#ALEPH2016 – O QUE VEM POR AÍ

Parte I: Clássicos da Ficção Científica

Aleph
12 min readJan 28, 2016

Por Anderson Tiago, do INtocados

A Aleph publicou recentemente um ABDUÇÃO sobre os prováveis lançamentos de 2016. Deixando sempre claro que podem ocorrer modificações no cronograma, devido aos inúmeros fatores que compõe a produção de um livro, o Grão-Almirante Adriano Fromer e o Space Publisher Daniel Lameira falaram sobre as próximas publicações da editora.

A lista provocou fortes emoções nos leitores, sejam aqueles que já aguardavam alguns desses títulos ou que ficaram felizes em descobrir que essas obras, clássicas ou contemporâneas, ganhariam uma edição nacional em alto padrão de qualidade.

Neste texto irei comentar um pouco sobre cada livro citado no vídeo, além de incluir alguns títulos que não foram mecionados, mas que já foram confirmados pela editora. Por se tratar de uma grande quantidade de livros, resolvi dividir o artigo em três partes: Clássicos da Ficção Científica; Ficção Científica/Fantasia Contemporânea e Biografias; Star Wars/Star Trek, franquias e novelizações.

Bem-vindos à primeira parte. Espero que apreciem a jornada a bordo da S.S. Aleph com a missão de trazer esses clássicos da ficção científica e fantasia de volta para o futuro.

Estranho Numa Terra Estranha
Robert A. Heinlein

Capa da edição norte-americana

Michael Valentine Smith é um ser humano criado em Marte, recém retornado ao planeta Terra. Pela primeira vez entre os de sua própria espécie, ele sente dificuldades em entender as estranhas convenções sociais e preconceitos da natureza humana.

Promovido muitas vezes como o mais famoso livro de ficção científica já escrito, a ideia de Estranho Numa Terra Estranha surgiu de uma conversa do autor com a sua esposa, onde ela teria sugerido uma releitura de O Livro da Selva, de Rudyard Kipling, com a diferença de que criança seria criada por marcianos no lugar de lobos.

Heinlein usa a história de Valentine Michael Smith, um humano nascido e criado em Marte, para abordar temas como individualismo, libertarismo e o amor livre, além de questionar os preconceitos e a falsa moral da nossa sociedade.

Além de todo o seu valor literário, o título ainda traça uma estranha dicotomia com outro livro do autor publicado pela Aleph, Tropas Estelares. Não são poucos os leitores e críticos que se debruçam sobre as diferenças dessas duas obras de Heinlein. E mesmo para eles é difícil afirmar como um autor que defendia ideais conservadores, militarismo e uma defesa à democracia condicional em Tropas, poderia se tornar um dos autores favoritos de um movimento de contracultura dos anos 60 que quebrava tabus sobre estereótipos de gênero e de moralidade sexual.

Imperador Deus de Duna
Frank Herbert

Capa da edição de Portugal

Mais de 3.500 anos se passaram desde os eventos de Duna. Apenas uma conexão com esses tempos tumultuosos sobrevive: a grotesca figura de Leto Atreides, filho do profeta Paul Muad’dib, e agora o praticamente imortal Imperador Deus de Duna

Leto Atreides realizou o sacrifício final que seu pai não conseguiu realizar, abrir mão da sua humanidade para se tornar um híbrido de humano e verme da areia, e assim, se tornar o governante tirano e imortal de Duna. Mas o que se esconde por trás de sua tirania, e quais seriam as suas reais intenções? O livro aborda a natureza do despotismo e o conceito de um governo autoritário como meio para uma sociedade melhorada.

O Imperador Deus de Duna é certamente o livro mais controverso das Crônicas de Duna, dividindo as opiniões dos leitores que afirmam que ele é o melhor e o pior livro da série em iguais proporções.

Um Reflexo na Escuridão (A Scanner Darkly)
Philip K. Dick

A Substância D é a droga mais letal já encontrada nas ruas de Los Angeles. Ela destrói as conexões entre os hemisférios do cérebro, causando desorientação, e depois, dano cerebral irreversível. O agente infiltrado da narcóticos que atende pelo nome de Bob Arctor tenta a todo custo descobrir a fonte da droga. No entanto, para fazer isso ele tem que se disfarçar de usuário e, sem perceber, acaba se tornando tão dependente quanto os drogados que ele investiga.

