Esquerdo-macho

Diana KC
4 min readNov 5, 2018

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Illustração Sushant Ahire

Esquerdo-macho[1] ou esquerdomacho[2] é um neologismo e gíria do português brasileiro que se refere à homens que se autoentitulam socialistas, progressistas com discurso de apoio à justiça social mas que em dadas situações demonstram sexismo, machismo, homofobia, transfobia etc. É o mesmo que um “machista de esquerda”.[3]

O termo é uma versão do inglês brocialist (junção de bro, contração de brother, irmão, e socialist, socialista) e tem o mesmo conceito de homem com discurso progressista, politicamente correto mas que demonstra atitudes machistas como o mansplaining,[1] explicar algo a alguém, caracteristicamente um homem a uma mulher, de uma maneira considerada condescendente ou paternal.[4][5]

Em um artigo na revista Vice, a jornalista Sasha Borissenko lista atitudes como silenciamento, negacionismo e desprezo pelas questões das mulheres e que existem “dois tipos de esquerdomachos”, o que se utiliza de seus valores progressistas para atrair mulheres e o que vê as mulheres como objetos dispensáveis e as tratam mal para esconder suas inseguranças” e “nos dois casos, é uma combinação de arrogância e empatia por tudo e todos que define o esquerdomacho.”[2]

A escritora e transfeminista Helena Vieira define que “ esquerdo-machos” são homens de esquerda que mantêm uma postura machista e negacionista e não se assumem como machistas e principalmente, não consideram as pautas de luta contra o machismo e a homotransfobia como importantes.[6]

Um artigo definiu que o “machistas de esquerda” além do negacionismo também minimizam ou rejeitam as lutas feministas dizendo que o verdadeiro problema é o capitalismo, usam de mansplaining e/ou gaslighting, só vê o machismo nas suas manifestações mais visíveis e explícitas (feminicídio, assédio sexual etc), somente se esforçam em denunciar atitudes machistas de pessoas de elite e de políticos de partidos opostos, adotam uma postura cética da realidade da opressão das minorias entre outras atitudes de ignorância, descrença e pragmatismo.[3]

Em uma publicação em seu blog comentando o caso de um professor universitário pró-esquerda que tinha um relacionamento abusivo com a ex-namorada, a professora feminista Lola Aronovich diz que não usa os termos “esquerdomacho” ou “feministo” porque “defende que os homens façam parte de movimentos feministas” mas que sempre há muitas decepções e contradições. [7]

Exemplos e menções

Em um artigo no website de notícias HuffPost Brasil sobre misoginia na política brasileira, Lula é definido como “esquerdo-macho” por seus comentários misóginos como referir-se às feministas do Partido dos Trabalhadores como “aquelas de grelo duro”[8] e, em escutas, zombar da diretora de seu instituto, o Instituto Lula.[9]

Um artigo no News Statesman[10] comenta que Russell Brand “é um clássico esquerdomacho celebridade, usando ironia e comédia como arma para educar as massas sobre as causas realmente de valor. Em sua série no YouTube, “The Trews”, ele faz piadas com o capitalismo, o casamento gay e as políticas de gênero”. [2]

Em, maio de 2017, a ex-mulher do deputado Marcelo Freixo publicou um texto no Instagram chamando o ex-marido de “esquerdo-macho”,[11] como resposta, Freixo fez um vídeo em seu perfil do Facebook onde disse ter aprendido com as mulheres e que “todo homem é machista”.[12]

A versão brasileira da revista Vice publicou em abril de 2017 um ranking de personalidades consideradas “esquerdo-machos”, como o ator Dado Dolabella, que se declara feminista mesmo tendo agredido a ex-namorada, o escritor Xico Sá, Gregorio Duvivier, Marcelo Rubens Paiva, Caio Blat, José de Abreu, Jean Wyllys e outros nomes.[13]

Referências

  1. Emiliano Urbim (23 de outubro de 2016). «Conheça os (ou se reconheça nos) novos rótulos masculinos». O Globo. Consultado em 12 de julho de 2017
  2. Sasha Borissenko (11 de abril de 2016). «Como identificar um esquerdomacho: Os caras que acreditam em justiça social mas são sacanas com as minas». Vice (revista). Consultado em 12 de julho de 2017
  3. Luciano Andolini, Sinais de que sou um machista de esquerda, por Danilo Castelli, site Papo de Homem, 16/1/2017
  4. Steinmetz, Katy (18 de novembro de 2014). «Clickbait, Normcore, Mansplain: Runners-Up for Oxford’s Word of the Year». Time. Consultado em 24 de novembro de 2014 (em inglês)
  5. Zimmer, Ben (5 de janeiro de 2013). «Tag, You’re It! “Hashtag” Wins as 2012 Word of the Year». Visual Thesaurus. Consultado em 30 de outubro de 2014 (em inglês)
  6. Helena Vieira (7 de janeiro de 2015). «Esquerdo-machos: eles existem!» (em em inglês)). HuffPost Brasil. Consultado em 12 de julho de 2017
  7. Lola Aronovich (21 de dezembro de 2016). «O óbvio, homens de esquerda também são machistas». Escreva Lola, escreva. Consultado em 16 de janeiro de 2017. “Eu não generalizo. Não uso os termos pejorativos “esquerdomacho” ou “feministo”, porque defendo que os homens façam parte de movimentos feministas”.
  8. Ligia Helena (28 de outubro de 2016). «Lula chama mulheres do PT de “do grelo duro”. Você sabe o que isso significa?». M de Mulher. Consultado em 12 de julho de 2017
  9. Juliana Guarany (18 de março de 2016). «Por que política e misoginia combinam tanto?». Huffpost Brasil. Consultado em 12 de julho de 2017
  10. Laurie Penny (2 de novembro de 2013). «Laurie Penny on Brand, iconoclasm, and a woman’s place in the revolution» (em (em inglês)). News Statesman. Consultado em 12 de julho de 2017
  11. Quintino Gomes Freire (2 de maio de 2017). «Ex-companheira de Marcelo Freixo o acusa de machismo» (em (em inglês)). Diário do Rio. Consultado em 12 de julho de 2017
  12. Quintino Gomes Freire (3 de maio de 2017). «Freixo responde a acusações de machismo Consultado em 12/7/2017» (em (em inglês)). Diário do Rio
  13. Equipe Vice Brasil (5 de abril de 2017). «Mais feminista que eu? Um ranking dos maiores esquerdomachos do Brasil». Vice (revista). Consultado em 12 de julho de 2017

Outros links

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