A Tese da Startup. É hora de matar o Canvas

Édison Renato
6 min readOct 19, 2021

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19/out/21

10:06–10:46

Fiquei 2 dias sem escrever. Basicamente nesse meio tempo é curiosa a quantidade de pessoas que vieram falar que acompanham o que eu escrevo. Foram 5.

É meio chocante saber que tem 5 pesssoas me lendo. Parece uma coisa meio Agamenon, mas na verdade ter 5 pessoas — na verdade são mais, eu diria umas 15. 15 pessoas é mais gente para quem eu falo numa festa qualquer. Em termos de aula, é menos do que estou acostumado, já que em geral dou aula para 40. Mas aqui não é aula, e nas aulas não me abro nem metade do que faço aqui. A aula é uma coisa meio pronta já. Aqui é mais o processo e o que eu penso mesmo e dane-se. São 15 pessoas que tiram tempo de suas vidas, leem tudo que eu escrevo, e depois ficam pensando sobre e falando com outras pessoas. É meio chocante. Eu não sei se eu agradeço a preferência ou peço desculpas pelas merdas que escrevo. Acho que é melhor fazer as duas coisas…

Fim da divagação e início da diversão do dia.

Eu estou muito empolgado para falar de uma coisa que ando pensando e que hoje de manhã deu uma síntese na minha cabeça. Escutei um podcast muito bom que fala da cultura da Amazon de trabalhar de trás para frente a partir do press release e, principalmente, de produzir memos ao invés de PPT. Segue o link. O Podcast é uma entrevista com os autores de um livro que lançou mas eu não li ainda. Vou comprar agora.

É fato que a Amazon é uma empresa extremamente inovadora em diferentes níveis. E grande parte do que se credita a essa capacidade de inovação é que Jeff Bezos pedia que as pessoas escrevessem memorandos de 6 páginas para as reuniões, ao invés de fazer PPT+falações.

Eu já li a biografia do Jeff Bezos. E Jeff Bezos tem um QI na cada dos 180, fazendo dele uma pessoa bastante fora do comum. Portanto, não é todo mundo que vai topar fazer memos de 6 páginas dentro de uma average company. Sendo o dono, fica mais fácil impor a cultura de uma maneira que eu e meus outros 10 leitores não vamos conseguir fazer nos nossos ambientes de trabalho.

Será?

Além disso, o Bezos é introspectivo. Ainda não terminei de ler o Poder dos Quietos, mas juntando A com B faz sentido entender por que ele se dá melhor lendo do que ouvindo um monte de gente falar no ouvido dele.

E hoje de manhã pensei.

As pessoas com quem eu trabalho tendem a ser em maioria introspectivas. Não estou falando de alunos de graduação (onde tem de tudo), mas sim o perfil fundadores de startup deeptech, que hoje é a maior parte do portfólio a qual tenho acesso. Em geral são pessoas com doutorado, e a maior parte das pessoas com doutorado tende a ser introvertida ou no máximo ambivertida como eu.

No último post eu estava falando sobre cultura. E cultura sabemos que come a estratégia no café da manhã. Mas cultura sem rumo não tem resultado. Tem que ter cultura e tem que ter estratégia. Mas estratégia é uma palavra já usada para tanta coisa que ao mesmo tempo não é nada.

Então hoje aqui estou lançando a ideia de Tese de Startup.

Missão, Visão e Valores = mais cultura do que estratégia. BHAG (Big, Audacious, Hairy Goal) é onde queremos chegar. North Star = como vamos medir onde queremos chegar. MTP (Massive Transformation Purpose) = o que queremos provocar no mundo quando virarmos a próxima Fortune 500 company.

Para falar das coisas que tem disponíveis por aí no mundo das startups.

Nada disso é a Tese. A Tese tem isso, mas não é só isso.

