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Estoicismo: virtudes fundamentais e dicotomia do controle

Um framework para viver de forma racional, leve, se concentrando no essencial e tendo controle dos seus atos.

Diego Eis
6 min readJul 17, 2019

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Você já deve ter notado que viver é difícil. Nós aprendemos a viver no improviso. Nós tentamos aprender com os nossos erros e os espertos tentam aprender com o erro dos outros. Quando finalmente estamos aprendendo alguma coisa, que nos faça errar menos, já estamos no final da vida. Trágico.

Mas e se eu te dissesse que um manual pra vida pode existir? Um manual prático e livre de religião, livre de qualquer misticismo, doutrina ou burocracia? Que te ensinaria a enfrentar a vida de uma maneira mais equilibrada, racional e direto ao ponto? Encontrei isso no Estoicismo.

O que é o Estoicismo?

O Estoicismo foi uma escola filosófica fundada por Zenão, em Atenas.

A teoria do Estoicismo diz que nós vivemos em uma rede de causa e efeito, que é a forma racional que o universo é estruturado. Eles chamam essa rede de “Logos”. Nós não temos o controle de como e quais os eventos que nos afetam, mas nós temos o total controle sobre como nós lidamos com cada evento. Epiteto diz que o sofrimento não vem desses eventos, mas do nosso julgamento sobre eles.

A filosofia estoica é baseada em dois pilares (totalmente práticos) fundamentais:

  1. Virtudes fundamentais;
  2. Dicotomia do controle;

Conforme vou “lendo o manual”, vou compartilhando com vocês o que aprendi e meu ponto de vista. Hoje, só apresentar brevemente esses dois pilares, e se você ficar com curiosidade, procure mais depois.

Virtudes Fundamentais

Então, nós temos lidar com o mundo como ele é, e para controlar nosso julgamento sobre esses eventos, temos que buscar o aperfeiçoamento pessoal. E para buscar nosso aperfeiçoamento pessoal, o Estoicismo tem 4 pontos principais chamados de Virtudes:

  • Sabedoria prática (phronesis): que é a habilidade de passar e entender situações complexas de maneira calma, lógica, informada;
  • Coragem (andreia): Não é apenas do ponto de vista físico, mas sobretudo do ponto de vista moral, de fazer a coisa certa, enfrentando todas as situações com clareza, de forma íntegra, não movido pelo medo ou pela insegurança;
  • Justiça (dikaiosyne): Entender o que é a coisa certa, como interagimos com as pessoas, como tratamos a todos de forma justa, mesmo quando estão errados;
  • Temperança (sophrosyne): que é o exercício do autocontrole e autodomínio, buscando a moderação em todos os aspectos da sua vida, se desviando de qualquer excesso ou escassez no modo de vida;

Embora os Estoicos tenham incorporado essas Virtudes em sua filosofia, não foram eles que as “criaram” inicialmente, mas sim, Platão.

Virtude é uma forma de conhecimento que direciona um caminho para viver bem em todos os sentidos. Essas quatro virtudes mapeiam basicamente as principais áreas das experiências humanas.

Todas essas virtudes são interdependentes, porque a execução correta de qualquer uma dessas virtudes, depende de possuir ou executar todas as outras virtudes.

Outro ponto interessante é que qualquer pessoa pode desenvolver essas virtudes, sem ter nenhum tipo de talento, apenas uma pré disposição de ser melhor a cada dia.

Os estoicos e outros filósofos acreditavam que se você almeja e trabalha para alcançar essas virtudes, é tudo o que você precisa para ser essencialmente feliz, sem precisar de motivações externas, como posses, prazeres, dinheiro etc.

Contudo, existe um ponto interessante aqui que não vou abordar no artigo, sobre que os Estoicos não abdicam das coisas externas, como dinheiro. Embora eles achem que dinheiro não é ponto crucial para ter felicidade, eles entendem que se tivermos também dinheiro, mais posses, prazer etc, isso ajuda a termos uma vida ainda mais feliz.

Eles dividem isso em Coisas Preferenciais e Coisas Preferenciais Indiferentes. Ou seja, é bom ter dinheiro, posses e prazer, mas você não deve se apegar a isso, dado que amanhã você pode não ter nada disso. Já as virtudes estarão sempre contigo e te farão ser uma pessoa auto suficiente.

Dicotomia do controle

A dicotomia do controle gira em torno da ideia de que algumas coisas estão sob o nosso controle e o outras não. Você pode dividir tudo o que você faz nessas duas categorias, se preocupando apenas com o que você tem controle.

“I have to die. If it is now, well then I die now; if later, then now I will take my lunch, since the hour for lunch has arrived — and dying I will tend to later” — Epiteto, Discursos I . 1.32

Essa citação de Epiteto ilustra muito bem isso: a morte não estava no controle dele, mas almoçar sim. Logo, ele deveria se preocupar com o seu almoço, já que ele não tinha controle algum sobre a morte.

O Epiteto explica o que é a dicotomia do controle, dizendo que coisas como nossa opinião, motivação, desejo ou qualquer coisa que nós fazemos por nós mesmos estão sob nosso controle. Outras coisas como, por exemplo, o nosso corpo, propriedades e reputação não estão sob o nosso controle.

É uma coisa estranha no primeiro momento, porque ele diz que nosso corpo não está no nosso controle. Nós podemos ir à academia, fazer uma bela dieta, cuidar da nossa saúde de forma geral… até pegarmos um doença ou sofrermos um acidente e quebrarmos a perna. Nós podemos tomar algumas decisões para tentar mitigar determinados resultados, mas não temos controle algum sobre o que irá ou não acontecer.

Na prática, isso quer dizer que devemos tentar internalizar nossos objetivos, se focando nos nossos esforços em vez de focarmos nos resultados, porque nossos esforços e nosso preparo estão no nosso controle, mas os resultados não.

Um ótimo exemplo usado pelos estoicos é o exemplo do arqueiro: um arqueiro pode se preparar da melhor maneira possível, escolhendo o melhor arco, a melhor flecha, treinando todos os dias, mas a partir do momento que ele solta a flecha, ele não pode controlar o vento ou o movimento do alvo.

Na vida real significa que você não precisa se preocupar com o resultado daquela entrevista de emprego, porque o resultado não depende de você. A pessoa pode ter acordado de mal humor, ou pode ter uma pessoa mais experiente que você, e então a resposta não ser positiva. Na verdade, a sua preocupação deveria ter sido anterior a isso, ou seja, no seu preparo técnico, nas escolhas das suas experiências passadas, trabalhar de forma inteligente, para que no dia da entrevista, você tenha mais chances de conseguir o emprego, ou passar naquela faculdade ou fazer aquela palestra…

Pessoas ficam mentalmente doentes por se preocuparem sobre o que os outros pensam do trabalho delas, ou sobre suas capacidades e habilidades. Mas o que as outras pessoas pensam não está no nosso controle. O que está no nosso controle é sermos amáveis, corteses, respeitosos, presentes… Fora isso, não há nada o que possamos fazer sobre o que as pessoas pensam de nós.

“If you have the right idea about what really belongs to you and what does not, you will never be subject to force or hindrance, you will never blame or criticize anyone, and everything you do will be done willingly.” — Epiteto, Manual de Epiteto (Enchiridion)

Se soubermos que fizemos o nosso melhor em todas as atividades em que realmente temos controle de executar, nós seremos finalmente felizes, porque encontramos a serenidade de saber que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.

Referências:

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