Réquiem para Carvãozinho

Vidas Rejeitadas
1 min readOct 25, 2024

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Esse texto é apenas um réquiem para meu irmão Carvãozinho. Um dos meus gatos. Parte da minha família. Que faleceu hoje. Ele precisava descansar.

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Ei, gato preto.

Então chegou a hora, né? Achei que, não sei, achei que nunca fosse chegar a hora. Dizer tchau é impossível. Deixar você aos cuidados alguém que nem posso ver. Não sei. Não parece certo. Mas nada é certo nesse momento.

Ei, gato preto. Espera aí.

Tô falando contigo.

É.

Eu sei.

Ei, gato preto. Eu lembro que você cabia na minha mão. E depois passou a reclamar. Sabia falar direitinho. Não. Era sua palavra favorita. Não. Mesmo quando queria dizer Sim.

Ei, gato preto.

É madrugada. Tá afim de conversar a essa hora? Eu tô com sono também.

Tá.

Vamos conversar.

Ei, gato preto. Não precisa brigar. Não precisa ser chato. Esse teu rosto de ursinho não tem marra nenhuma.

É.

Deita aí.

Descansa.

Ei, gato preto.

Eu estou com saudade.

Ei. Tá na hora de dormir.

Descansa. Vou estar aqui, mesmo se você não acordar.

Ei, gato preto.

Eu estou aqui.

Não vou embora.

Pode dormir.

Beleza, ursinho marrento. Beleza. Pode dormir. Eu… eu vou ficar bem. Vou ficar acordado. Vou esperar a minha hora de dormir. Depois, na terra dos sonhos, a gente se vê. Pode demorar. Eu sei. Pode demorar. Mas a gente vai se ver.

Ei, gato preto.

Bons sonhos.

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Written by Vidas Rejeitadas

Eduardo Andrigo | Deficiente visual | Autor e roterista

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