Um Reflexo na Escuridão, um dos livros mais conhecidos de Dick, é, na realidade, de uma natureza semi-autobiográfica. O autor nunca escondeu de ninguém que as suas próprias experiências como dependente de anfetaminas inspiraram não só o conceito, mas também vários eventos da obra. Esse relato magistral da psicose, esquizofrenia, e da perda da própria identidade é dedicado a várias pessoas que ele conheceu e que perderam suas vidas ou tiveram a sanidade danificada pelo consumo de drogas.

Em 2006, a obra recebeu uma adaptação para o cinema com Keanu Reeves, Winona Ryder e Robert Downey Jr. O filme chegou ao Brasil como O Homem Duplo, nome que também foi usado na publicação do livro pela Editora Rocco no ano seguinte.

Martian Time-Slip
Philip K. Dick

Capa da edição Americana

A única coisa mais importante que a água na árida colônia de Marte pode ser um garoto esquizofrênico de dez anos de idade chamado Manfred Steiner. O líder do Sindicato dos Trabalhadores da Água, Arnie Kott, suspeita que a doença de Steiner seja um janela para o futuro, e pretende usá-lo para os seus próprios fins.

Outro livro de Philip K. Dick que também aborda a paranoia, esquizofrenia, além de outros temas como racismo, vida familiar, ganância, autismo, e os mistérios do ser e do tempo, é Martian Time-Slip. O autor apresenta a vida social, política e econômica de uma colônia terrestre em Marte com ecos dos processos de colonização da nossa própria história.

Muitos dos fãs de Dick, e o próprio autor, consideram esse título um de seus trabalhos favoritos. Ele, inclusive, teria dito que se tivesse que escolher um de seus livros para sobreviver a uma Terceira Guerra Mundial, ele seria o Martian Time-Slip.

Um Reflexo na Escuridão e Martian Time-Slip se juntam a outros livros do autor no catálogo da Aleph, entre eles: Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?; O Homem do Castelo Alto; VALIS; Ubik; Os Três Estigmas de Palmer Eldritch; Realidades Adaptadas; e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial.

Pebble in the Sky
Isaac Asimov

Capa da edição Americana

Em um instante Joseph Schwartz é um feliz alfaiate aposentado em Chicago, 1949. No seguinte, ele é um forasteiro desamparado no apogeu do primeiro Império Galáctico, centenas de milhares de anos no futuro.

Pebble in the Sky é, apenas, o primeiro livro do grande mestre Isaac Asimov. Como se isso não fosse suficiente, ele também lançou os alicerces do Império Galáctico que culminaria na publicação do clássico Fundação.

Na extensa bibliografia de Asimov, Pebble in the Sky faz parte da Trilogia do Império Galáctico junto aos livros The Stars Like Dust e The Currents of Space, apesar de todos poderem ser lidos de forma independente. A Aleph pretende publicar os outros dois títulos da trilogia em um futuro breve.

Na obra, acompanhamos o alfaiate aposentado Joseph Schwartz em sua viagem acidental ao futuro. Incapaz de se comunicar, ele acaba se tornando cobaia de um experimento científico que lhe confere estranhos poderes, enquanto descobre o terrível futuro que aguarda o planeta Terra.

A leitura de Pebble in the Sky é considerada bem mais leve em relação aos trabalhos posteriores do autor, e pode ser uma introdução perfeita à obra de Asimov para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler algo do grande mestre da ficção científica.

Robôs e o Império
Isaac Asimov

Capa da edição de Portugal

Muito tempo depois de sua humilhante derrota nas mãos do detetive Elijah Bailey, Keldon Amadiro inicia um plano para destruir o planeta Terra. No entanto, mesmo após a sua morte, os ideais de Bailey continuam a guiar o seu parceiro robô R. Daneel Olivaw.

