Uma família feita de anjos

Eduarda Carolina Oliveira
Cyberfam Vespertina
2 min readMay 30, 2016

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Em uma pequena sala da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos frutos de Maria Ribeiro da Silva Tavares relembra os momentos em que passou ao lado da criadora da Fundação Patronato Lima Drummond. Ele também compartilhou o mesmo teto com que tantos detentos tiveram o privilégio. É com carinho que fala da igualdade com que eram tratados todos os moradores da casa. Que no início pequena em tamanho, era grande em vontade de fazer e no coração de Maria Tavares. Lá, todos compartilhavam dos mesmos espaços, comiam do mesma comida e recebiam o mesmo carinho.

Uma grande família começou a se formar quando guiando o carro pela Avenida Ipiranga, Maria encontra a mãe de um detento da então Casa de Correção. Comovida com a história, ela dá início ao projeto que levará até os 102 anos de idade. Não foram apenas as duas crianças que trouxe de pelotas para Porto Alegre os filhos de Maria. Mas sim, ela os foi encontrando e acolhendo ao longo da vida.

Aos 39 anos de idade, Carlos Schönerwald é Doutor em Economia pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos. Ele foi filho de Maria Tavares duas vezes, já que assim se denominam os netos. Morando no terceiro andar da casa, cresceu tendo contato com a grande família. Na adolescência, quando os amigos de Carlos visitavam o patronato, tinham desmistificada a imagem de que detentos apenas podiam fazer o mal. “Todos são seres humanos”, é um dos ensinamentos que marcaram a vida de Carlos.

Mas não apenas aos filhos e netos os ensinamentos foram passados. Todos que vivenciaram o ambiente do Patronato e viram a dedicação de dona Maria, eram contaminados com uma aura do bem. Esse acredita-se ser um dos motivos para o qual o trabalho que ela exerceu tenha atingido tanta gente. Tenha ajudado tanta gente e continue repercutindo e fazendo com que cada vez mais pessoas conheçam a história. Em vida, ela infelizmente não escolheu ninguém apto o bastante para que continuasse o legado como diretora. Não que fossem ruins, aliás, como ela mesma dizia, “todos são bons”. Mas não viu em ninguém a paixão e, mais do que isso, a compaixão que ela possuía quando ainda jovem deu início ao projeto pioneiro.

Maria Tavares nem sempre contou com o apoio da família. Viúva, veio para a capital contra a vontade do avô. Para abrigar mais filhos, os anjos, gastou o valor da herança que recebeu do pai construindo a Fundação Patronato Lima Drummond. Os filhos não apenas apoiaram, como adotaram a causa da mãe. O neto Carlos, foi presidente da Fundação de 2009 a 2011. Até hoje, ele e o pai são membros do Conselho da Fundação, e pretendem conduzir o projeto que ela dedicou a vida com o mesmo espírito que foi criado.

Hoje, sem a “vó”, a saudade é grande. Mas a felicidade em saber a mulher que ela foi é o consolo que preenche o coração de todos, absolutamente todos. Filhos, netos e anjos.

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Eduarda Carolina Oliveira
Cyberfam Vespertina

Estudante de jornalismo pela PUCRS. Apaixonada por histórias não contadas e pessoas não conhecidas.