1988) e o Blind Guardian dos duas primeira décadas dos anos 2000.

>> Nightfall In Middle-Earth: a obra-prima do Blind Guardian

Confesso que meu entusiasmo pela banda alemã sumiu em 2002 depois do lançamento do disco A Night At Opera. Enquanto Nightfall ainda preservava um certo peso nas guitarras e o pé no acelerador em algumas músicas, A Night mostrou toda a nova faceta do Blind Guardian. O disco tem excelentes momentos como ‘Battlefield’, ‘The Maiden And The Minstrel Knight’ e a ópera metal ‘And Than There Was Silence’, um épico de 14 minutos.

Quando ouvi pela primeira vez o álbum A Twist In The Myth (2006) senti falta daquele Blind Guardian que aprendi a gostar graças ao já citado primeiro álbum e toda sua discografia que seguiu por Follow The Blind (1989), Tales From The Twilight World (1990), Somewhere Far Beyond (1992), Imaginations From The Other Side (1995) e o também citado Nightfall.

CD ‘A Twist And The Myth’

O álbum não chega a ser ruim, mas está muito aquém daquilo que a banda nos ensinou a gostar. Falta pegada, falta palhetadas nervosas e falta o baterista Thomas Stauch, que insatisfeito com a nova direção musical saiu da banda e fundou o Savage Circus, que pratica um som idêntico ao do Guardian nos anos 1990. ‘Otherland’, ‘Turn The Page’, ‘Straight Through The Mirror’ e ‘Skalds And Shadows’ seguram a onda de A Twist In The Myth.

>> Ouça o disco ‘Dreamland Manor’ do Savage Circus

CD ‘At The Edge Of Time’

Desde que entrou no novo milênio a banda alemã adotou a estratégia de lançar um disco novo a cada quatro anos, porque, como diz Hansi, “o dinheiro começa a acabar e as contas precisam ser pagas”. At the Edge of Time (2010) tinha a promessa de resgatar as origens do Blind Guardian e fazer a alegria dos fãs órfãos daquele som mais vigoroso. Ledo engano.

O álbum aproximou ainda mais o quarteto alemão daquele som mais calcado no sinfônico e progressivo do que do Thrash/Speed/Power dos primórdios. Novamente flertando de maneira explicita com as orquestrações, o único destaque fica por conta de ‘Ride Into Obsession’.

CD ‘Beyond The Red Mirror’

Em Beyond The Red Mirror (2015) podemos finalmente dizer que o Blind Guardian atingiu aquilo que começou a buscar em 1998. O primeiro álbum orquestrado com uma orquestra de verdade causou uma grande expectativa ao produto final com os teasers de divulgação que eram lançados pela gravadora Nuclear Blast.

Contudo, o último disco dos alemães está, também, longe de ser magnífico. As passagens orquestradas que deram um plus nas canções não foi o suficiente para causar grande euforia. E assim como nos outros discos, faltou o simples: faltou ser Blind Guardian.

Para 2019 Hansi e Andre anunciaram o tão falado disco só com orquestra e voz da banda. Intitulado Legacy Of The Dark Lands, o disco será lançado no dia 1° de novembro. Dando uma pista do que podemos esperar do trabalho, Kürsch revelou detalhes dizendo que “o álbum terá músicas típicas da banda cantadas por mim e acompanhadas por uma orquestra”. Aguardemos, pois na única tentativa próxima disso a banda foi muito bem com Forgotten Tales.

Acredito que o Blind Guardian nunca irá realizar uma viagem no tempo e voltar aos primórdios — e nem quero. Todo mundo deve crescer e evoluir, e é notório que banda se encontrou e está satisfeita com o rumo musical que sua carreira tomou.

Mas enquanto a banda segue essa nova onda, fico aqui abraçado com meu Imaginations From The Other Side amando o Blind Guardian que aprendi a amar.

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