O quarto e último livro da Série dos Robôs de Asimov não foi mencionado no vídeo, mas será lançado no segundo semestre. É em Robôs e o Império que o autor se aprofunda nas conexões entre a Série dos Robôs com a Trilogia do Império Galáctico, e assim por sua vez, com Fundação, unificando-as em uma grande saga que se estende por centenas de milhares de anos.

A trama de Robôs e o Império acontece quase 200 anos após o seu antecessor, Robôs da Alvorada, e acompanha o robô R. Daneel Olivaw, ex-parceiro de Elijah Bailey, o protagonista dos outros três livros da série. Daneel mais uma vez precisa impedir o roboticista Kelden Amadiro e uma ameaça que pode destruir o planeta Terra.

A Fall of Moondust
Arthur C. Clarke

Capa da edição norte-americana

Quando um acidente afunda um cruzador turístico em um mar de poeira lunar, o capitão Pat Harris e sua comissária Sue Wilkins terão que fazer de tudo para manter os passageiros em segurança, enquanto cientistas de Terra e da Lua tentam desesperadamente encontrá-los.

A Fall of Moondust, de Arthur C. Clarke, é a mistura perfeita entre thriller de sobrevivência e ficção científica hard. A trama contém altas doses de tensão e drama psicológico, assim como as teorias e hipóteses científicas tão presentes nas obras do autor. O livro foi muito bem recebido, sendo inclusive indicado ao prêmio Hugo e considerado “o melhor trabalho de Clarke” pelo também autor John Wyndham, autor de The Midwich Cuckoos, livro que inspirou o filme A Cidade dos Amaldiçoados.

Em algumas da resenhas que li, me deparei com comparações entre A Fall of Moondust e o best-seller contemporâneo Perdido em Marte, escrito por Andy Weir e adaptado para o cinema por Ridley Scott. Embora o livro de Clarke não tenha encontrado o seu caminho para as salas dos cinemas, ele recebeu uma adaptação para o rádio pela BBC em 1981.

Os Despossuídos
Ursula K. Le Guin

Capa da edição Americana

Shevek é um brilhante físico em busca de respostas, questionando o inquestionável, e tentando derrubar as barreiras do ódio que separam o seu planeta do resto do universo. Para isso ele terá que viajar até o planeta Urras e desafiar as complexas estruturas da vida e do viver.

Ursula K. Le Guin é um dos maiores nomes da literatura fantástica de todos os tempos. A autora passeia pelos subgêneros da fantasia e ficção científica como poucos, mas é nesse último que toda a sua genialidade é mais aparente.

Os Despossuídos é uma história de ficção científica utópica ambientada no mesmo universo de A Mão Esquerda da Escuridão, outra grande obra de Le Guin publicada no Brasil pela Aleph. O livro, ganhador de prêmios como o Nebula, Locus e Hugo, aborda temas como anarquismo, capitalismo, individualismo, coletivismo, sociedades revolucionárias, e a linguagem como moldadora do pensamento e da cultura de um povo.

O brilhante físico Shevek foi convidado para participar de uma pesquisa científica. Para isso, ele deve viajar do seu mundo, a lua Anarres, para o planeta Urras. As duas civilizações tem um passado em comum, mas governos totalmente diferentes. Enquanto Anarres vive em um anarco-comunismo, Urras é essencialmente capitalista e, por sua vez, cada um acredita que seu modelo é o ideal. Os outros cientistas de Urras fazem de tudo para subverter Shevek, mas ele tem outros planos.

Apesar de ser o quinto livro publicado no Ciclo Hainish, Os Despossuídos é o primeiro livro na ordem cronológica dos acontecimentos, embora a própria autora advogue que não exista um ordem correta de leitura.

Cama de Gato
Kurt Vonnegut

Capa da edição Americana

Dr. Felix Hoenikker, um dos ‘pais’ da bomba atômica, deixou um legado mortal para o mundo. Ele é o inventor do ‘gelo-nove’, uma substância química letal capaz de congelar todo o planeta. A busca por essa substância nos leva aos três excêntricos filhos de Hoenikker, a um ditador louco no Caribe, e à loucura.