De agora em diante vou trabalhar com a ideia de Tese de Startup com o nosso pessoal. A vantagem é que nosso pesssoal está acostumado com teses — já fizeram seus doutorados, em grande maioria. Mas a inspiração para a Tese de Startup não é a de doutorado, e sim a Tese de Investimentos que todo Venture Capital tem. E a Tese de Inovação que eu e meus colegas recomendamos que toda corporação tenha.

E a Tese, assim entendida, portanto, é mais do que definir o MTP ou o BHAG ou a North Star Metric ou, mais careta, a Missão, Visão e Valores. A Tese envolve tudo isso e mais o refinar do processo de como chegar lá. É algo vivo.

“Ah mas a Tese é o plano de negócio”.

Plano de negócio não é um documento vivo, é algo que alguém atualiza quando precisa mandar pra órgão de fomento.

Ou quando se está muito grande e vai começar a ter investidor menos versado em VC.

Plano de negócio é igual cronograma em projeto com escopo do tipo alvo móvel. É para inglês ver. Tese de Startup é igual diário de bordo, Grilo Falante, Commonplacebook (compartilhado), Bullet Journal (compartilhado) ou whatever the name you want to give. Já sabemos, por todos esses anteriores, que a pior coisa é brigar você com a sua cabeça. Pensamentos na cabeça são como o vilão nuvem. Você vai dar um soco e ele evapora. Pensamentos no papel é solidificar o vilão nuvem e poder ter um oponente e ao mesmo tempo um apoio contra o qual lutar. Qualquer um que escreve, sabe. A atividade de produzir uma startup é uma atividade ativa, mas também é, e muito, uma atividade reflexiva. Atividade ativa é uma palavra feia, mas é verdade. A Guerra pode ser em ato ou em potência. A guerra em potência é aquela que acontece na cabeça dos políticos, generais e da população como um todo. Como a Guerra Fria. É uma guerra, só não é em ato.

Isso é Clausewitz. Fiz uma matéria de guerra no doutorado.

Sábado estava discutindo com meu irmão sobre o quão melhor é a Marvel do que a DC. Ele é fã da DC. Concorda que nos filmes a Marvel é muito melhor, mas é um defensor da DC nos quadrinhos. Me perguntou qual saga da Marvel é marcante. Eu falei a de Ultron. E falei que a única coisa boa que a DC fez na história foi a morte do Superman.

Pois bem, senhoras e senhores. É chegada a hora de matar o Canvas.

Vai ter quem prefira continuar fazendo Canvas, colocar num PPT e gastar uma energia infinita batendo papo em reunião. Lutando contra o dragonzord do vilão nuvem, que é quando você junta um monte de ideias de um monte de gente e não tem um papel, um quadro branco ou um sei lá o que para ancorar. E o Canvas, senhoras e senhores, não é âncora o suficiente. O Canvass você mete umas 3 palavrinhas e o resto fica morando na cabeça das pessoas. Write a (fucking) 6 page memo and have a fixed target to fight against.

Eu detesto reunião e detesto sobretudo reunião presencial longe da minha casa. A desvantagem de morar no Pechincha é que ninguém quer vir aqui, sempre sou eu que tenho que ir para a Zona Sul e o Centro do RJ. Hoje acabei de negar uma no centro semana que vem, apesar de ser uma coisa bacana com gente bacana. Mesmo assim, not anymore. Not anymore para ir à Zona Sul e o Centro a menos de coisas MUITO MUITO MUITO específicas. Mas principalmente e antes de tudo not anymore para fazer PPT e gastar um tempo enorme discutindo numa reunião que no final vai dar só uns 10% de ação ou de reflexão consolidada útil, daquelas que te faz enxergar diferente.

Write a (fucking) Memo. Jeff Bezos and ALL AMAZON FOLKS did it. So can I. And so can you.

Até porque eu trabalho com introspective founders with a PhD. E introspective founders with a PhD foram treinados a escrever, e a pensar escrevendo, desde criancinha.

Só que agora vai ser sobre a Tese da Startup.

Em breve mais novidades.

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Édison Renato

O que eu gosto mesmo é de aprender, ler e escrever. E ainda sou pago para isso como professor na UFRJ…