Réquiem para Carvãozinho
Esse texto é apenas um réquiem para meu irmão Carvãozinho. Um dos meus gatos. Parte da minha família. Que faleceu hoje. Ele precisava descansar.
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Ei, gato preto.
Então chegou a hora, né? Achei que, não sei, achei que nunca fosse chegar a hora. Dizer tchau é impossível. Deixar você aos cuidados alguém que nem posso ver. Não sei. Não parece certo. Mas nada é certo nesse momento.
Ei, gato preto. Espera aí.
Tô falando contigo.
É.
Eu sei.
…
Ei, gato preto. Eu lembro que você cabia na minha mão. E depois passou a reclamar. Sabia falar direitinho. Não. Era sua palavra favorita. Não. Mesmo quando queria dizer Sim.
…
Ei, gato preto.
É madrugada. Tá afim de conversar a essa hora? Eu tô com sono também.
…
Tá.
Vamos conversar.
…
Ei, gato preto. Não precisa brigar. Não precisa ser chato. Esse teu rosto de ursinho não tem marra nenhuma.
É.
Deita aí.
Descansa.
…
Ei, gato preto.
Eu estou com saudade.
…
Ei. Tá na hora de dormir.
Descansa. Vou estar aqui, mesmo se você não acordar.
…
Ei, gato preto.
Eu estou aqui.
Não vou embora.
Pode dormir.
Beleza, ursinho marrento. Beleza. Pode dormir. Eu… eu vou ficar bem. Vou ficar acordado. Vou esperar a minha hora de dormir. Depois, na terra dos sonhos, a gente se vê. Pode demorar. Eu sei. Pode demorar. Mas a gente vai se ver.
Ei, gato preto.
Bons sonhos.