Como o título oriundo da brincadeira de utilizar um elástico para criar as mais diferentes formas com o auxílios das mãos e dos dedos, Cama de Gato é uma verdadeira sátira à Guerra Fria e a triste capacidade do ser humano de descobrir usos destrutivos para tecnologias que deveriam ser usadas para melhorar as suas vidas.

A ideia para Cama de Gato surgiu de um trabalho que o autor realizou entrevistas com vários cientistas. Vonnegut percebeu, então, que os próprios cientistas não sem importavam tanto com os usos que seriam dados as suas próprias descobertas. A ameaça nuclear da Guerra Fria, principalmente a Crise dos Mísseis de Cuba, também são apontados como influências da obra.

Solaris
Stanislaw Lem

Capa da edição de Portugal

Kris Kelvin viaja ao planeta Solaris para estudar o oceano que cobre toda a sua superfície. O que ele não sabe é que o próprio oceano, através de suas culpas e memórias mais secretas, também os estuda.

Stanislaw Lem explora os limites da alteridade com essa verdadeira aula de filosofia em forma de romance de ficção científica. A temática do contato entre os humanos e outras raças alienígenas sempre foi muito utilizada no gênero, mas Lem, no entanto, leva isso a um outro nível quando introduz o oceano de Solaris, um ser tão alienígena, tão incompreensível para nossa consciência humana, que qualquer resposta nunca será totalmente compreendida, principalmente aquelas que causam tanta dor e sofrimento.

Solaris já foi adaptado três vezes para o cinema, sendo as mais conhecidas, a clássica versão de 1972, dirigida por Andrei Tarkovsky; e a mais recente, dirigida por Steven Soderbergh, produzida por James Cameron e protagonizada por George Clooney.

A edição nacional de Solaris será traduzida direto do original em polonês.

The Forever War
Joe Haldeman

Capa da edição norte-americana

O recruta William Mandella deseja apenas cumprir os seus deveres, sobreviver a guerra contra os Taurans e voltar para casa. No entanto, essa ‘casa’ pode ser ainda mais assustadora do que as batalhas, já que, graças a dilatação do tempo causada pela viagem espacial, enquanto na Terra passaram-se séculos, para Mandella foram só alguns meses.

Considerado por muitos uma resposta a Tropas Estelares, de Robert A. Heinlein, The Forever War é uma ficção científica militar que desmistifica vários clichês do soldado herói e pinta um quadro mais vívido da guerra e das suas consequências. O autor Joe Haldeman utilizou de toda a sua experiência como combatente na Guerra do Vietnã para trazer um relato fiel dos combates e das dificuldades de um soldado em se reinserir na sociedade. O livro foi tão bem recebido que ganhou os três maiores prêmios da literatura fantástica: Locus, Nebula e Hugo.

The Forever War é o primeiro livro da série homônima, embora o volume seguinte, Forever Peace, não seja uma continuação propriamente dita. O terceiro livro da série, Forever Free, no entanto, é uma continuação direta de The Forever War.

Nós
Yevgeny Zamyatin

Capa da edição norte-americana

No Estado Único do grande Benfeitor não existem indivíduos, apenas números. A vida é um processo constante de precisão matemática. As paixões e os instintos foram subjugados. A própria natureza foi banida para além da Muralha Verde.

O livro foi finalizado pelo autor russo Yevgeny Zamyatin em 1921, mas só foi publicado em 1924 nos Estados Unidos em tradução para o inglês. A obra, no entanto, só foi publicada em sua língua original em 1988 durante os anos finais da União Soviética. Nós é considerado, junto com O Tacão de Ferro de Jack London, o predecessor das distopias satíricas futurísticas. Zamyatin influenciou nomes como George Orwell, Kurt Vonnegut, Ursula K. Le Guin, Vladimir Nabokov e, principalmente, Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo, embora o autor negue veementemente.

Nós foi escrito baseado nas experiências de Zamyatin nas duas grandes revoluções russas, em 1905 e 1917, e descreve uma sociedade totalitária, praticamente prevendo as mudanças políticas que tomariam lugar no país natal do autor com a ascensão de Stálin ao poder.

E aí, qual desses títulos você está mais ansioso para ler? Comente abaixo :) A Parte II será publicada na próxima semana.

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