O PARADOXO DA TOLERÂNCIA

RED ARMY CAT
5 min readJan 21, 2024

Popper introduziu o conceito do “Paradoxo da Tolerância” como uma resposta aos movimentos totalitários do século XX e como uma reflexão sobre os limites da tolerância em uma sociedade democrática.

Popper questiona-se se uma sociedade deve ser totalmente tolerante com opiniões e grupo que, em sua essência, são intolerantes. Argumenta que para manter uma sociedade aberta e democrática, é necessário ser intolerante com movimentos e ideias que buscam destruir essa mesma sociedade,

São estes questionamentos que levam o filósofo Karl Popper a formular o “paradoxo da tolerância”.

Karl Raimund Popper (Filósofo liberal e professor austro-britânico)
Karl Raimund Popper (Filósofo liberal e professor austro-britânico.)

Contexto Histórico

Karl Popper definiu o “paradoxo da tolerância” durante a Segunda Guerra Mundial, período marcado por conflitos intensos e ideologias extremas. O filosofo estava vivendo em um momento histórico de grande intolerância e violência, o que provavelmente influenciou na sua reflexão sobre a tolerância e sobre a necessidade limites para proteger uma sociedade aberta.

Introdução à Liberdade de Expressão e Tolerância

A liberdade de expressão é um principio fundamental que protege o direito das pessoas de expressar as suas opiniões, pensamentos e ideias livremente, desprovidos de censura ou restrições.
É considerada um pilar da sociedade democrática e está consagrada no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1989, que afirma o seguinte:

“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”

Embora seja um princípio valioso, existem limites legais e éticos para este direito, que acaba quando começa o direito de outro cidadão, ou seja, quando é usada para ofender, caluniar, difamar, ameaçar, etc…

A tolerância refere-se à capacidade de aceitar e respeitar diferenças, opiniões, crenças ou práticas que podem ser contrárias às próprias. Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação da diversidade e inclusão. Não implica concordar com as diferenças mas sim em permitir que existam e se expressem sem hostilidade ou discriminação.

Ser tolerante implica reconhecer, respeitar e compreender as diferenças, distinguindo-se da indiferença.

PICTOLINE | Traduzido por SAGANISTAS

Questionamentos de Karl Popper

Até que ponto existe liberdade de expressão? Mas e se essa opinião tiver como pano de fundo justamente a intolerância? Quando ela incita a violência e o ódio? Deveríamos ser tolerantes ao intolerante?

A tolerância ilimitada pode ter consequências paradoxais, levando ao desaparecimento da própria tolerância. Se a sociedade estender a tolerância até mesmo aos intolerantes e não estiver disposta a se defender, os próprios tolerantes podem ser destruídos, e com eles, a própria tolerância. Popper sugere que a tolerância não pode ser estendida a ponto de permitir a ascensão de ideologias ou movimentos intolerantes, caso contrário, os valores tolerantes podem estar em risco.

Para Karl Popper, ao aceitarmos os intolerantes, os tolerantes podem ser levados a destruição:

“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”

PICTOLINE | Traduzido por SAGANISTAS

Mas então, como defender a sociedade frente à intolerância? A resposta do filosofo, indica que para enfrentar a intolerância, devemos usar argumentos sólidos, mantê-las sobre escrutínio público através de argumentos racionais, sugerindo que a supressão direta seria, sem dúvida, uma medida imprudente.

A ideia é que, se a sociedade for capaz de desafiar e refutar as filosofias intolerantes por meio do diálogo e da razão, é preferível permitir que essas ideias sejam discutidas publicamente. Devemos confiar na capacidade do debate racional e na consonantização pública para deslegitimar e contrapor tais filosofias, em vez de recorrer imediatamente à supressão por meio de restrições legais ou outras formas de intervenção mais direta:

“Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes; desde que possamos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em xeque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente.”

A resistência contra as filosofias intolerantes não deve ser descartada como uma opção, particularmente quando essas filosofias respondem com violência. Em outras palavras quando confrontado com grupos ou ideologias intolerantes e que recorrem à violência para impor as suas visões, é justificável reagir de forma incisiva para defender os princípios fundamentais de uma sociedade democrática.

“Mas devemo-nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força; pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, ao começar por criticar todos os argumentos e proibindo seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são enganadores, e ensiná-los a responder aos argumentos com punhos ou pistolas.”

A Intolerância ao longo da história

Ao longo da história foram registrados diversos exemplos que ilustram o paradoxo da tolerância descrito por Karl Popper.

A ascensão do Partido Nazista na Alemanha durante a década de 1930 é um exemplo clássico desta tolerância à intolerância. A sociedade alemã, que era democrática e tolerante, permitiu a ascensão de um partido que promovia a intolerância, resultando na perda de direitos civis e na perseguição de minorias.

Esta tolerância à intolerância levou ao que chamamos atualmente de Segunda Guerra Mundial, que levou à morte de 70–85 milhões de pessoas.

Pensamentos Finais

O paradoxo da tolerância levanta a questão de até que ponto é que ideias intolerantes devem ser toleradas, mesmo quando infringem, ofendem ou promovem algum tipo de violência contra as liberdades individuais ou de grupos. A complexidade desse questionamento contribui para a natureza paradoxal do fenômeno.

Em última análise, o equilíbrio entre a tolerância e a proteção contra intolerância emerge como um desafio crucial para a preservação dos valores democráticos e da coexistência pacífica.

PICTOLINE | Traduzido por SAGANISTAS

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